segunda-feira, 25 de outubro de 2010

A biblioteca particular de Fernando Pessoa digitalizada


 Nota Prévia*
Jerónimo Pizarro


Dar visibilidade virtual à biblioteca particular de Fernando Pessoa foi o objectivo de uma iniciativa colectiva que começou em Abril de 2008 e que hoje permite disponibilizar em linha milhares de páginas impressas, muitas das quais contêm anotações, comentários, traduções e outros diversos tipos de textos em prosa e em verso, para além de desenhos, horóscopos e exercícios caligráficos. Estas páginas, que em número quadruplicam o número de autógrafos pessoanos à guarda da Biblioteca Nacional de Portugal (BNP), são decisivas para revisitar a vida e a obra de Fernando Pessoa. A sua biblioteca, composta por mais de 1300 títulos (mais da metade deles em língua inglesa), é um autêntico repertório de fontes e de escritos. Por este e por outros motivos, o seu valor é inestimável. No poema «Un lector», Jorge Luis Borges escreveu: «Que otros se jacten de las páginas que han escrito; | a mí me enorgullecen las que he leído». Que leu Pessoa? Com que propósitos? Estas são só algumas das perguntas que agora se podem começar a formular com mais assiduidade.

Salienta-se que esta biblioteca, albergada na sua grande maioria na Casa Fernando Pessoa (1058 títulos), não conta com todos os exemplares que alguma vez dela fizeram parte; parcelas da mesma estão ainda com a família do escritor e no espólio número 3 da BNP. Mas neste site é possível percorrê-la na sua quase totalidade e descobrir por que razões constitui um objecto de estudo privilegiado; a este respeito, pode ser útil a consulta da revista Portuguese Studies, vol. 24, n.º 2, 2008; do livro Fernando Pessoa: o guardador de papéis, Texto Editores, 2009; e, claro, do volume A Biblioteca Particular de Fernando Pessoa, D. Quixote, 2010. Para ter uma visão rápida de certos exemplares que se optou por destacar, basta visitar Anotações, Assinaturas, Dedicatórias e Selos.

A digitalização da biblioteca foi realizada no âmbito de colaboração protocolada entre a Casa Fernando Pessoa e o Centro de Linguística da Universidade de Lisboa. Agradeço a Inês Pedrosa, directora da Casa, pelo seu apoio, visão e entusiasmo, e a todos os investigadores que, ao longo deste projecto, disponibilizaram o seu tempo para fotografar, página a página, os livros que hoje compõem esta nova biblioteca digital. Dos investigadores destaco Patricio Ferrari e Antonio Cardiello, com quem coordenamos o projecto, e a todos aqueles que participaram de maneira mais empenhada e até à última sessão: Liliana Navarra, Mário Fernando da Silva Costa e Maria Manuel Denis Lages, e nas semanas finais, Jorge Uribe e Fabrizio Boscaglia. Outros nomes e informações figuram na ficha técnica.

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* Fonte: site da Casa Fernando Pessoa
http://casafernandopessoa.cm-lisboa.pt
www.mundopessoa.blogs.sapo.pt

Foto: Fernando Pessoa. Acervo da CFP.

A grafia é a de Portugal. 

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Bez Batti, o homem que tira sentimento de pedra

Jorge Adelar Finatto


Bez Batti, o grande escultor brasileiro de pedra basalto, é senhor de um talento e de um humanismo que o colocam entre os principais criadores da atualidade no mundo.


Deus está no seixo como está no homem, na nuvem, no vento, no peixe.




O ser humano pode conversar com pedras. É possível desvelar emoção adormecida na densa concentração de matéria.

À luz da obra escultória de João Bez Batti Filho, as pedras são seres vivos.

As esculturas de basalto do artista conversam com o observador, fazem pensar e comunicam sentimento. São seres falantes que pulsam e querem partilhar beleza. Transcendem a condição de coisa vulcânica, arrepiam-nos ao leve toque.



São rochas que, antes de tornarem-se esculturas e adquirirem vida, dormiam como qualquer outra em remota obscuridade. Agora que nasceram e respiram, têm histórias para contar, e nos contam.

A visão desses objetos de criação nos leva a algumas considerações.

Existem memória e mistério ocultos na profundeza da pedra.

A emoção habita o álgido coração da rocha.

A vida é breve, o basalto é eterno

Uma secreta linguagem irmana Bez Batti e as pedras.

O trabalho paciente do escultor demanda força física para o duro enfrentamento. Com inspiração, ideias claras e perseverança, ele extrai raras revelações.

Ouçamos o que diz Ferreira Gullar: "Em arte, todo fazer é uma aventura imprevisível. Por isso, como o basalto é duro, e o risco, maior, Bez Batti, antes de atacá-lo, desenha a forma que pretende esculpir. Mas com isso não exclui de todo o imprevisível que nasce da resistência da pedra à ação que a agride, embate em que se misturam a sabedoria adquirida pelo escultor e a aceitação do acaso que se infiltra em sua ação".¹

O basalto é a terceira rocha mais dura que há na natureza. Origina-se de antiquíssimos derramamentos vulcânicos.


Egípcios, sumérios e pré-colombianos estão entre os poucos povos que se aventuraram a trabalhar com gravação e escultura em basalto.

O irmão rio

Bez Batti dialoga com as pedras desde a infância, na beira do Rio Taquari, no Rio Grande do Sul, onde vivia com a família.

O menino saía em solitárias caminhadas pela beira do rio (que é uma continuação do Rio das Antas), indo ao encontro dos seixos em suas margens e leito. Atravessava escarpas, sumia na sombra frondosa do arvoredo sobre a correnteza azul.

Nascido em Venâncio Aires (RS) em novembro de 1940, Bez Batti (tem o mesmo nome do pai, um imigrante italiano severo e trabalhador) um dia mudou-se para Bento Gonçalves. Fixou ateliê e residência na Linha São Pedro, numa casa de basalto com mais de cem anos, que faz parte dos Caminhos de Pedra, itinerário cultural onde se documenta a história da imigração italiana.





Desde então nunca ficou muito tempo longe do Rio das Antas. E quer que suas cinzas sejam espalhadas sobre as águas no dia em que morrer.

O Rio das Antas, essa criatura murmurante que caminha pela Serra do Rio Grande do Sul desde o início dos tempos.

O rio e seu ambiente ocupam o centro das preocupações ecológicas de Bez Batti. Há alguns anos administradores públicos vêm ali desenvolvendo projetos de engenharia, envolvendo represamento de águas e instalação de usina elétrica. Estas obras estão alterando a conformação do leito, submergindo áreas onde antes se podiam ver corredeiras, cristalinos lajeados entre as encostas verdes da mata. O rio escorrendo sobre o basalto.

De tanto conversar com as pedras e as águas, Bez Batti ganhou-lhes a confiança. Tornaram-se conviventes.

Os pequenos seixos e os altos penedos confidenciam-lhe coisas.

Falam de um tempo ancestral em que o Rio das Antas era um lugar povoado de claridade. Nele homens, bichos, plantas e pedras viviam em harmonia. Entendiam-se através da língua da intuição, do toque, do olhar demorado, da conversa, do respeito.

As esculturas do artista nos remetem ao encantamento de formas silenciosas, poéticas, sensuais. As saliências e concavidades nos levam à aurora da criação do mundo.

A arte africana toca o escultor muito de perto. Também marcam sua sensibilidade artistas como Pablo Picasso, Amedeo Modigliani, Constantin Brancusi, Henry Moore, e a arte antiga.

Basalto sanguíneo e o Arroio Tega

Em suas longas caminhadas pela natureza (ele não dirige, alguém o leva até os lugares de observação, pesquisa e meditação), descobriu novas faces, formas e cores do basalto. Segundo afirma, Caxias do Sul está erguida sobre uma das mais impressionantes províncias minerais de basalto que se tem conhecimento. Provavelmente não existe outra região com essa característica.



Além do basalto cinza, o mais comum de todos, ali se encontram inusitadas rochas de cor verde, verde-oliva, cacau, negra, rosa.

O basalto sanguíneo é resultado da persistente procura de Bez Batti. Identificou-o pela primeira vez no leito do Arroio Tega, que atravessa Caxias do Sul. Uma pedra tão bela quanto rara. O escultor acredita que, pelas evidências que colheu até hoje, o sanguíneo só existe no leito do Tega.

O encantador de pedras

Bez Batti é este artista que ousou abrir portas para uma maneira diferente de fazer escultura. Pagou um alto preço por isso. O caminho foi duro como um paredão de basalto.

Onde só havia rigidez mineral e o peso abissal da noite de milênios ele encontrou delicadeza e sentido.

Só um homem obstinado pela vida e pela beleza, absolutamente devotado à sua arte, poderia atingir os resultados que Bez Batti alcançou. Isto depois de enfrentar todas as incompreensões, limitações materiais e espirituais que o nosso meio costuma impor àqueles que se arriscam pelos caminhos da arte e da sensibilidade.




Ele nos mostra que existe beleza em estado bruto, esperando quem a desvele. E comprova, com seu ofício, que é preciso trabalhar muito para merecer o belo.

O senhor das pedras é também o homem da fé inabalável no trabalho. Nunca esperou apoios e estímulos, infelizmente quase inexistentes.

Construiu com as mãos uma arte inaugural.

Um encantador de pedras, ele diz que gostaria de ser (e é).

Bez Batti consegue extrair claridade do elemento mais primitivo que existe na natureza.

O que acontece com as rochas nos interstícios, nos poucos momentos de descanso do escultor? Elas se calam, retornam ao estado inanimado, por falta de seu poeta.

A arte, caminho para a iluminação

O que será o trabalho de uma vida senão esse lapidar constante sobre nossas imperfeições?

Ninguém nunca está completo. Ninguém é um bom ser humano por acaso.

Há que pegar o cinzel e reconstruir o homem e a mulher. É preciso reinventar a vida.

Sim, de toscas pedras podem brotar preciosos pássaros, plantas, frutos, cabeças humanas, torsos, semblantes, nichos, naturezas vivas, maternidades, segredos, tartarugas, peixes, rios, abstratos jardins.



Das mãos e da obstinação de Bez Batti nasce a maravilha. 

Até Bez Batti ir viver na beira do rio, ninguém conversava assim com os seixos e as rochas. Ninguém saía a andar pelo mundo armado apenas com o coração e a força do invencível cinzel.

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1. Uma poética do basalto. Texto de Ferreira Gullar no livro Bez Batti - Esculturas, do Instituto Moreira Salles, São Paulo, outubro de 2006.

2. Crédito das imagens:  1 - A foto de Bez Batti é de autoria de Ricardo Chaves. 2 - As fotos das esculturas são de Valdir Ben, que acompanha o escultor há mais de trinta anos; algumas delas estão publicadas no portal Artista Net.   


Texto publicado neste blog em 29/01/10.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

O coração todo errado ou a coisa dolorida

Jorge Adelar Finatto


Nas manhãs de sábado, ele costuma ficar sentado perto da janela da sala do apartamento, tomando mate e lendo alguma coisa, como agora. Não olha pra nada em especial lá fora, não há o que ver,  só edifícios com gente sozinha dentro. Peixes vivendo no aquário. Começa a chover. Ele fecha o vidro.
 
Faz dois anos que ela foi embora, numa manhã assim.  Disse que não queria chegar aos 30 ao lado do cara errado. O cara errado. O último café juntos. Não consegue esquecer. Será talvez um número mágico, um prêmio de loteria, a pessoa certa?

Ficou esse frio no coração. A coisa dolorida. Antes de fechar a porta,  ela pediu que  ele cuidasse dos peixes. Havia comprado o aquário antes de se conhecerem. Qualquer dia volto pra buscar, ela falou, tchau. 


Às vezes ele olha os dois peixinhos de perto. Eles mexem a boca como se dessem beijos junto ao vidro. Ele percebe nos seus olhos o mesmo vazio de quando se vê no espelho.

O apartamento ficou grande demais para os três. Se ao menos o telefone tocasse.

O coração todo errado.

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Foto: J. Finatto sobre ilustração de Maria Machiavelli.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

A volta do barco de papel

Jorge Adelar Finatto


Saí a navegar no meu barco de papel pra esquecer o mundo.

Eu, quando quero dar férias à realidade, entro no barco colorido e parto em viagem pelo Guaíba.

Dessa vez reforcei a embarcação. Tomei uma folha de papel mais resistente à intempérie, fixei melhor as dobras. Levantei mais a vela. Na parte interna, coloquei utensílios mais leves.

Um forte vento sul, porém, apanhou o barco no meio do rio. Agitou as águas de tal modo que as ondas começaram a jogar o barco pra cima. O pior era a queda livre na volta. O corpo ficou todo dolorido.

Pra piorar a situação, desabou uma tempestade.

Frágil, o barquinho foi se desmanchando. A vela foi a primeira peça a ruir.

Filipo, o papagaio que me acompanha nas navegações, achou que daquela não escaparíamos.

- Vamos morrer, capitán!

- Tenha fé, nobre Filipo -, disse-lhe eu. Não desanimemos numa hora dessas, amigo. As nuvens más haverão de dissipar-se.

O peixinho Moisés, nosso companheiro de aventuras, nadava aflito ao lado do pequeno veleiro.

Quando o barquinho, enfim, se transformou numa pasta branca de papel, eu respirei fundo antes de afundar no Guaíba.

Mas não era dia de morrer.

A ventania, na sua fúria, nos empurrara pra perto da margem.

Ao cair no rio, a água bateu na altura da cintura. Filipo, que estava encolhido e agarrado no meu esquerdo ombro, gritou animado:

- Conseguimos, capitán!

Moisés respirou aliviado, deu um salto de felicidade e voltou para o interior do rio.

A navegação em barco de papel é uma arte.

Como toda arte, tem sua ciência e seus segredos.

O que é preciso pra navegar desse jeito? Bem pouca coisa.

Uma folha branca, lápis de cor, imaginação e um coração quase feliz

 
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Imagem e foto: J. Finatto 
Publicado neste blog em 23/03/10.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Melodia sentimental

Juan Niebla


Sou cego e toco bandoneón na estação de trem abandonada de Passo dos Ausentes. Escrevo essas linhas pelas mãos do amigo Nefelindo Acquaviva. Tinha quinze anos, em 1950, quando fui nomeado músico oficial da estação, é um cargo público. Pouco tempo depois de começar o ofício, acabaram com os trens. Jamais deixei de tocar meu instrumento. Um dia pode ser que a ferrovia volte e eu vou estar aqui para receber os passageiros com minha música.  

Esta é uma cidade perdida nos Campos de Cima do Esquecimento. Como os leitores do blog sabem, sequer no mapa do Rio Grande do Sul nós figuramos. Somos um mistério a 1800 metros de altitude. Passamos 300 dias do ano envoltos na neblina, no frio e sob os rigores da chuva. Nos 65 dias restantes, neva.

A música espalhou claridade dentro de mim e ao meu redor. Vivo nas brumas desde os seis anos de idade.  As melodias têm sido a minha salvação. A presença e o afeto dos amigos são meu refúgio. Faço dois concertos por semana na estação, às terças e sextas, no fim da tarde. Acquaviva inaugurou um café na antiga gare, ficou um ambiente muito agradável.

Recebi um inesquecível presente do Cavaleiro da Bandana Escarlate. Trata-se do cd Melodia Sentimental, de Gilson Peranzzetta e Mauro Senise, com participação de Silvia Braga.  Esse disco tem sido meu encanto e meu consolo nesses inícios de primavera, quando os ventos sopram loucamente em todas as direções, deixando os habitantes da cidade um tanto deslembrados e aflitos.

A música de Peranzzetta - piano e arranjos - e Senise - sax alto, soprano e flauta - é inaugural. É como sentar na beira do córrego e ouvir a doce e estranha melodia da fundação do mundo. Como quando fico só na estação vazia, escutando o vento que vem pela grande curva da chegada dos trilhos.

A participação de Silvia Braga com sua harpa é um passeio pelo inefável, herança que algum anjo nos deixou quando passou pela Terra.

Música instrumental de fina origem, esse cd, editado pela Biscoito Fino, nos proporciona encontros sublimes com Villa-Lobos, Gabriel Fauré, Claude Debussy, Bach, Jobim e outros do mesmo nível. Não me canso de ouvir esse belo e emocionante trabalho.

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Foto: Peranzzetta, Silvia Braga e Senise (direita). Por Ana Luísa Marinho, divulgação.

Notícias de Passo dos Ausentes nos posts de 24/9/10, 9/9/10, 25/6/10.

domingo, 17 de outubro de 2010

O Tega

Jorge Adelar Finatto


O arroio Tega
era um som
um toque
um fio ligeiro
de água limpa
escorrendo mundo afora
no fundo das casas
da gente humilde

certo dia
emparedaram
o Tega

um pedaço
da minha vida
afundou junto

agora flui invisível
no subterrâneo

carrega na sombra
as tardes que se foram
perdidos barcos de papel
os sonhos do menino

em rumo cego
segue o velho Tega

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Poema do livro Memorial da vida breve, Editora Nova Prova, Porto Alegre, 2007.
Foto: J. Finatto

sábado, 16 de outubro de 2010

Lições do deserto

Jorge Adelar Finatto



O resgate de 33 mineiros do fundo de uma mina, a 700 metros de profundidade, no deserto de Atacama, no Chile, mostrou ao mundo, e a cada um de nós, o que podem a boa vontade, a união e a fé das pessoas. Dos 69 dias que passaram lá embaixo, 17 deles foram incomunicáveis. Na escuridão completa ou  na semiescuridão, durante todo o período, encerrado no último dia 13 de outubro, os mineiros nos deram uma demonstração de solidariedade, de crença em algo melhor, de obstinada determinação em seguir vivendo, contra toda adversidade.

Quantas vezes nos sentimos irremediavelmente solitários, incapazes de mudar qualquer coisa ao nosso redor e em nossas vidas? Pois aqueles 33 homens do povo - não havia nenhum com pós-graduação, mestrado, doutorado ou pós-doutorado - nos ensinaram coisas esquecidas em tempos de louco egoísmo, consumo, cinismo e total falta de limites na busca de bens materiais e do prazer a qualquer preço.

Havia vários tipos humanos no interior daquele terrível poço. Líderes com incrível capacidade de lidar com a crise, indivíduos amorosos com a família e com os amigos, alguns religiosos,  outros mais sensíveis, uns mais otimistas e determinados, um ou outro mais triste, quem sabe até algum desesperado. Mas fizeram uma opção inarredável de continuar lado a lado, lutando até o fim, fosse qual fosse o desfecho.  

O ser solidário não significa a eliminação da individualidade. Pelo contrário, é essa rica afirmação de sensibilidades, inteligências e jeitos de ser que nos mantém  vivos sobre o planeta ao longo dos seis milênios em que nele habitamos. Mas não podemos  nunca perder de vista a importância do com-viver, da empatia, da capacidade de se comover com o nosso semelhante. 

A vida só faz sentido na partilha do pão, do sentimento, da esperança. Só assim podemos vencer o medo. 

Do fundo da mina, em pleno deserto, o espírito humano  demonstrou que pode ser mais forte do que a morte, que juntos somos capazes de sobreviver e ir além. 

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Foto: Resgate do último mineiro. Fonte: Ap (copiada do site ultimosegundo.ig.com.br)