segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Walmor Chagas e a beleza da palavra falada

Jorge Adelar Finatto


Walmor Chagas em seu sítio, 2006. Foto: Fernando Donasci. Folha da S.Paulo
 
 
No mês de outubro passado, no texto Um bosque no amanhecer*, falei da importância da Biblioteca Pública do Estado na vida de muitas pessoas e na minha em particular. De passagem, relembrei, também, um recital inesquecível do ator Walmor Chagas (1930-2013) apresentado naquela biblioteca, no início dos anos 1980, se estou bem lembrado.

Nunca esqueci aquela apresentação. A beleza da palavra escrita, quando ouvida da boca de Walmor Chagas, era inefável.

Pouca gente sabia dizer um texto como ele, especialmente poesia. O recital Partilha (título de um poema do poeta e escritor porto-alegrense Paulo Hecker Filho, amigo do ator e autor do roteiro), que ele apresentou no Salão Mourisco da Biblioteca Pública, foi um grande momento.

Quem não tinha intimidade com a literatura, ao ouvi-lo, passava a se interessar e ir atrás de textos e autores. Não sei se gravaram o recital em vídeo, tomara que sim.

Walmor Chagas tinha o dom de dar vida ao texto literário, na sua maneira de dizer, bem viva, bem sentida, sem excessos, sem faltas.
 
Infelizmente, o ator foi encontrado morto com um tiro na cabeça, na última sexta-feira, dia 18, na casa de seu sítio no interior da cidade paulista de Guaratinguetá. O corpo foi cremado no sábado. Os dados levantados pela polícia, até o momento, levam a crer em suicídio, segundo informou a imprensa.

Nascido em Porto Alegre, Walmor Chagas tinha um carreira longa e rica, tendo feito novelas e séries para televisão, além de cinema e teatro. Era, essencialmente, homem de teatro e cinema.
 
Depois de assistir Partilha, fiquei imaginando o quanto teria sido bom se o Ministério da Cultura ou outro órgão, até mesmo algum particular, patrocinasse não só peças de teatro como recitais de Walmor Chagas para percorrer o Brasil, levando literatura e despertando leitores com sua voz, sua elegância e sua interpretação de mestre. Além disso, esses programas poderiam ser gravados para televisão.
 
Perdemos Walmor Chagas. Já não será possível vê-lo nem ouvi-lo. O seu talento poderia ter sido melhor aproveitado.  Com sua morte, lá se vai não apenas um grande ator, como também grandes oportunidades perdidas.

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*Um bosque no amanhecer:
http://ofazedordeauroras.blogspot.com.br/2012/10/um-bosque-no-amanhecer.html
 

2 comentários:

  1. As grandes pessoas estão se indo.
    Ano passado se foram o historiador Hobbsbaum, o músico Dave Brubeck, Niemayer e tantos que fizeram a diferença no mundo.
    Agora, Walmor Chagas escolhe, talvez, o caminho da recusa deste mundo atual em que vivemos.
    Mundo de cultura rebaixada, de falcatruas políticas, de debacle econômico, de guerras que seguem no Oriente Médio, apelidadas de "Primavera árabe".
    Não vou julgar o gesto, vou, apenas, lamentar a ida para outros planos de um grande homem da cultura.

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  2. Resta esperar que outros com o talento de Walmor apareçam e tenham oportunidade de trabalhar.

    Um abraço, Ricardo.

    A.

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