domingo, 13 de janeiro de 2013

Série Retratos 4 (Le champ de blé aux corbeaux)



photo: j.finatto



photo: j.finatto



photo: j.finatto


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Autor das photos: Jorge A. Finatto
Parte alta de Auvers-sur-Oise, cidade próxima de Paris, onde Van Gogh (1853 - 1890) pintou, entre outros, o célebre Campo de trigo com corvos. No mesmo local, provavelmente, disparou o tiro no abdômen, que causou sua morte dois dias depois. Uma outra versão diz que o disparo foi feito por outra pessoa.
O último quarto de Van Gogh:
http://ofazedordeauroras.blogspot.com.br/2009/12/o-ultimo-quarto-de-van-gogh.html
Pedidos de cópia ou reprodução podem ser feitos ao autor pelo e-mail j.finatto@terra.com.br
As imagens são protegidas pela legislação que regula os direitos autorais. 
 
 

sábado, 12 de janeiro de 2013

Virgílio fugindo da treva

Jorge Adelar Finatto 


photo: j.finatto. Passo dos Ausentes

 
Então houve quem falou: ah, esse não vinga, semente ruinzinha. Tem jeito de gente abandonada no olhar. Está de malas prontas pras brumas do mundo.

Pobre virgílio viajando nas páginas iletradas da vida. Tão moço, tão sem amanhã. As contumélias da existência afloram ao nascer do sol e vão até a noite. virgílio sem eira nem beira. Amargança das horas. Ser da palavra inventada.

Esperançoso virgílio (assim minúsculo, pequeno) com terninho preto curto, botina marrom, a magra mala na estação. Espera o trem noturno na estação. O último abraço de Juan Niebla, o cego tocador de bandoneón.

A palavra cálida do ceguinho no ouvido:

- Vai com Deus, meu filho, vai com Deus. Não desespere. Eu vou rezar. Não se esqueça de voltar. Eu vou esperar você aqui.
 
Viver são as partilhas, não importa quão escuro.

A lágrima morna, coração saltando pela boca. virgílio.

Os oráculos da merda falaram deveras as coisas que disseram: esse não volta, dele é o círio que queima ligeirinho no breve da vida. Vai-se ao fundo.

Quem sabe o quê, nessa quirera? Quem aposta um caco nas patas do destino?

virgílio foi-se pelas estradas sombrosas, rasgou o breu. Habitou o deserto, o deserto sem fundo de cada esquina ventosa. O deserto dos quartos tristes e das ruas nojentas da cidade grande.

Nas horas do estúrdio, sentado no banco da pracinha, comeu bolacha de água e sal, bebeu água de torneira pública na concha da mão. Com a pequena rede invisível, deitado no banco da praça, pescava estrelas antes de dormir.
 
Tem gente com medo de trovão. Outros temem a neblina espalhando calada.

Ele tem medo do que está do outro lado do espelho. Receia um dia olhar e não divulgar ninguém. Nem rosto nem mão nem nada.

Espelho cego. Irredutível ausência. (A lembrança de Juan Niebla na estação.)
  
O mundo é um baita invento, pensa virgílio. Só que a pessoa é muito sozinha.

(Saudade do cheiro da flor de manacá na estação de trem abandonada de Passo dos Ausentes. Saudade, saudades.)
 
O tempo passou. virgílio não se matou. Nem foi engolido pela boca do esgoto. Fez um caminho desesperado, inesperado, tanta luz cultivou no labirinto. Acendeu-se. Sobreviveu nas quebradas da city, emergiu da sua ausência.

virgílio plantou a árvore do sonho na cabeça, os galhos cresceram para dentro da realidade.

Os gerânios deflagram lilases e rosas na janela do bardo da palavra reconstruída.

A escuridão ficou lá atrás, atrozes dias.
 

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Série Retratos 3

  

 

 
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Autor da photo: Jorge A. Finatto
O último quarto de Van Gogh. Maison de Van Gogh. Auvers-sur-Oise, França.
http://ofazedordeauroras.blogspot.com.br/2009/12/o-ultimo-quarto-de-van-gogh.html
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quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Série Retratos 2







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Autor da photo: Jorge A. Finatto
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terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Série Retratos 1


 
 



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Autor da imagem: Jorge A. Finatto
Pedidos de cópia ou reprodução podem ser feitos ao autor pelo e-mail j.finatto@terra.com.br
As imagens são protegidas pela legislação que regula os direitos autorais.  

Série Retratos

Jorge Adelar Finatto

A partir de hoje publico a Série Retratos
 
A novidade é que as fotos desta série não serão acompanhadas de texto. As imagens falarão por si. Um álbum de fotografias virtual, uma memorabilia do olhar.
 
Os pedidos de cópia ou reprodução podem ser feitos ao autor pelo e-mail j.finatto@terra.com.br

As imagens são protegidas pela legislação que regula os direitos autorais. 
 

domingo, 6 de janeiro de 2013

A carreta cósmica

Jorge Adelar Finatto

photo: j.finatto
 

O mundo visto de cima de uma carreta é diferente.  Não é o mesmo que se vê de um ônibus, metrô, barco, automóvel ou avião.  O andar da carreta é outro, diverso é o seu olhar.
 
Em Passo dos Ausentes, havia muitas carretas. Era meio de transporte de pessoas e de carga por estradas de terra e ruas pedregosas.
 
A velocidade do mundo era bem menor. 24h, naquele tempo, equivaliam a cinco dias de agora, talvez um pouco menos.
 
Os tempos eram longos e as conversas também. Dava para experimentar o sabor de cada fruto, associá-lo a um nome e a uma estação do ano.
 
Havia tardes de chuva mergulhadas na leitura e na preguiça. Olhos cismavam nas janelas. A preparação dos doces caseiros espalhava delicados cheiros pela casa.
 
Andar de carreta puxada por boi era uma maneira diversa não só de se deslocar como de olhar o universo.

O homem que vê a vida tendo a carreta como ponto de mirada não é o mesmo que se movimenta em máquinas velozes.
 
Aqui nos Campos de Cima do Esquecimento ainda se encontram carretas. Há alguns anos encontrei uma em bom estado, construída em 1953. Resolvi comprá-la e coloqueia-a no jardim.

Ela aparece em primeiro plano na foto, tendo mais ao fundo Monsieur Jardin, o espantalho que faz a alegria dos passarinhos. As aves fazem ninhos nos seus bolsos e no chapéu de palha.

A minha carreta está sempre pronta pra partir. Em certos dias, quando a vida perde a graça, em subo nela e vou dar uma volta pelo cosmos. O sobe e desce entre as nuvens, a gente sacudindo lá dentro, a evolução do vôo pela atmosfera e depois uma esticada até o infinito.
 
Voamos entre as estrelas, passamos perto da Lua, paramos em Órion para ver a chuva dos meteoros cintilantes.

Visito os amigos que partiram em suas carretas de luz e nunca mais voltaram. Conversamos e rimos juntos. Depois eu me despeço e volto pra casa.

Ao retornar da viagem, sinto o coração bater em paz outra vez.