segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Manhã pulsando no breu

Jorge Adelar Finatto




O que é um escritor sem leitor?

Poucas coisas são tão solitárias quanto o ofício de escrever. O processo todo acontece a capela. Não há testemunhas dessa luta. É um trabalho que se faz em silêncio, com persistência e recolhimento.

O ato de escrever encerra uma grande incerteza: haverá ou não leitor do outro lado. O esforço poderá dar em nada.

Existe cada vez mais gente escrevendo e publicando. Publica-se hoje como nunca. Além da publicação em papel, temos agora o ambiente virtual.

A abundante oferta de textos faz com que o leitor se torne um artigo de luxo.

Nenhum autor tem paciência de esperar pela posteridade. A procura de reconhecimento, por parte de quem escreve, é natural como em qualquer outra atividade.

O escritor vivo tem de lutar por um lugar ao sol, não apenas entre os contemporâneos, como entre uma infinidade de autores mortos.

Há aqui uma visível desproporção. Se por um lado existe uma legião de escritores, por outro, entre os leitores, só podemos contar com os vivos...

A luta do escritor começa na ideação e vai até a produção do texto, com todas as circunstâncias e incertezas que cercam o ato de criar. Mas não se esgota aí. Quando, enfim, consegue mostrar o resultado, resta saber se o trabalho contará com a atenção do sempre difícil, exigente, esquivo, disputado e raro leitor.

Uma possível resposta à pergunta inicial: um escritor sem leitor é um músico tocando para uma sala escura e sem ninguém.

Manhã pulsando no breu.

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photo: j. finatto