quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Todos os cheiros

Jorge Adelar Finatto


Os cheiros trazem de volta emoções que ficaram guardadas no sótão da memória.

Entrar no Mercado Público de Porto Alegre, à margem do Guaíba, é fazer uma viagem através do mundo de fragrâncias que nos remetem a sentimentos e tempos distantes. Da infância eu recordo de coisas ali compradas que eram empacotadas com papel e barbante. Cada uma chegava em casa com seu  odor característico. Assim a erva do chimarrão, o café de Minas Gerais, o bacalhau norueguês, o cacau da Bahia, o camarão e o peixe da cidade de Rio Grande. Lembro das idas ao mercado e do contato com aquele universo de cheiros e mil produtos expostos.

Um dia desses retornei ao mercado público e fiquei por lá um pedaço da tarde. Fui atrás de especiarias espirituais que não tardaram a se revelar. Encontrei no ar toques de cravo e canela, vestígios de peixe, baunilha, vinhos, charque, hortelã, cidreira, limão,  manjerona, madeira, melão e por aí vai. Um encantador mosaico olfativo habita aquelas bancas e corredores.

Caminhei naquele movimento colorido como nos tempos de menino, gente indo e vindo, os vendedores falando com os visitantes - e não apenas sobre compra e venda de mercadorias -, como sempre se fez em todos os mercados do mundo, em todas as épocas,  menos, claro, na frieza e dura objetividade do shopping moderno.

Na verdade, quando entrei no mercado público, acho que fui atrás do guri que eu fui.

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Foto: site da Prefeitura Municipal de Porto Alegre:

http://www2.portoalegre.rs.gov.br/mercadopublico/

2 comentários:

  1. Tenho muita simpatia pelo Mercado, também, Adelar.
    Ele é um pedaço de Porto Alegre antigo que te transmite afabilidade e segurança, realmente, muito diferente dos shoppings-centers sem alma.
    Quando vou a outras cidades, gosto de conhecer os mercados locais. Em Curitiba, em Sampa, em Beagá, existem mercados públicos muito interessantes, também.
    As especiarias que aguçam nosso olfato, de fato, trazem lembranças, nos remetem a uma pausa no tempo da modernidade.Que beleza que, ainda, temos direito a isso...

    Abraço.

    Ricardo Mainieri

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  2. Ricardo, Caro poeta,

    é verdade, no mercado a gente encontra o espírito da cidade, o que não acontece no shopping center.

    Não é que a gente seja velho... longe disso! Apenas conhecemos a cidade há mais tempo.

    Abraço.

    JF

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