terça-feira, 21 de agosto de 2012

Glauber, Guimarães Rosa, Jorge Mautner

O Cavaleiro da Bandana Escarlate

Jorge Mautner e o diretor Heitor D'Alincourt no
tapete vermelho (Foto: Cleiton Thiele/Pressphoto


Na sexta-feira, 17, ainda com olheiras e calafrios da gripe (que me derrubou por cinco dias no quarto de hotel), compareci ao cinema para o último dia do Festival de Gramado (único a que pude assistir).

Não comuniquei antes ao autor do blog o meu estado, achando que me recuperaria a tempo. Nada disso. Henriette, a gentil francesa que está em minha casa (de visita) há 25 anos (ela afirma que ainda não decidiu se ficará comigo ou se retornará a sua iluminada Paris), estranhou a ausência dos textos sobre o festival (conforme me havia comprometido no post do dia 10), subiu a serra para ver o que estava acontecendo. Me salvou.

A doce demoiselle jogou-me no banco traseiro do meu antigo Citroen (preto, com aqueles paralamas ondulados que até parecem pista de tobogã), trouxe-me de volta para o solar aqui na Praça Maurício Cardoso, onde convalesço. Coloquei as chinelas e o roupão de Marcel Proust, e entrei no espírito.

Contou-me ela (acho que gosto dessa garota mais do que pensava) que durante a penosa viagem de Gramado a Porto Alegre (o fordeco não passa dos 50 km/h) eu delirei. Era a febris maledicta falando em mim.

Segundo Henriette, conversei com seres invisíveis, entre eles Glauber Rocha. No meu delírio, o glorioso cineasta baiano assegurou que estava voltando a fazer filmes. O projeto imediato era filmar A terceira margem do rio, conto de J.G. Rosa (inventor da obra-prima universal Grande sertão: veredas).

Mas tudo não passou de um desejo inconsciente, aflorado quase in extremis.

                         *                        *                        *

O que mais gostei, nesse derradeiro dia da mostra competitiva, foi Jorge Mautner, o filho do holocausto, direção de Pedro Bial e Heitor D'Alincourt. Sempre me interessou a visão irreverente, criativa e reveladora que Mautner tem do nosso país e do nosso mundo.

De origem judaica,  seus pais emigraram para o Brasil, fugindo do holocausto. Ele nasceu a 17 de janeiro de 1941 no Rio de Janeiro. Uma parte de sua família foi morta nos campos de concentração nazistas.

Jorge Mautner é filho dessa história e daquela outra, muito mais rica e luminosa, que começa com seu nascimento no Brasil, passa pela formação em cultura tão diversa como a brasileira e continua no escritor, filósofo, músico, compositor e artista que ele se tornou.

Sua construção humana está toda marcada pela experiência existencial no cadinho chamado Brasil, onde tudo que no mundo se divide aqui se encontra, gerando uma outra coisa.

A terna babá com quem Jorge conviveu até os sete anos era ialorixá e o levava ao terreiro de candomblé, no qual o menino ouvia os batuques, via as cores, movimentos. Nunca mais esqueceu.

Mautner vê o mundo a partir do Brasil, com sua miscigenação, suas mesclas culturais, seus modos de ser e fazer, seu rico acervo de influências em todos os campos, tudo isso e mais a prática da tolerância pela necessidade de convivência com o diferente.

Jorge, presente no Palácio dos Festivais em Gramado, disse antes da projeção do filme:

Ou o mundo se brasilifica ou virará nazista.

E afirmou, também: Esse filme representa a amálgama do Brasil universal. (...) Árabes e judeus aqui são sócios.

Isto e muito mais temos a admirar neste belo documentário-documento: a revelação do que somos e do que podemos vir a ser. O filme ganhou três prêmios (Kikitos): melhos fotografia, melhor roteiro e melhor montagem, na categoria dos longas-metragens nacionais.

Estará, digo eu, no convívio de opostos e de diferentes, nessa aceitação da alteridade, na transposição para um outro estágio civilizatório a possível contribuição brasileira para um novo mundo, muito mais fraterno e humano.

Gostei do filme por tratar dessas questões de forma aberta, com esperança, sem endurecer interpretações, pelo contrário, abrindo possibilidades  para o futuro que aqui já começou, mestiço e plural, em direção ao homem e mulher solidários, nesse novo tempo no qual ansiamos viver.

Agora desligo a máquina pois Henriette me busca para sorver o caldo verde (enclave lusitano em nosso viver), sob a pérgula, no jardim. Olho para nós assim e penso que somos dois adoráveis velhinhos (espero que essa garota não volte para a França tão cedo).

domingo, 19 de agosto de 2012

Efêmera canoa

Jorge Adelar Finatto


photo: j.finatto


Vista do continente parece uma figura saída de um cartão postal. Recordação de um passado distante.

Diante da cidade indiferente, atravessa lenta e quase invisível a canoa.

Nenhuma imagem é tão bela como a cidade e seu rio.

A solidão da canoa desliza na paisagem, em lenta e agonizante viagem em direção ao crepúsculo.

O homem atrás do peixe.

O pescador e o peixe à sombra da cidade cinza e desolada.

O observador, na beira do rio, alimenta a ilusão de beleza e permanência.

O olho faminto registra o calado movimento, a passagem da canoa em seu delicado itinerário.

A canoa, a cidade, o homem, o peixe e o olho habitam o efêmero momento.

Todos rumo ao oblívio.

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Porto Alegre e o Rio Guaíba. Texto revisto, publicado antes em 24, fevereiro, 2012. 

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Como esses pássaros que emergem

Jorge Adelar Finatto


photo: j.finatto



Como esses
                     pássaros
que emergem
de remotos abismos
o poeta ressurge
no coração da ilha
                     para colher
a suma revelação



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Do livro O habitante da bruma, Jorge A. Finatto. Editora Mercado Aberto, Porto Alegre, 1998.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

As borboletas de Fukushima

Jorge Adelar Finatto

borboleta com mutação (abaixo). Agência EFE

As borboletas que vivem nas áreas próximas à Usina Nuclear de Fukushima, no nordeste do Japão, estão sofrendo mutações genéticas.

A radiação liberada no ambiente durante o acidente ocorrido na usina, em março de 2011, em razão do terremoto e do tsunami que assolaram o país, está alterando as formas das asas e antenas das borboletas, entre outras mudanças. A notícia foi publicada no Scientific Reports desta semana.
A incidência das mutações se dá em borboletas que comem alimentos contaminados pela radiação e naquelas cujos pais já foram atingidos por alterações genéticas.

Cresce no Japão e no mundo a consciência de que precisamos partir urgentemente para o uso de energias limpas, como eólica e solar, deixando para trás a atômica e a que resulta da queima de combustíveis fósseis.

O risco de acidentes nucleares coloca em constante perigo a existência dos seres vivos em nosso planeta. Não precisa muito: um erro humano, um evento da natureza ou um desastre por qualquer motivo são suficientes para causar irreparáveis danos genéticos, quando não a extinção da vida.

As borboletas, ao natural, têm vida brevíssima, duram em média de duas a quatro semanas. Algumas mariposas vivem apenas um dia.

Além das horas que destinam a coisas prosaicas como prover suas necessidades e fugir de predadores, pouco tempo resta às borboletas para viver e ser feliz.

O tempo das borboletas de Fukushima ficou ainda menor, depois que a radiação lhes impregnou o corpo frágil. Sabe-se lá as dores que sentirão com as mutações, para não falar da decepção de se sentirem diferentes das outras.
As mutilações genéticas das borboletas dizem respeito a todos nós. A brevidade da nossa própria existência recomenda todo o cuidado possível com a vida em geral. Precisamos compartilhar com os outros seres o milagre de estar vivo.
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Sobre o tsunami no Japão em março de 2011:
http://ofazedordeauroras.blogspot.com.br/2011/03/hokkaido-ilha-do-coracao.html

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Stefan Zweig

Jorge Adelar Finatto

Stefan Zweig. Arquivo Casa Stefan Zweig


A abertura ao público da Casa Stefan Zweig, na cidade de Petrópolis, Estado do Rio de Janeiro, no mês de julho último, deve ser saudada como um importante acontecimento para o Brasil e para os leitores de todo o mundo.

Trata-se de um centro cultural e museu, no imóvel onde viveram, entre setembro de 1941 e fevereiro de 1942, o escritor de origem judaica Stefan Zweig e sua mulher Lotte, até o suicídio de ambos em 23 de fevereiro de 1942.

Apaixonado pelo Brasil, que conhecera em 1936, o autor, nascido em Viena em 1881, foi morar em Petrópolis, fugindo do nazismo e do fascismo que jogaram a Europa e o mundo num túnel de estupidez, maldade e destruição. Antes, havia vivido um período na Inglaterra e outro nos Estados Unidos. 

Entusiasmado com o novo país, escreveu Brasil, um país do futuro. A obra que deixou é extensa e plural, abrangendo vários gêneros, da poesia ao romance, passando por ensaios e memórias, entre outros escritos.

O que motivou o suicídio do casal, segundo se afirma, foi a depressão causada pelos horrores da guerra e a desesperança com o rumo da política e com o futuro da cultura de língua alemã. Sentiram-se incapazes de recomeçar um nova existência.

Há poucos dias li o livro 24 horas na vida de uma mulher¹, em que Zweig narra a história de um dia na vida de uma mulher inteligente e culta. Ela se envolve com um homem jovem que perde tudo na mesa de jogo e pensa em se matar. Trata-se de um pequeno e precioso volume de 112 páginas, em que o escritor penetra na alma dos personagens, deles extraindo a beleza, a humanidade, o êxtase e o abismo que cada um carrega dentro de si.

Diz-se que era um dos livros preferidos de Freud. Não admira que assim fosse, tal a maneira como o autor percorre os meandros da psique humana e os caminhos da criação. Em certo trecho do livro, Sweig diz aquilo que, no fundo, acho que todo escritor gostaria de dizer ao leitor:

"Foi bom poder lhe contar tudo isso: sinto-me mais leve, e quase contente... obrigada por isso."²

Ele foi amigo de grandes intelectuais de seu tempo, como o poeta belga Émile Verhaeren, seu primeiro grande mestre, Rainer Maria Rilke, Theodor Herzl, Walter Rathenau, Maxim Gorki, James Joyce, Arthur Schnitzler, Joseph Roth, Romain Rolland e Sigmund Freud, entre outros.

Para os que, como eu, pouco conhecem a obra e a vida de Stefan Zweig, recomendo uma visita ao rico site oficial da Casa³, no link indicado abaixo. Nele se tem acesso a importantes informações, imagens e textos do e sobre o escritor, como a impressionante declaração que deixou escrita a propósito do seu suicídio:


Declaração

Antes de deixar a vida, de livre vontade e juízo perfeito, uma última obrigação se me impõe: agradecer do mais íntimo a este maravilhoso país, o Brasil, que propiciou a mim e à minha obra tão boa e hospitaleira guarida. A cada dia fui aprendendo a amar mais e mais este país, e em nenhum outro lugar eu poderia ter reconstruído por completo a minha vida, justo quando o mundo de minha própria língua se acabou para mim e meu lar espiritual, a Europa, se autoaniquila.

Mas depois dos sessenta anos precisa-se de forças descomunais para começar tudo de novo. E as minhas se exauriram nestes longos anos de errância sem pátria. Assim, achei melhor encerrar, no devido tempo e de cabeça erguida, uma vida que sempre teve no trabalho intelectual a mais pura alegria, e na liberdade pessoal, o bem mais precioso sobre a terra.

Saúdo a todos os meus amigos! Que ainda possam ver a aurora após a longa noite! Eu, demasiado impaciente, vou-me embora antes.

Stefan Zweig
Petrópolis, 22. II. 1942

Trad. André Vallias


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¹ 24 horas na vida de uma mulher. Stefan Zweig. Editora L&PM, Coleção Pocket, vol. 589, Porto Alegre, 2011.
² idem, p. 106.
³Casa Stefan Zweig. Site oficial: http://www.casastefanzweig.org/sec_textos_list.php


sábado, 11 de agosto de 2012

Jorge Amado

Jorge Adelar Finatto


Nos 100 anos do nascimento de Jorge Amado, comemorados ontem, 10 de agosto, reproduzo este depoimento. Salve, Jorge.

Antes de enveredar para o Direito e depois para a magistratura, trabalhei como jornalista, após fazer a faculdade de jornalismo. Em dezembro de 1984, tive oportunidade de entrevistar Jorge Amado (1912 - 2001). A entrevista foi marcada através de carta e telefone. Na época eu escrevia sobre a vida e a obra do porto-alegrense Alvaro Moreyra (1888 - 1964).

Jorge Amado concordou em dar um depoimento. Fiquei feliz com a atenção do grande escritor baiano, que na ocasião veio a Porto Alegre autografar o romance Tocaia Grande, lançado naquele ano. Aproveitei e pedi que assinasse o exemplar do livro que havia comprado especialmente para o encontro.

A entrevista durou cerca de uma hora e meia no saguão do hotel. Zélia Gattai, sua mulher e também escritora, deixou-nos à vontade para a conversa. Naquele tempo, o casal Amado residia uma parte do ano em Paris e outra, no Brasil. Jorge gostava de modo especial do outono parisiense. Em Salvador encontrava dificuldade de escrever devido à procura dos leitores, jornalistas e mesmo turistas, que queriam conhecer a casa onde morava o criador de Gabriela, cravo e canela.

Não tenho dúvida de que o que o levou a concordar com a entrevista foi o respeito, a admiração e o carinho que nutria pelo amigo Alvaro Moreyra, cuja casa passou a frequentar desde que chegou ao Rio de Janeiro, ainda muito jovem.

Pedi-lhe que falasse, entre outros assuntos, sobre o que representou a casa de Alvaro e Eugênia Moreyra, na rua Xavier da Silveira, 99, em Copacabana, na qual o casal passou a morar a partir de 1918. Assim respondeu:

"A casa de Eugênia e Alvaro Moreyra, ali em Copacabana, é um dos centros da vida literária e cultural do país. Essa casa, na rua Xavier da Silveira, número 99, era uma espécie de estuário onde desembocavam as inquietações culturais da época, sobretudo na literatura. Ali compareciam os jovens escritores, principalmente aqueles ligados à esquerda, ao Partido Comunista, à juventude comunista (aquilo que depois foi a Aliança Nacional Libertadora). Ali vinha todo mundo. Aquela casa aberta foi minha casa naquele tempo. Para os escritores que, como eu, chegaram ao Rio no início dos anos 30 - eu tinha então dezoito anos - a convivência com Alvaro e Eugênia foi muito importante. Quase todas as noites eu ia lá. Esse convívio foi bastante intenso até por volta de 1935. Depois, com o Estado Novo, as coisas se modificaram. A atmosfera do 99 estava de acordo com a calma e a bondade de Alvaro e com a enorme energia de Eugênia, que ao lado de suas atividades como mãe de família, atriz e militante política da esquerda, encontrava tempo para fazer aqueles panelões de lentilha para alimentar os visitantes. Como Alvaro era um homem de poucos recursos, havia sempre num canto da sala uma espécie de caixa onde cada um colaborava com alguns vinténs para comprar a comida."

A imagem que guardo de Jorge Amado é a de um homem extremamente talentoso e simples, afável no trato, preocupado em preservar a memória cultural e histórica do nosso país, e mais aquela capacidade que ele tinha de ser afetivo.

O importante escritor que ele foi, é e sempre será se explica, também, pela sua grande figura humana.

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Foto: Jorge Amado. Fonte: Fundação Casa de Jorge Amado, Salvador, Bahia, site:
www.fundacaojorgeamado.com.br
Texto publicado em 12 de julho de 2010.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

40º Festival de Cinema de Gramado

O Cavaleiro da Bandana Escarlate


imagem:site oficial do festival: http://festivaldegramado.net/2012/


A partir das 17h desta sexta-feira, terá início a cerimônia de abertura do 40º Festival de Cinema de Gramado, na Rua Coberta (só para pedestres), ao lado da praça central da cidade. A programação oficial começa às 19h com a exibição do longa "360", de Fernando Meirelles, que conta nove histórias inter-relacionadas que retratam os relacionamentos no século 21. Meirelles estará presente. O Fazedor de Auroras, como sempre acontece, fará a cobertura (resumida) do evento, que se estende até 18 agosto. Esta edição terá como homenageados a atriz Beth Faria, com o Troféu Oscarito; o jornalista e cineasta Arnaldo Jabor, com o Troféu Eduardo Abelin; o cineasta argentino Juan José Campanella receberá o Kikito de Cristal. Ele dirigiu, entre outros, O Segredo de seus olhos, premiado com o Oscar de melhor filme estrangeiro, em 2010. Além disso, em 2002, seu filme El hijo de la novia conquistou três kikitos em Gramado. A atriz Eva Wilma receberá o troféu Cidade de Gramado.


Quem diz que a ficção exagera nas cores é porque ainda não reparou bem na realidade.

Nenhum filme, nenhum livro, nenhuma peça de teatro, nenhuma música, nada ousa mais em matéria de imaginação do que a realidade.

Querem um exemplo? Na chegada à cidade Gramado, vindo por Nova Petrópolis, um pouco antes do pórtico, existe um motel localizado bem ao lado de um pequeno e antigo cemitério. Ambos estão quase na beira da estrada, chamam a atenção de quem passa. Morte e vida, êxtase e frieza, silêncio e delírio, a poucos passos uns dos outros. A quantas metáforas isto se presta? Não parece coisa de filme?

Mais um vez, a convite do blog, estou aqui para escrever sobre o festival. Sinto que este ano promete mais do que os anteriores. Acho que a nova administração do evento tem qualificação para fazer um belo trabalho, sem demérito aos que os antecederam.

Henriette, amiga francesa que está passando um tempo no meu modesto solar da Praça Maurício Cardoso, em Porto Alegre, me fez prometer que não cometerei nenhuma loucurra durante minha estada no festival. Ela está traduzindo um livro de autor gaúcho para o francês e preferiu ficar por lá trabalhando.

Por loucura entenda-se fumar meu charuto e beber meu vinho, em sossego, a despeito da proibição do meu esculápio. O farei escondido, certamente, porque o que os olhos do médico não veem o corpo do paciente não sente.

Estou aqui no quarto de hotel desde quarta-feira, a janela virada para o Vale do Quilombo. Faz pouco vi duas araras azuis voando entre os pinheiros. Dizem que ainda vai esfriar muito. Na dúvida, trouxe a velha manta, o boné e o capote.

Trago comigo o alaúde para tocar nas longas madrugadas serranas. Trouxe também, no bornal, para reler, A longa viagem de prazer, do uruguaio Juan José Morosoli; a edição 11 da revista Serrote,Niels Lyhne, do dinamarquês Jens Peter Jacobsen, livro muito amado por Rainer Maria Rilke.

(Há pouco ouvi passos no corredor do hotel. Esses passos tinham uma voz, essa voz tinha um certo timbre. Podia ser ela, pensei, a eterna diva Beth Faria, uma das homenageadas deste ano. O coração galopou em meu peito. Não sei o que será de mim se encontrá-la por aí. Talvez seja melhor evitar.)
  
Sou alguém que vai à sala de cinema pela necessidade de conhecer um olhar diferente sobre a vida, algo além da vidinha sufocante de todos os dias. Por isso estou aqui, para encontrar essa espécie de felicidade e tentar expressá-la ao raro leitor.

Nos cafés, ruas, lobbys de hotéis só se fala na tela grande.

A cidade está no clima e o Palácio dos Festivais aguarda o primeiro jorro de luz no escuro.

photo: j.finatto


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O Cavaleiro da Bandana Escarlate escreve sobre o Festival de Cinema de Gramado todos os anos, no mês de agosto, no blog.