sexta-feira, 20 de maio de 2011

O alfarrabista e as florestas do mundo

Jorge Adelar Finatto


O instante é este pedaço de eternidade. Traço essas linhas enquanto olho pela janela, o vento nas folhas do arvoredo em volta da casa. A lenha queima na lareira, a chama ilumina e aquece. Escrever é um jeito de participar da vida. E é bom ficar assim, sentindo o movimento do planeta em seu giro pelo universo. Neste recanto de montanha, nessa hora tardia, um pouco de sossego no coração.

Há muitos bons livros que nunca lerei, idiomas bonitos que não aprenderei, cidades e ruas que não terei tempo de visitar. Há pessoas com quem jamais trocarei uma só palavra. É estranho pensar nisso.

A partilha da solidão entre todos os seres. Não será menos solitário o alfarrabista enquanto espera entre as florestas de livros. Livros que esperam nos bosques das estantes. Autores e livros à espera de quem os descubra e os ame. Existe solidão abissal em não ser descoberto nem amado.

Nessa hora longínqua, de noite fria lá fora, folhas caindo no pátio, preciso acreditar que há amor para todos. Neste momento, o que escuto é a bela música da vida.

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Foto: J. Finatto
 

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