quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

2016, coração mole, cabeça forte!

Jorge Adelar Finatto

photo: j.finatto

 
Raro leitor: eu não tenho ideia de quem são as pessoas que visitam diariamente o blog. Com exceção dos amigos da página, identificados na coluna ao lado, os demais são um grande mistério. Ainda que invisíveis, estão presentes como os outros. Isso que importa.

A você (visível ou invisível) agradeço a generosa companhia.
 
Desejo que todos vivam claros, bons e produtivos dias em 2016. Que tenham saúde física e espiritual. Que a alegria de viver e compartilhar esteja sempre presente ao longo do novo ano.
 
Não acredito em mudanças que não comecem pelo coração e pela mente de cada um. Aí que tudo se define. Se eu não mudo, a realidade não muda. O resto é parolagem de quem não se esforça por melhorar.
 
Que em 2016 a gente construa lindos momentos e belas memórias!
 
Um grande abraço.
 

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

A pintura do entardecer

Jorge Adelar Finatto

photo: jfinatto, 30/12/2015


Estava chegando no escritório, depois de subir a íngreme escada Santos Dumont, quando o espetáculo do entardecer se anunciou pelas janelas, emoldurado a sul e oeste. Uma aquarela finíssima e delicada.
 
Bela pintura, imemorial e primitiva, criada para embelezar a vida de quem habita o planeta. Saí à varanda e comecei a fotografar com a emoção provocada pelo deleite estético.
 
O fotógrafo é um imitador. Nada faz além de registrar aquilo que outro criou. Neste caso, o autor é Deus. A Ele se devem todos os direitos autorais. E um grande agradecimento, nestas últimas horas do ano.
 

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

O apito do trem noturno

Jorge Adelar Finatto
 
trem da extinta Viação Férrea do Rio Grande do Sul. Canela. photo: jfinatto
 
O trem noturno passava altas horas. A casa toda tremia. A casa da tia ficava perto dos trilhos. No pátio havia os cinamomos em flor. E o seu perfume iluminava as noites de novembro.
 
O noturno soltava o apito de aviso, "limpa trilho", porque havia naquela altura uma passagem cruzando a estrada de ferro. Onde aquele trem ia parar ao amanhecer? eu me perguntava. Em São Borja, em Santa Maria, em São Francisco de Paula? Ou quem sabe na gare distante da estrela Antares? O certo, porém, é que vinha das bandas de Porto Alegre.
 
Às vezes, de uma janela acesa alguém olhava em direção à casa da tia, verde, larga e comprida, no alto da colina. O observador era um passageiro que perdeu o sono talvez. O que veria? Nada além das poucas luzes dos postes. A cidadezinha inteira dormia. Nela não havia sequer estação de trem.
 
Eu ficava acordado até a hora do noturno passar. Os outros habitantes da casa ressonavam.

Viajar de trem pelo meu país foi um dos meus sonhos de guri. Mas o governo acabou com os trens de passageiros no Brasil. Uma entre tantas decisões inexplicáveis, à luz do bom senso, que atrasaram por décadas a Terra de Vera Cruz.

Acredite: este país continental não tem trens de passageiros. As poucas exceções são os metropolitanos, muito ruins por sinal e de itinerário reduzido, nas cercanias de algumas capitais.

Um dia, para amenizar a saudade, embarquei num comboio em Lisboa. Era por volta de 16h de um dia de inverno. Ao anoitecer ele ingressou na Espanha. Não dormi a noite toda. Da minha janela acesa, não queria perder nenhuma das estações.

Uma mistura de melancolia e ternura eu senti ao atravessar de madrugada as pequenas cidades. Ao amanhecer, na fronteira com a França, houve troca de trem em direção a Paris, onde desembarquei em torno de 15h.

Foi uma viagem sentimental por cidadezinhas esquecidas no mapa. Como aquela da casa da tia, por onde passavam trens que nunca paravam.
 

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Navegações

Jorge Adelar Finatto
 
photo: jfinatto


Não existem chegadas
e partidas definitivas
rijos itinerários nascidos
na rota turbulenta
dos abismos


o que há é esta
necessidade de navegar
que começa não sei
em que rio
ou fundão
e depois se expande


um dia toda busca
cristaliza
e se pode, enfim,
recolher as velas
no porto do outro
mundo


_______

Poema do livro O Fazedor de Auroras, Instituto Estadual do Livro, Porto Alegre, 1990. 

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Natal do sentimento

Jorge Adelar Finatto
 
Nasceu Jesus. pintura do holandês
Geertgen Tot Sint Jans (1460-1490).
  fonte: casa.abril.com.br *


A felicidade do Natal está no sentimento que este dia traz, não nos presentes. 
 
O espírito humano não se contenta com coisas materiais. Para uma pessoa que não despreza sua espiritualidade, cada dia é uma procura incessante de sentidos para a vida.
 
A felicidade do Natal está em trazer à memória, de forma muito viva, a figura de Cristo. O que ele trouxe de revolucionário, simples e verdadeiro.
 
Eu lhes dou um novo mandamento: Amem uns aos outros; assim como eu amei vocês, amem também uns aos outros. (João 13:34)
 
O Natal traz a lição do amor ao outro.
 
A lição da compreensão, da redenção pelo perdão. Perdoar, ser perdoado. Não humilhar, não destruir, não matar, não roubar. E ter presente a existência de Deus.
 
A tristeza do Natal, na vida de muitos, vem da ausência de pessoas com quem compartilhar.

O amor humano, de que tanto o planeta está carente, é o que mais falta nos faz.
 
Cristo nos aponta o caminho do afeto para construir o mundo. Não encontrei até hoje, em nenhum sábio, poeta ou filósofo, síntese ética mais reveladora e profunda.
 
Que tenhamos amor suficiente neste Natal. E consolo para os tempos difíceis. Afeto para encher o coração triste. Para acolher e sermos acolhidos.
 
A respeito de quem é realmente o nosso próximo, vale a pena ler a breve e transcendente passagem de Lucas 10:29-37.
 
Feliz Natal a você, Feliz Natal a todos!
 
_________

*site casa.abril.com.br: Natal: o nascimento de Jesus segundo grandes pintores
http://casa.abril.com.br/materia/natal-nascimento-de-jesus-pinturas#6

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

A vida é bela

Jorge Adelar Finatto

Paulo Corrêa Lopes. Bico de pena de Alice Soares
 
                             
                              Conselho
 
                              Quando fores pela estrada
                              anda com cuidado
                              para não matares as formigas.
 
                              A vida é tão bonita! 
                                                        Paulo Corrêa Lopes ¹
 

Às vezes penso que não existem mais poetas no Brasil. (Poetas são essas estranhas criaturas que traduzem em palavras a poesia existente no mundo, desde a criação.) O fato é que não encontro bons livros de poemas nas livrarias. Pode ser que haja príncipes poetas escrevendo a essa hora para as gavetas, sem ocasião nem lugar para divulgar seus versos. Quem sabe? A poesia, afinal, não desapareceu.
 
Contudo, os tempos não estão para escrever versos. A realidade é dura, triste. Estamos partidos, estilhaçados em meio à dor, mergulhados em preocupação e medo. Basta olhar o Brasil e seu grande desastre ético, econômico e político. Os efeitos mal começam a ser percebidos. A esculhambação é tamanha que, em 2016, haverá talvez imensas saudades de 2015.

A violência estrutural da sociedade brasileira começa lá no alto, no último andar, e desce escada abaixo. O que será amanhã? Ninguém sabe.  O certo é que não será um tempo de amenidades e, provavelmente, não será de justiça. De qualquer forma, a vida é sempre bela e viver é uma imposição que não admite adiamentos nem recusas.

Mas eu estava então no escritório à procura de algum poeta do passado. Vasculhava as estantes onde estão os livros que me acompanham desde a adolescência. Aquele tempo em que eu era muito só e muito pobre. De vez em quando conseguia juntar uns trocados para comprar um livro em alfarrabista.
 
                               Na luz daquela estrela
 
                               Deus estava na luz daquela estrela,
                               nas águas daquele rio,
                               no sonho daquela flor,
                               e tu passaste tão distraído
                               que não viste Deus.
                                                                       PCL ² 
 
Aí encontrei a Obra Poética de Paulo Corrêa Lopes (1898-1957), gaúcho natural de Itaqui (fronteira com Argentina). Reli alguns dos seus poemas, nos quais fluem esmero, economia verbal, simplicidade, engenho e poder de comunicação. Lidos hoje, não causam desconforto ao leitor, quer pela forma, quer pelo conteúdo.

O estranhamento está na impressionante atualidade de sua linguagem. Dele diz Guilhermino Cesar na apresentação: Submeteu-se a uma disciplina de poupança, podando e repodando os seus versos, para livrá-los do acidental e do acessório. ³

As composições de PCL não sofrem o desgaste do tempo. Atravessam os anos com a mesma frescura de quando foram escritas. Talvez porque digam muito de perto e de forma certeira ao nosso coração. Nelas não vemos pose de poeta, nem saltos ornamentais, nem vontade incontida de agradar aos ouvidos do distinto público. O seu canto nasce de profundas e cálidas fontes, aflorando em água límpida e vitalizante.
 
                              Vida
 
                              Não sei nada da vida
                              canto apenas a hora que foge.
                              Deve haver qualquer coisa de pássaro e de rio
                              no meu destino...
                                                                PCL 4
                                  
Ninguém fala mais nele, nenhum jornal ou revista põe atenção nos seus poemas. É pena. Estão privando muita gente da arte dele e de muitos outros. Os poetas, entre eles Paulo Corrêa Lopes, são guardiões de uma poesia essencial que teima - felizmente para nós - em não morrer.


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¹,²,³, 4 Obra poética. Paulo Corrêa Lopes. Instituto Estadual do Livro, Porto Alegre, 1958. A bela capa é obra do artista Glênio Bianchetti.
 

domingo, 20 de dezembro de 2015

Tempo de reescrever o Brasil

Jorge Adelar Finatto
 
photo: jfinatto
 

Aqueles que lutaram de coração aberto e sem interesses mesquinhos pela democratização do Brasil não podiam imaginar que gente inescrupulosa se valeria da democracia, duramente conquistada, para assaltar o país. A conquista dos direitos políticos, é sempre bom sublinhar, não foi obra de um grupo ou de um partido, mas de toda a sociedade.

Os que roubam a nação, ou permitem que a roubem, são os maiores inimigos dos direitos do cidadão, da justiça social, da liberdade e da democracia.

Se o país não tivesse a corrupção que o assola, estampada ad nauseam nos meios de comunicação e em decisões judiciais, os brasileiros teriam qualidade de vida igual ou superior à das nações mais desenvolvidas. Mesmo com os atuais 204 milhões de habitantes.
 
Porque aqui se trabalha muito, se produz muito, pagam-se oceanos de impostos. Temos povo, território, recursos naturais, miscigenação, multiculturalismo. A imensa maioria das pessoas quer estudar, realizar projetos, transformar a vida.
 
Mas aí acontece esta tragédia que é a corrupção com dinheiro público, nunca tão escancarada. Por suas enormes dimensões e implicações, atinge e penaliza toda a população.

É impressionante o que se vê. Para tentar corrigir tantos abusos e desmandos, fala-se, eufemisticamente, em ajuste fiscal. Isto é, entrega-se a conta desumana para o cidadão pagar. Na verdade, basta recuperar o dinheiro público subtraído pela corrupção para começar a acertar a economia.

Quem se locupletou tem de devolver, seja partido político, seja empreiteiro, seja quem for. A punição dos responsáveis não pode ficar restrita à esfera penal. Há que buscar o prejuízo no âmbito patrimonial.
  
Estou numa altura da vida em que não posso me dar ao luxo de perder a esperança. É tarde demais para isso. Preciso acreditar que as coisas vão melhorar.

Confio, portanto, que o Brasil sairá dessa, porque o povo é sábio e não se deixará enganar por quem lhe traiu a confiança, tenha as cores que tiver, seja do partido político e da ideologia que for. Não é difícil deduzir de quem se trata.
 
Está em nossas mãos construir um país mais justo, começando por dizer não à corrupção e a toda forma de desonestidade, mentira, instrumentalização ideológica e violência contra quem pensa diferente. É nas pequenas atitudes de cada indivíduo que vamos mudar a realidade.
 
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Texto atualizado, publicado antes em 29 de abril, 2015.  

Cartão de Boas Festas da Casa Fernando Pessoa




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Casa Fernando Pessoa:
http://casafernandopessoa.cm-lisboa.pt/
 

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

A fera escondida

Jorge Adelar Finatto
 
beira do Guaíba. photo: jfinatto
 
 
Os dias escapam sem trégua. Passam como o vento entre as folhas do calendário.

O tempo é água escorrendo de um balde cheio de furos, foge por todos os lados e buracos. Sai pelos ouvidos, olhos, narinas, barba, memória.
 
O tempo é a fera escondida na penumbra da nossa passagem. Ataca em silêncio e sem pena. É preciso aprisionar o tempo numa alta torre e jogar a chave no fundo do poço. Quem há de?
 
O tempo é um devorador insaciável de dias, meses, anos, corações. Leva de cambulhada nosso ser e nosso sangue. Suga feito um verme invisível e nefasta é sua sede.

A vida é um doce que a gente vai comendo pelas beiradas do prato, devagarinho, já sentindo tristeza, porque sabe que vai acabar. É a melhor iguaria que alguém inventou.
 
Procurei no Aurélio a definição do tempo para, conhecendo-o melhor, poder dominá-lo e, quem sabe, desligar todos os seus relógios e silenciar os miseráveis tic-tacs.

Diz o verbete: Do latim tempus. A sucessão dos anos, dos dias, das horas, etc., que envolve, para o homem, a noção de presente, passado e futuro.
 
Palavras, só palavras. Que podem diante do moinho perverso das horas? A natureza do tempo permanece mistério. O que sei é que é carnívoro.
 
Será quimera, será sombra, o tempo? Será um sonho que alguém sonha? Seremos personagens que um autor criou numa hora de fastio diante do eterno?
 
Que relógio mede o tempo do tempo? Que porcaria é essa?

Que grande desperdício de vida, que hora medonha entre nascimento e morte. Quem tem a chave do umbigo deste abismo? Palavra, palavras, que podem, que podemos?

O tempo corrói tudo. Não tem dó. Não tá nem aí. É fábrica de despedidas.
 
Ferida aberta sob o sol. Nunca cicatriza. 
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Basta a cada dia o seu próprio mal.
Mateus 6:34

domingo, 13 de dezembro de 2015

O tempo urgente de Iberê Camargo

Jorge Adelar Finatto

Série Ciclistas, 1990, Iberê Camargo, Fundação I.C., photo: jfinatto
 
Com meus ciclistas, cruzo desertos e procuro horizontes que recuam e se apagam nas brumas da incerteza.¹
Iberê Camargo

Ainda estamos vivos ou morremos há muito e não nos avisaram? Esta é a pergunta que me ocorre ao mergulhar nas pinturas de Iberê Camargo (1914-1994), nesta tarde ensolarada de sábado, dezembro, ano terminando. A exposição Iberê e seu ateliê: as coisas, as pessoas e os lugares é das mais importantes que visitei na Fundação Iberê Camargo. Traça um panorama da trajetória do artista ao longo dos muitos anos em que produziu.
 
De alguma forma,  todos nós, em algum momento, habitamos a pintura de Iberê. O pintor resume com suas fortes pinceladas carregadas de tinta (muitos dos traços formam relevo na tela) a pungente condição humana.
 
Crepúsculo da Boca do Monte, 1991, Iberê Camargo, photo: jfinatto

A dor, a perplexidade, o irrecusável impasse diante do tempo e da morte estão presentes nas naturezas-mortas, nas pessoas, nas paisagens, nos objetos. O poço fundo e negro do interior de cada um aflora nos quadros de Iberê.

sem título, 1943, Iberê C., photo: jfinatto

O trágico sentido, contudo, não remete ao desespero. Pelo menos não hoje, não para mim, não nesta tarde varrida pelo sol dourado, o azul chapado sobre o Guaíba, os barcos ondulando no rio. Antes é à vida que se dirige o apelo do grande pintor nascido em Restinga Seca, no Rio Grande do Sul.

Outono no Parque da Redenção II, 1988, Iberê Camargo, photo: jfinatto

Iberê Camargo nos alerta para a brevidade do nosso tempo, este tempo, pessoal e intransferível, mas também coletivo, e à urgência de viver sem demora o que nos cabe. Não podemos mais esperar que cheguem todas as respostas. Talvez não haja, afinal, um pote de ouro no fim do arco-íris. É preciso olhar o outro, sentir o outro. E viver.

Paisagem, 1956, Iberê C., photo: jfinatto

Não podemos mais esperar por este amanhecer que já tarda. Precisamos desenterrá-lo do escuro, sem demora, com as próprias mãos. Precisamos construir a claridade.

É isto que sinto ao passar a tarde diante dos traços belos-trágicos do artista que buscou, e encontrou, como poucos, algo a dizer além da escuridão.

O pintor é o mágico que imobiliza o tempo.²
Iberê Camargo

Signo branco I,1976, Iberê C.
________

¹,²Iberê menino, págs. 34, 5. André Neves e Christina Dias. Difusão Cultural do Livro, São Paulo, 2007.
Veja também: Iberê Camargo e a escrita da solidão:
http://ofazedordeauroras.blogspot.com.br/2012/03/ibere-camargo-e-escrita-da-solidao.html
 

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Cálido

Jorge Adelar Finatto
 
 
photo: jfinatto
 

Preciso escrever
o poema
que vai salvar
esse dia

o poema cálido
para atravessar
o tempo difícil
que ainda tenho
pela frente

o poema que vai
expulsar
a vontade
de morrer
que chega
aos poucos
como um felino
_____________ 

Do livro Memorial da vida breve, Jorge Finatto, Editora Nova Prova, Porto Alegre, 2007. 

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

As bandeirinhas de Volpi

Jorge Adelar Finatto
 

A revista Vida Simples deste mês de dezembro publica, na seção Cenas, uma foto que fiz de bandeirinhas estendidas numa praça de Canela e que lembram a pintura do mestre Alfredo Volpi. Acompanha um breve texto em que conto como colhi a  imagem. Publico hoje a foto na capa do blog.

Publicar na Vida Simples é um acontecimento na vida deste fotógrafo habitante dos Campos de Cima do Esquecimento. Estou me exibindo, perdoem o mau passo. Mas peço que deem um desconto: são os fogos e as trombetas da alegria.

Com excelentes artigos e imagens, diagramação de primeira, capricho e assuntos de interesse para a vida de todos os dias, Vida Simples é uma revista que estimula a sensibilidade e cultiva a inteligência.
 

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

No amanhecer

Jorge Adelar Finatto

photo: jfinatto
 
O som das folhas dos plátanos, em volta da casa, no vento dessa manhã de primavera. A dispersão das horas na espiral infinita do tempo.

É um novo dia e devemos partilhar o pão, o abraço e a alegria de viver na mesa larga da existência.

Olhemos juntos a viagem do pássaro em seu voo inaugural. Olhemos o voo solitário acreditando que é possível. Olhemos o voo do bando.

Há muito de ternura nessa hora. Há tanta coisa vivida que se perdeu no moinho dos dias.

A velha mala de mágico de circo de cidadezinha do interior com seus textos esperando ser aberta e revelada ao alheio olhar. Um olhar.

Há tanta coisa querendo ser dita, um dicionário inteiro.

Há o movimento forte do coração batendo no peito na manhã de viver.

O fruto bom da expressão colhido no pomar do pensamento e da emoção.
 
As urgentes florações do jardim espiritual. No amanhecer do voo.