terça-feira, 3 de novembro de 2015

A praia do gasômetro

Jorge Adelar Finatto

photo: jfinatto

Ele precisava respirar um pouco de ar fresco, sair do calabouço. Recordou como eram bons os banhos, as caminhadas e brincadeiras que, quando crianças, faziam pela orla do Guaíba.

Um dia distante se viu só diante do rio. A casa da serra tinha afundado. O rio passou a ser seu amigo e confidente.

Foi até a margem do Guaíba fazer um passeio sentimental, que é uma maneira de não deixar o vazio tomar conta.

A hora mais feliz do dia era pela tarde, quando saíam do apartamento com roupas de banho, chinelo, toalha e iam para a praia do gasômetro, ali ao lado da alta chaminé que virou cartão-postal da cidade. Era só sair do edifício, atravessar a rua e estavam na areia. Ser feliz era simples assim.

O Guaíba é esse espelho sobre o qual o céu se debruça todos os dias com o sol, as nuvens e o azul, e à noite com as estrelas.

No dia em que tudo o mais estiver perdido, haverá a memória do rio e nela um barco branco com vela branca para levar o menino a navegar nas águas claras e sem margens da infância.

A ilha ensolarada da infância.