segunda-feira, 27 de novembro de 2017

As virgílias e o viajante

Jorge Finatto

desenho: jfinatto


SIM, RARO LEITOR, nascemos de mãos dadas com nossa irmã gêmea, a solidão. Mas a vida não há de ser um buraco só dentro do peito. Tinha de ser mais, tem de ser mais. Ninguém veio ao mundo pra ser deserto.

Encontrar seres humanos, dividir o vagão do trem, é o lado mais bonito e luminoso da viagem.

Mas, em caso de urgência, o viajante tem pelo menos as virgílias.

São minúsculas borboletas que não têm mais que um centímetro de envergadura nas asas. Revoluteiam ao redor dele. São dezenas, cada uma com sua cor viva: violeta, azul, púrpura, amarelo, lilás, laranja, branco, preto.

As virgílias surgem do nada. Acendem a solidão como lamparinas em miniatura. Ficam voando em volta do viajante como efêmeras lanternas com piscar intermitente.

As virgílias depois vão-se embora. Apagam aos poucos suas luzes até que nenhuma mais resta.

Nenhuma. E o viajante dorme esperando amanhecer.