domingo, 21 de novembro de 2010

Abro o jornal de manhã

Jorge Adelar Finatto

Aos 54 anos, o escritor se despede "para tentar reunir os estilhaços" em que se despedaçou com o passar do tempo, na tentativa de "ver se ainda é possível recompor com eles alguma unidade". Longe dos livros - "sobretudo dos melhores" - e também das cartas, jornais, revistas, televisões, dos amigos e da própria família, Suassuna tentará livrar-se dos "sonhos, quimeras e visões às vezes até utópicas da vida e do real", que o atormentam há algum tempo. (Folha de São Paulo, 16.8.1981)


Abro o jornal de manhã
com aquela notícia: Ariano Suassuna
                                  calou-se pro mundo

o silêncio enche os corações
lota os teatros
embrenha-se entre as anotações
invade as estantes

felino
enovela-se a um canto da sala
gotejando sangue pelos ouvidos

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Poema do livro Claridade, Prefeitura Municipal de Porto Alegre, Editora Movimento, Porto Alegre, 1983.

2 comentários:

  1. Quando li este poema, anos atrás, pensei que Adriano Suassuna havia se suicidado.
    Hoje, vejo que ele continua consciente & forte, do alto de seus oitenta anos.
    Tive a felicidade de conhecer uma poetisa paraíbana, sua prima.
    O Nordeste é muito inteligente, não o que dizem seus detratores paulistano.

    Abraço.


    Ricardo Mainieri

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  2. Ricardo amigo,

    ainda bem que o Ariano nunca se matou, apesar do poema...

    O Romance da Pedra do Reino, dele, é uma obra-prima.

    Grande abraço.

    JF

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