sexta-feira, 29 de abril de 2011

Fernando Pessoa, Cartas Astrológicas



A partir da interpretação das cartas astrológicas de Fernando Pessoa sobre personalidades mundiais, Portugal e dos seus heterónimos, Fernando Pessoa – Cartas Astrológicas, de Paulo Cardoso e Jerónimo Pizarro, explica, de modo acessível e rigoroso, como a astrologia se insinua na obra de um dos maiores poetas portugueses.

Apresentação da obra por José Blanco: 03 de maio, às 18h30min, na Casa Fernando Pessoa, em Lisboa.
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Câmara Municipal de Lisboa
Casa Fernando Pessoa
R. Coelho da Rocha, 16
1250-088 Lisboa
Tel. 21.3913270
Autocarros: 709, 720, 738 Eléctricos: 25, 28 Metro: Rato
http://casafernandopessoa.cm-lisboa.pt
www.mundopessoa.blogs.sapo.pt

Reprodução de notícia da Casa Fernando Pessoa. A grafia é a de Portugal.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Aos que dizem que tudo é possível

Jorge Adelar Finatto


Aos que dizem que tudo é possível, eu digo sim, tudo pode via a ser. Mas que venha logo, sem demora, sem promessas delirantes, que desperte, enfim, a luminosa manhã. 

A treva tomou conta do Brasil, da cidade, da minha rua, entrou na minha casa.

Fugir pra onde? Se tudo em volta suspira e dói. 

Se tudo é possível, que venham as pequenas alegrias, as inesperadas ternuras, os abraços escondidos, as urgentes revelações, as mãos dadas.  

Se tudo é possível, um casal dançará um fado rasgado em plena calle deserta.

Se tudo é possível, abrirei o guarda-chuva e sairei pela noite em busca de açucenas em setembro pra deixar em tua porta.

E se tudo for mesmo possível, vamos enfrentar o problema do medo de viver

(a morte, essa coisa numerosa e fria, está em toda parte e não faz mais espanto).

Dizem eles que tudo na vida é possível.

Que venha depressa essa ventura.

Que não nos falte o impossível amanhecer.

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Foto: J. Finatto

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Apresentação da revista Nova Águia dedicada a Fernando Pessoa



Miguel Real e Renato Epifânio estarão na Casa Fernando Pessoa dia 29 de Abril pelas 18h30 para a apresentação do novo número da revista Nova Águia, que tem como tema Fernando Pessoa: 'Minha pátria é a língua portuguesa' - Nos 15 anos da CPLP. A Nova Águia - que surgiu em 2008 - é hoje uma referência incontornável no panorama cultural lusófono, estendendo-se as suas apresentações públicas a largas dezenas de cidades não só em Portugal, mas também no Brasil, em Timor-Leste, Cabo Verde, Índia e Angola. A lista de colaboradores inclui nomes consagrados como António Braz Teixeira, Adriano Moreira, António Telmo, Pinharanda Gomes, António Cândido Franco, Artur Manso, Miguel Real, Joaquim Domingues, Manuel J. Gandra e Jorge Telles de Menezes, mas dá também voz aos novos autores da lusofonia. Inspirando-se na visão de Portugal e do Mundo de Teixeira de Pascoaes, Fernando Pessoa e Agostinho da Silva, a Nova Águia assume-se como um órgão plural. Na mesma ocasião será ainda apresentada a revista Letras com Vida, do Centro de Literaturas e Culturas Europeias e Lusófonas da Faculdade de Letras de Lisboa.

Câmara Municipal de Lisboa
Casa Fernando Pessoa
R. Coelho da Rocha, 16
1250-088 Lisboa
Tel. 21.3913270
Autocarros: 709, 720, 738 Eléctricos: 25, 28 Metro: Rato

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Reprodução de notícia da Casa Fernando Pessoa.

terça-feira, 26 de abril de 2011

A palavra em silêncio

Jorge Adelar Finatto


Reescrever será, talvez, o vero escrever.

A palavra em silêncio é a palavra em estado de poema. É a expressão que busca, no cotidiano, a poesia existente nas coisas e nos seres.

O poeta não faz poesia, disse o poeta cruz-altense Heitor Saldanha. O poeta faz o poema, ensinou Heitor, sem nenhuma intenção professoral, do alto do seu gênio e da sua humildade.

A poesia existe em si, solta no mundo, enquanto o poema é a tentativa de colher esta revelação.

Nada grita como o poema, esta construção verbal, quase sussurro. O poema não é marketing pessoal, não quer vender nada. É como um rio vivo, correndo no fundo da memória e do tempo.

A palavra, irmã da vida, vida cheia de sofrimento, encanto, esperança, vida que quer ir além da miséria existencial, vida nossa de todos os dias, que tão pouco conhecemos.

O verso é a procura da comunicação, nasce em silêncio, abre caminho para a claridade. O poema reduzido ao rumor de sua incomparável verdade.

A expressão avessa ao ruído da conveniência e do agrado fácil, que só se afirma na medida do alvoroço interno da própria luz que produz.

A palavra lavrada a frio, na entranha quente da vida.

O ato de publicar em livro deve ser exceção no ofício do escritor. Uma parte significativa do que se publica não tem qualidade para ser impressa. O respeito ao leitor, e até mesmo às árvores que se derrubam para fazer livros, requer isso. Podemos ser exigentes naquilo que escrevemos.

Precisamos dar o nosso melhor, fazer o possível. É claro que sempre há uma insegurança quanto ao que, como e quando publicar. Mas em geral o bom texto emite sinais, se impõe como algo que poderá ser socializado através da publicação.

Reescrever será, talvez, o vero escrever.

Uma parada na estação-gaveta, por algum tempo, pode salvar um texto. Em literatura, prefiro o fazer pouco, mas fazer bem.

Publicar qualquer coisa, publicar por publicar, fazer carreira de poeta ou escritor, não é  e nunca foi o meu caminho. As coisas ruins que publiquei o fiz pensando que eram boas. A gente também se engana.

Ninguém deve se sentir acuado diante da palavra. Ninguém está obrigado a só escrever matéria excelente, isso só aumenta a angústia e desestimula. Não existe, de resto, a obra literária perfeita.

A alegria precisa ser nossa irmã na travessia da escrita.

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Foto: J. Finatto

segunda-feira, 25 de abril de 2011

O que vem chegando

Jorge Adelar Finatto



O que vem chegando
desde muito longe
no longo apito
do navio

saudade de mim?


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Do livro O habitante da bruma, Editora Mercado Aberto, Porto Alegre, 1998.
Foto: J. Finatto

sábado, 23 de abril de 2011

Manhã de Páscoa

Jorge Adelar Finatto



O que as mulheres estão olhando? O que vem pela frente na estrada do tempo? Quem ficou em casa sem nada esperar?

Que mistérios, que notícias virão enrolados nos palimpsestos da manhã de Páscoa?

O amanhecer avança entre as sombras, espalha-se no ar azul.

O que há de luminoso no domingo de Páscoa é que todos estão vivos. Anda pela casa o cálido rumor de vozes, conversas, cantigas, risos, que começa na quinta-feira Santa e se estende até a Ressurreição.

Todos estamos vivos e a esperança habita entre nós.

A vida vence a morte e nada está perdido.

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Imagem: pintura Manhã de Páscoa, de Caspar David Friedrich (1774 - 1840). Fonte: Museu Thyssen-Bornemisza, Madri, Espanha: http://www.museothyssen.org

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Talvez com a chuva

Jorge Adelar Finatto


Talvez com a chuva
recupere a coragem
e saia por aí batalhando
as coisas que acredito

talvez nos tornemos
até bons amigos e unidos
expulsemos o medo
pra fora das gavetas

talvez a gente
consiga se olhar
e vai ser
o começo de tudo

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Poema do livrinho Viveiro, Edições Sanguinovo, São Paulo, 1981.
Foto: J. Finatto