sábado, 24 de outubro de 2015

Os mistérios do mundo e as conchas do mar

Jorge Adelar Finatto
 
photo: jfinatto
 
Andava eu pela rua Padre Chagas, no bairro Moinhos de Vento, em Porto Alegre, quando visualizei na esquina um cartaz anunciando um Curso de Introdução ao Mundo. Era como um alerta dirigido à minha proverbial falta de fé nos oráculos. 
 
Com vagas limitadas, os encontros seriam dedicados a pessoas que cultivam assuntos filosóficos e que querem desvelar os mistérios da vida. No desenvolvimento das aulas, se trabalharia com conchas do mar, cartas de baralho, almanaques antigos e o indefectível Google. Informava-se, ainda, um telefone móvel para contatos, que deveriam ser feitos o quanto antes para encaminhar a matrícula e formas de pagamento.
 
Percebi que estava ali a grande oportunidade para entender melhor os enigmas da existência. Vislumbrei a libertação de angústias e perplexidades que carrego desde antes de chegar ao útero. No entanto, por ancestral e incorrigível desconfiança, não anotei o número do telefone.
 
No retorno a Passo dos Ausentes, contornando penhascos e já envolto em nuvens, me dei conta do que perdera. Se tivesse aproveitado o que o cartaz oferecia, provavelmente teria renovado minha visão das coisas nesses tempos tão obscuros. Alcançaria quiçá uma percepção mais generosa da existência e suas possibilidades.
 
Mas qual! Voltei, como sempre, a andar na neblina com a costumeira lanterna de mina na mão.
 
Constatei, mais uma vez, essa propensão tão minha de olhar com ironia anúncios de salvação prêt-à-porter, venham eles de onde vierem.

Levantar o escuro véu que oculta os mistérios e belezas do mundo é ofício a ser construído em silêncio, com humildade e claridade de coração. Essa a minha vã filosofia.

Porém, eu devia era levar mais a sério cursos de introdução ao mundo. Quem sabe tudo clareava de vez... Mas não. Por isso continuo aqui, mais que cinqüentenário, insistindo em coisas como o trema, e em outras que nunca levam ao paraíso.