segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Ao que parte

Jorge Adelar Finatto

photo: j.finatto

Um pedaço de ti rompe a neblina.
                                         Carlos Drummond de Andrade 

Quem te acolherá
na distante cidade
que agora dorme
emoldurada
sob antigas luzes
abandonada
em si mesma?

atravessas o Atlântico
e gotas do mar
grande mar da diáspora
enchem teus olhos

quem tocará tua face
quando lá chegares
insone e áspero
no meio da ventania?

na cidade estrangeira
haverá alguém
esperando
em solidária vigília?

dói a memória
dos que partiram
e partindo perderam-se
no sombrio traçado
de um mapa rasgado

és palavra
na tenebrosa
escuridão
que te cerca


______________

Do livro Memorial da vida breve, Editora Nova Prova, Porto Alegre, 2007.

Um comentário:

  1. Adelar, a viagem física em direção a um país estrangeiro nos causa apreensão e questionamentos.
    Assim, como o trajeto em direção ao Outro, estrangeiro que nos cerca no cotidiano, do qual só temos em comum o idioma, visto que os contatos genuinamente humanos escassearam...
    Belo e sensível poema.

    Abraço.

    Ricardo Mainieri

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