segunda-feira, 16 de maio de 2011

José Carlos Oliveira, cronista

Jorge Adelar Finatto


Sou contumaz leitor de jornais. Nesse tempo todo, acho que tenho procurado não propriamente notícias do mundo que é, mas de um outro, mais delicado e venturoso, que infelizmente insiste em não aparecer nas páginas impressas.

Costumo guardar recortes de textos que me tocam, alguns deles nunca saem depois em livro. Há alguns dias peguei pra reler um desses papéis, uma crônica do saudoso jornalista e escritor José Carlos Oliveira (1934 - 1986), intitulada O livro dos analfabetos (Jornal do Brasil, Caderno B, 21 de janeiro, 1981).

Nela, lê-se o seguinte trecho:

Um verdadeiro homem é um poema torto. Um verdadeiro homem não é um santo nem um herói, porque esses são filhos diletos de Deus e neles Deus escreve certo; um verdadeiro homem não é um monge anacoreta, porque este corajosamente se furta à existência erradia, errante e errada que a nossa tribo se compraz em viver ou é induzida, ou conduzida, ou forçada a viver. O verdadeiro homem é experimental (...)

Estimulado por essa bela crônica, fui à livraria e comprei O homem na varanda do Antonio's, crônicas da boemia carioca nos agitados anos 60/70, publicação organizada pelo também jornalista e escritor Jason Tércio e editada pela Civilização Brasileira em 2004. 

O livro é encantador. Vale a pena ler o texto bem trabalhado, sensível, perspicaz e brilhante de José Carlos Oliveira (o Carlinhos Oliveira), um dos nossos grandes cronistas.
 

Manuel António Pina: Prêmio Camões de Literatura 2011

Jorge Adelar Finatto


O Prêmio Camões de Literatura 2011 foi atribuído, na quinta-feira, 12 de maio, ao poeta e escritor português Manuel António Pina, 67 anos. O resultado foi divulgado  na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro e o júri justificou a premiação com fundamento na inventividade e originalidade da obra do autor. Ele publicou, entre outros, O país das pessoas de pernas para o ar (infanto-juvenil) e Aquele que quer morrer (poesia).

Manuel António Pina colabora diariamente como cronista  no Jornal de Notícias, de Portugal. É bacharel em Direito, tradutor e, no passado, também foi jornalista.

Em entrevista concedida a Sérgio Almeida, do Jornal de Notícias, em 20 de julho de 2010, declarou o poeta:

Não escrevo poesia como escrevo crónicas, profissionalmente. No caso da poesia, sou antes amador, isto é, aquele que ama. Só escrevo poesia quando não posso deixar de escrevê-la. Ou, como Borges diz (acho que é Borges), quando uma espécie de incomodidade, ou de remorso, me força a procurar a poesia. O facto de passar às vezes anos sem publicar poesia não significa que tenha deixado de escrever poesia. Tenho há muito um livro praticamente pronto, reunindo poemas dispersamente publicados aqui e ali, em jornais e revistas, e inéditos. Não tenho é tido tempo (nem pachorra) para trabalhar sobre alguns poemas que continuam à procura de si mesmos. Dois ou três deles estão há anos presos por um único verso; tenho, d e alguns desses versos, inúmeras versões, ou tentativas, mas não são o que procuro. Embora não saiba o que procuro, sei que, quando o encontrar o reconhecerei. Resta-me esperar; não tenho pressa.

Se existe algum valor em prêmios literários, e eles são poucos considerando os escritores existentes, é o de revelar autores de mérito (quando assim o fazem), independente de ações de marketing por parte da indústria do livro. Nunca li nada de Manuel Pina. Mas, diante desta sua declaração, reveladora de um escritor humano e dedicado, vou atrás de um livro seu para conhecê-lo um pouco mais. 

O Prêmio Camões é considerado a mais importante distinção em língua portuguesa e, em 2010, o vencedor foi o poeta brasileiro Ferreira Gullar.

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Foto: Manuel António Pina. Fonte: Jornal de Notícias, Portugal.

sábado, 14 de maio de 2011

Palavras com pássaros dentro

Jorge Adelar Finatto


Escrever coisa leve, talvez bonita. Eu gostaria de ver o mundo com bons olhos nessa manhã de maio. Uma frase, um verso com pássaros e arroios cantando dentro. A mesa posta para o café da manhã com os amigos, a conversa e o abraço depois de tanto, tanto tempo. Caminhei através dos segredos e das almas da noite. Vi coisas e precipícios de que não quero recordar. Arrastam-se sombras no átrio da aurora. Queria dizer um barco branco com uma vela lilás nas águas calmas do amanhecer. Queria encontrar a garrafa com a urgente e cálida mensagem para os habitantes das ilhas. Os moradores das ilhas foram viver na cidade, levando as ínsulas no coração, com seu isolamento, sua inocência perdida, a distante memória dos peixes. Estou entrincheirado na primeira claridade. Um farol iridescente desliza entre as nuvens, o pássaro inaugura o canto no galho invisível dessa manhã.


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Foto: J. Finatto

quarta-feira, 11 de maio de 2011

A vida com arte

Jorge Adelar Finatto




A arte é uma espécie de olho mágico que nos permite conhecer e viver outras vidas além da nossa. A obra que toca nossa emoção e nossa consciência é a mesma que nos retira do aqui e agora, nos faz transcender e ver além. Aí estão a música, os livros, os filmes, a pintura, a escultura, a fotografia, o artesanato (suas mil formas e materiais) e tudo o mais que as pessoas criam com desvelo e sentimento. Um prato de comida pode ser uma obra de arte, assim como uma casa limpa e arrumada com gosto, um jardim bem florido e cuidado, uma boa conversa. A natureza também está cheia de arte e graça. Por tudo isso, sou grato a Deus e aos que criam coisas capazes de aumentar nossa percepção sobre os seres e o mundo. Palavra após palavra, imagem após imagem, sentido após sentido, a gente vai se construindo a cada instante. 


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Foto: J. Finatto 

terça-feira, 10 de maio de 2011

A hora da solidão

Jorge Adelar Finatto



Porque a vida é breve, não há certeza de nada e a grande arte é levantar-se depois do tombo. Porque o amor roçou o coração como um vento frio e foi embora. Porque há uma casa na sombra e alguém abandonado lá dentro. Porque ele a procurou em muitos lugares. Porque sente que ela não voltará. Porque a noite chegou e ele não sabe o que fazer com o que restou da sua presença. Porque precisa vencer sozinho o medo do escuro. Porque é hora de varrer os destroços, reinventar a vida e não morrer de solidão.


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Foto: J. Finatto 

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Ausência

Jorge Adelar Finatto




Eu chamo teu nome
                            no escuro
no escuro meus olhos procuram
                                       procuram
até secar de tanta espera



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Poema do livro Claridade, Prefeitura Municipal de Porto Alegre, 1983.
Foto: J. Finatto
 

sábado, 7 de maio de 2011

Maureen Bisilliat: exposição de fotografias sobre o universo de João Guimarães Rosa



“Aprecio imagens aliadas à escrita, frases escolhidas definindo melodicamente a linha da orquestração. Em livros como os de Diane Arbus (1923-1971), de Nan Goldin (1953), há essa orquestração: ritmos, silêncios, acordes, vazios. A palavra, escolhida da produção literária ou pinçada do testemunho biográfico, vem da fala íntima da pessoa, destilada. Seria quase como escrever com a imagem e ver com a palavra.” (Maureen Bisilliat)

A exposição A João Guimarães Rosa permite um olhar simultâneo sobre a produção fotográfica e a produção editorial de Maureen, revelando tanto a fotógrafa como a editora de imagens e textos nesta exposição sobre Guimarães Rosa e o universo do sertão brasileiro e dos seus personagens. Os seus ensaios fotográficos foram sempre concebidos e apresentados em fortes sequências visuais que sintetizam a visão da autora sobre os universos do real e do imaginário, compondo aquilo que denomina de equivalências fotográficas das obras literárias que nortearam o seu trabalho.

Maureen Bisilliat nasceu em Englefieldgreen, Surrey, Inglaterra, em 1931. Estudou pintura com André Lhote em Paris (1955) e no Art Students League em Nova Iorque (1957) antes de se fixar definitivamente no Brasil em 1957, na cidade de São Paulo. Trabalhou como fotojornalista para a Editora Abril entre 1964 e 1972. Autora de importantes livros fotográficos inspirados em obras de grandes escritores brasileiros, expõe em 1985 em sala especial na 18ª Bienal Internacional de São Paulo. Em Dezembro de 2003, a sua obra fotográfica completa, composta por cerca de 16.000 imagens, foi incorporada no acervo fotográfico do Instituto Moreira Salles (IMS) no Rio de Janeiro em função da sua inquestionável relevância no âmbito da fotografia e da cultura brasileiras.

A Casa Fernando Pessoa e o Instituto Moreira Salles sentem-se honrados em trazer esta exposição para Portugal, pois entendem que a síntese entre imagem e texto que Maureen Bisilliat realiza nesta mostra em homenagem a Guimarães Rosa possibilitará ao público português aproximar-se ainda mais deste autor da língua portuguesa que reflecte e regista na sua obra aspectos profundos e determinantes da cultura brasileira, evidenciados igualmente nas marcantes imagens de Maureen aqui reunidas.

A exposição conta ainda com o apoio do Bairro Alto Hotel.


Câmara Municipal de Lisboa
Casa Fernando Pessoa
R. Coelho da Rocha, 16
1250-088 Lisboa
Tel. 21.3913270
Autocarros: 709, 720, 738 Eléctricos: 25, 28 Metro: Rato

Notícia e imagem reproduzidas do site da Casa Fernando Pessoa. A grafia é de Portugal.