quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Nos trilhos do tempo

Jorge Adelar Finatto


photo: Museu Virtual Memória Carris. Prefeitura Municipal de Porto Alegre.
Autor: José Luís Kieling Franco.*

 
Não sabia que uns velhos trilhos de bonde podem mexer com a gente depois de tanto tempo. Isso aconteceu quando descobri que havia trilhos escondidos na escuridão da terra, sob a Avenida Protásio Alves, no bairro Petrópolis, em Porto Alegre.

O leito da avenida está em obras para receber o sistema de ônibus rápidos. Ao realizarem os trabalhos, os operários retiraram o asfalto e escavaram cerca de 80 centímetros no subsolo.

Passava pelo local outro dia e parei para olhar. Percebi então, com assombro, que no fundo do buraco havia os trilhos do bonde que ligava o bairro ao centro da cidade. Sim, vetustos trilhos que estavam soterrados reapareceram.
 
A escavação significou um mergulho no tempo. Encontrou uma cidade submersa que não existe mais.

Os bondes deixaram de circular em março de 1970, infelizmente.

Eu morei  perto do itinerário dos trilhos quando menino.

Por um momento, me vi outra vez passageiro do bonde, a cara na janela pegando vento, descendo e subindo a colina sobre a qual se ergue o bairro Petrópolis.

Recolheria os trilhos e guardaria num cofre, se possível fosse. Eles dão testemunho de uma época e de um modo de viver.
 
Difícil explicar que não são meros pedaços de aço que afloraram do chão, são caminhos perdidos no tempo. No passado, eles conduziram as pessoas diariamente nos rumos de suas vidas. Muito cansaço, muita esperança e sonho eles carregaram.

A descoberta foi como se tivessem escavado o interior do meu coração.
   
Um pedaço do que eu  fui aflorou naqueles trilhos.

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*A imagem foi editada para ilustrar este post. A original encontra-se no texto:
Eu ia tomar um bonde amarelo

2 comentários:

  1. Adelar, os tempos idos, sem dúvida, foram melhores.
    Resquícios soterrados de uma cidade provinciana, charmosa e tranquila.
    Hoje o que se assiste é uma fúria automobilística, pessoas agitadas e nenhum glamour.
    Junta-ter ao nosso poeta-mór Mário Quintana e sua poesia esquadrinhando a cidades e suas memórias.

    Abraço.

    Ricardo Mainieri

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  2. Meu Caro Ricardo.

    A cidade hoje tem muitas coisas boas que antes não tinha. Mas, tudo somado, eu gostaria de agregar ao presente a volta dos bondes, como existem em Lisboa, da Varig e queria o fim da violência. 2013 está no começo. Quem sabe a gente chega lá!

    Um abraço.

    A

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