sexta-feira, 16 de novembro de 2012

A solidão do planeta errante

Jorge Adelar Finatto
 
 
Arte que ilustra como é o planeta errante. Fonte: Observatório Europeu do Sul.

  
Um jovem planeta errante vagueia pelo universo sem ser cativo de nenhuma estrela. Anda por aí sozinho, sem rumo certo, navegando pelas solidões cósmicas.

Normalmente os planetas giram em torno de um astro maior, com grande quantidade de matéria, como o nosso sol, ao qual ficam ligados pela enorme força de atração. 
 
O nome dele é CFBDSIR2149. Foi assim batizado por cientistas franceses e canadenses do Observatório Europeu do Sul. Eles acabam de descobri-lo com o uso de poderosos telescópios situados um no deserto do Atacama, no Chile, e outro no topo do vulcão adormecido Mauna Kea, do Havaí.

Como não está ligado a nenhuma estrela, ele não brilha com luz refletida, sendo identificado somente por telescópios de raios infravermelhos.

Esse tipo de corpo celeste era conhecido apenas na teoria.  Agora, pela primeira vez, foi observado pelos cientistas, que o localizaram a 100 anos-luz da Terra.

Fico pensando na gênese de sua viagem. Talvez, num dia longínquo, resolveu escapar da força descomunal da estrela-mãe, que o aprisionava nos braços superprotetores. Revoltou-se e decidiu fugir pelas estradas do universo. 

- Nem sempre uma estrela sabe ser boa mãe para o seu menino - , ele deve ter pensado. 

Algumas estrelas, digo eu, apegam-se em excesso a seus filhotes. Não os deixam crescer. Não admitem sequer que saiam um pouco fora do quintal estelar para brincar com outros planetinhas. Quer dizer, a vida dos meninos fica difícil. 

Como em toda escolha crucial, essa não deve ter sido nada fácil para o jovem planeta. Se por um lado ele desfruta da indizível alegria de traçar o próprio caminho, por outro não tem mais a mãe e os irmãos pra partilhar a vida. E lá fora, na rua, faz muito frio, é solitário e perigoso.

Certas línguas invejosas (entre os astros também há maledicência) acusam-no de ser não um planeta de verdade, mas uma estrela falhada, ou anã-castanha, isto é, objeto celeste que, por não ter tamanho nem massa suficientes, não consegue deflagrar as explosões termonucleares que fazem brilhar as estrelas bem sucedidas.

Dizem outros que, na melhor das hipóteses, o planetinha não passa de um andarilho, reles vagabundo do universo a navegar sem eira nem beira.
 
Bom mesmo, penso eu, seria vê-lo e respeitá-lo na sua dura verdade de ser em construção. 

Viajar sozinho pelo espaço, sem ligação com uma estrela, pode ser um ato libertário e uma grande aventura. Mas deve ser triste também. Na vida as escolhas não costumam ser fáceis.

Enfim, cada um sabe o doce e o amargo que traz na alma. 
 

2 comentários:

  1. Ao nos darmos conta das coisas do Cosmo, verificamos que somos muito pequenos em nossa suposta superioridade.
    Tudo isso estava antes de nós e continuará , após nossa passagem deste mundo.
    No entanto, o homem, ainda, continua se achando o supra-sumo da Criação.
    Só a Arte e a espiritualidade nos centram em nossa missão de nos ver agentes de um processo maior, de sermos veículos de algo imensamente maior que nós.
    Mas é muita reflexão para os normóticos, melhor ligar o IPAD e navegar...pelo ciberespaço.

    Abraço.

    Ricardo Mainieri

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  2. Ricardo amigo.

    Não podemos perder de vista as estrelas da nossa vida. Faça chuva ou faça sol, são elas que iluminam nosso caminho.

    Um abraço.

    JF

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