sábado, 14 de maio de 2016

Caminho do sol

Jorge Finatto
 
photo: jfinatto


Perdi o sono antes do amanhecer. Eu nunca perco o sono. Aí chegaram uns pensamentos escuros: realidade do Brasil com sua corrupção terrível, passagem desumana do tempo, saúde, perdas, essas coisas que afligem mais quando é noite. 

Pensei um dia que, com a chegada dos anos, tudo ia ficar mais claro, mais calmo, viveria em paz com meus fantasmas. As angústias dariam lugar à serenidade. Que ilusão! A minha sabedoria terminou entre os 18 e 25 anos, quando fui eterno e a beleza estava em quase tudo que eu via. 

Os anos não trazem sabedoria, trazem cansaço e desilusão (pensava eu no escuro). Aí disse chega. Levantei, vesti o capote, a manta, o chapéu, e coloquei os óculos (a essa altura, mais parecem um binóculo). Saí pela estrada de chão batido que conheço bem aqui na montanha. 

Era noite cerrada ainda. Vi uma coruja no velho muro de taipa. A ave noturna pareceu fazer-me um leve aceno de cabeça. Eu correspondi. 

Fui entrando na neblina enregelado (fazia dois graus), só queria caminhar, esquecer as amofinações, respirar o ar da nova manhã. 

Caminhei para encontrar o sol. Foi o que fiz, vendo-o levantar-se no Contraforte dos Capuchinhos. Depois voltei pra casa. Fui fazer café no fogão a lenha. Tudo ficou mais claro dentro de mim.

Não fico mais no escuro pensando bobagem: caminho até o sol.