terça-feira, 25 de janeiro de 2011

O peixe da boca vermelha

Jorge Adelar Finatto


A caminhada polifônica destina-se não apenas ao exercício do corpo como à indispensável atenção às coisas do espírito.

A observação dos seres vivos e da paisagem, a aproximação estética e sensorial  da mãe natureza, a respiração do ar limpo e fresco nas manhãs (ou tardes), a descoberta de inefáveis epifanias durante o percurso, tudo isso faz parte da polifonia andante.


Andava eu nas cercanias do Lago da Neblina, em Passo dos Ausentes, prevenido com a invencível Coruja, a vetusta máquina fotográfica que me acompanha.

Os gansos desistiram de acusar a minha presença. Sabem que sou apenas um caminhante que está só de passagem, um sujeito inofensivo, que anda a bordo de um chapéu de palha branco, com grossas e estapafúrdias lentes nos óculos, catando o invisível.

Um indivíduo assim não oferece risco à fauna e à flora, quiçá a si mesmo.


Nas margens e dentro do lago existe vida pulsante. Estava eu olhando o vazio (essa maneira de encontrar, talvez, o inesperado) quando ouvi um vago rumor na água.


Foi quando me apareceu o amigo (ou amiga) dessas fotos.


Um peixe branco, a boca pintada de vemelho, com traços coloridos espalhados pelo corpo, cerca de 1 metro de comprimento, passou a navegar perto de mim.

Tive a impressão de que sabia da sessão de fotos, ao menos não poupou poses e movimentos. Chegou-se mais para a beira, mas não tão próximo que não pudesse ativar um plano emergencial de fuga caso isso fosse necessário. Não foi.




O peixe da boca vermelha quis dizer alguma coisa com sua presença, e acho que conseguiu. Encheu de beleza a tarde (e o meu coração).



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Fotos: J. Finatto

2 comentários:

  1. Grande Adelar, como andas? Não sei se você se lembrará desse bardo que vos escreve, mas trocamos algumas cartas nos longínquos anos oitenta. Fico feliz de saber que não abandonaste a lida com a luta inútil, mas fundamental. Dê uma olhadinha em meu blog, toque tambores, faça sinais de fumaça, mas dê notícias. Abração.
    Wellington Diniz.

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  2. Caríssimo Wellington, como vai, meu amigo?

    Que grande alegria manter esse contato depois de tantos anos, meu Deus, quanto tempo!
    Esse contato me faz muito feliz.
    Visitei o teu blog e nele encontrei belos conteúdos, sensibilidade e delicadeza.
    Não vamos nos perder depois desse encontro!

    Um senhor abraço.

    Adelar

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