sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

A lupa chinesa

Jorge Finatto

photo: jfinatto
 
 
COMPREI UMA LUPA num bazar perdido num canto do mercado público. A procura de sempre: aumentar a nitidez das coisas. Não é esta a primeira vez, nem a primeira lupa. Esta lupa, contudo - garantiu-me o vendedor -, é especial,

- fui buscá-la no laboratório de um sábio chinês, no bairro do Bixiga, em São Paulo. Instrumento especial  de primeira, sim senhor, capaz de divulgar até o invisível.

Eu ando tão precisado de claridade, tão necessitado de qualquer coisa que me ajude a decifrar os absurdos e mistérios do mundo, que não resisti à oferta, sem opor dúvida nem ressalva. Quem sabe não começo, enfim, a entender melhor o sentido da vida?

Uma dúvida, porém (sempre o maldito porém), me ocorreu. Não sabia que havia sábios chineses criando maravilhas no Bixiga. Que eu saiba, naquele tradicional bairro vivem italianos, seus descendentes e afins, além de nativos. Ao menos era assim quando por lá andei há muito tempo, envolvido com as artes do Grupo Sanguinovo e fazendo visitas ao MASP.

Se há sábio chinês estabelecido no Bixiga é coisa de eras recentes. Mas pode ser também que algum carcamano esteja se fantasiando de chinês (e de sábio) para vender quinquilharias de origem duvidosa. Mas que digo eu? Por que essa mania de duvidar e sopesar os detalhes? Por que não acreditar na humanidade simplesmente?
 
O fato é que agora estou armado com a mágica lupa do sábio chinês do Bixiga. Partirei com ela em expedição aos confins do dia, buscando desvelar enigmas e encontrar clarões em meio à densa treva. Colecionarei as revelações do universo. Sabe lá Deus as besteiras que resultarão...