sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Ilhas do tempo

Jorge Adelar Finatto


Ilha das Pedras Brancas. photo: j.finatto


O barco passa diante da Ilha das Pedras Brancas, entre Porto Alegre e Guaíba. Um lugar tão bonito com um passado tenebroso: ali, durante a ditadura militar (1964 -1985), funcionou um presídio para presos políticos. Quem dissentia do poder, e demonstrava isso por palavras ou ações, tinha grande chance de ir para o claustro. Alguns morreram por não concordar, por dizer não. Tempos tristes. 
 
O que parecia eterno, para quem viveu na pele aquela escuridão, passou como tudo passa. Mas durou muito e deixou marcas profundas. No meu caso, e no de muitos, durou o tempo da juventude.

A democracia é o menos ruim dos regimes políticos, já se disse, pois possibilita que a sociedade participe da escolha dos que vão ter o poder nas mãos e dirigir o Estado. Sistema perfeito não existe, uma vez que o próprio ser humano longe está da perfeição (longe, muito longe). A democracia é o que temos de melhor em política.

Ditaduras, sejam elas de direita ou de esquerda, são o inferno. Por mais que seus líderes digam que querem o bem da humanidade, o que eles querem mesmo é o máximo bem para si mesmos, para os familiares, amigos e correligionários.

Nada autoriza a permanência no poder pela força bruta. O apelo à violência, seja de que lado for, é um grave erro. Gente como Mahatma Gandhi mostrou que é possível lutar sem dar um tapa e muito menos um tiro.

É outra coisa viver num lugar onde os direitos e garantias individuais e coletivos são respeitados, no qual os cidadãos têm deveres a cumprir. Ao menos existe esperança.

Poder sonhar e trabalhar por um melhor amanhã é a única coisa que justifica sair da cama todos os dias. Senão, é preferível ficar deitado.

photo: j.finatto.  Guaíba, visão da saída para a Lagoa dos Patos

Mas falemos de coisas amenas nesses dias tão quentes. Fiz essas imagens na travessia de Porto Alegre para a cidade de Guaíba a bordo do catamarã. O tal barco anda bem rápido (dura cerca de 30 minutos o percurso). Por mim até podia ser mais lento.  O mundo todo podia ser mais lento. Mas, afinal, está certo, não é embarcação de passeio, mas de transporte público.

Esse rio Guaíba é tão largo, volumoso e extenso que até parece um mar.

Olhando o mapa se vê: depois do Guaíba vem a Lagoa dos Patos, esta sim conhecida como Mar de Dentro. Um mar de água doce que se estende por quase 300 km até o Atlântico Oceano. Em longos trechos da Lagoa não se avistam as margens, só água.

Peixe, muitos peixes, vento, gaivotas e ilhas. Navios afundados também.

Gosto muito de navegar em barco e avião (sou um bicho das águas e do ar). Mas nada se compara ao sentimento de, ao final, pisar em terra firme outra vez.

Voltar para casa, reencontrar as tralhas, os objetos e recantos caseiros, mergulhar outra vez nesse território minimalista. Ainda é a melhor parte de qualquer viagem.

Somos uma pequena ilha no mar do tempo.

Da mínima ínsula miramos as estrelas, as águas, os céus, os seres.

Ir ao encontro de outras ilhas é a mais bela e difícil aventura. A verdadeira missão do navegante.

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O barco mais triste do mundo:
http://ofazedordeauroras.blogspot.com.br/2012/11/basofias-o-barco-mais-triste-do-mundo.html

Brasil, árvore frondosa
http://ofazedordeauroras.blogspot.com.br/2012/10/brasil-arvore-frondosa.html

Cuba e os direitos humanos:
http://ofazedordeauroras.blogspot.com.br/2010/03/cuba-e-os-direitos-humanos.html

Ilha das Pedras Brancas:
http://ilhapedrasbrancasguaiba.blogspot.com.br/p/quem-somos.html
 
Texto revisto e atualizado, publicado antes em 16 de janeiro, 2013.
 

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Os passos do andarilho

Jorge Adelar Finatto


photo: Maria Fumaça. Autor: Almir Dupont
fonte: Secretaria de Turismo de Bento Gonçalves*


Meus olhos já não sabem
senão contemplar dias
e sóis perdidos. Ouço
rodar velhas charretes
nas ruas de Sinera!
                                Salvador Espriu


A condição de leitor - o que essencialmente sou - se parece com a do viajante de trem. Sou feliz quando entro num vagão ou num livro e saio por aí a conhecer pessoas, lugares, histórias. De face em face, lugar em lugar, página em página.

Um observador amoroso do mundo é como me sinto. Calado embora, quase invisível.
 
Uma vez embarquei no trem que vai de Lisboa a Paris. Um trem do tempo antigo, que não é de alta velocidade (o que eu acho muito bom). Andar de trem é para olhar a paisagem, não voar.

A viagem começou às quatro da tarde, durou toda a noite e se estendeu pelo dia seguinte com troca de trem na Espanha. Como aquelas viagens que eu fazia, quando menino, de Passo dos Ausentes a Porto Alegre: uma eternidade, mas uma eternidade boa.

O comboio, como dizem os portugueses, pára em várias cidades lusitanas, espanholas e francesas. Eu não dormi a noite toda. Fui admirando as paisagens noturnas.

Chegar numa cidade estrangeira de trem, de madrugada, tem um gosto especial. As ruas dormem. Um ou outro vivente aparece na esquina, na calçada. Um cachorro atravessa a rua. As luzes dos postes iluminam as cercanias. Silêncio, vida recolhida. Realidade submersa.

As estações quase desertas. Nenhum sino toca. O relógio gira lentamente nas paredes das gares. A vida gira lentamente.


photo: j.finatto
  

Na condição de andarilho de livros e cidades, acabo de descobrir - ó felicidade - o poeta espanhol Salvador Espriu. Um encontro desses não se esquece.

A insônia, às vezes, verte luz na escuridão.

Um dia desses dias perdi o sono. Devia ser por volta das 4 da madrugada. Chovia. Últimos dias de dezembro que se arrastam feito uma carreta velha por estrada de chão.

Resolvi ligar a televisão no canal espanhol (acho que foi na tv educativa deles). Passava um programa sobre o poeta Salvador Espriu (1913-1985), de quem nunca ouvira falar, com depoimentos dele próprio, de leitores e estudiosos.

Um ator e uma atriz diziam poemas. Aqueles versos e as declarações do poeta produziram em mim tal encanto que lamentei muito não tê-lo conhecido antes.

Ouçamos algumas coisas que consegui anotar, ditas pelo catalão Espriu, que celebrou em sua obra a amada Arenys de Mar, cidadezinha a 40 quilômetros de Barcelona, de onde sua família era originária e que nos seus poemas se transfigura em Sinera, o nome da cidade escrito ao contrário:

 
"A principal qualidade de uma pessoa não é a inteligência, mas a bondade."

"Sou um artesão da linguagem, simples aprendiz."

No seu exílio interior, com suas memórias e seu existencialismo, partilhado com filósofos como Sartre, o poeta escreve visceralmente e nos comove.

Contemplo
calmos ciprestes no amplo
jardim do meu silêncio.

No outro dia, telefonei para a livraria e me disseram que o único livro de Espriu traduzido no Brasil (diretamente do catalão, que é bem diferente do espanhol) é a coletânea 4 poetas da Catalunha, com organização e tradução de Luis Soler (espanhol radicado em Florianópolis), publicado pela Editora da Universidade Federal de Santa Catarina em 2010. Uma breve mostra. Retirei da antologia os versos aqui transcritos. Os outros poetas são Joan Maragall, Carles Ribas e Joan Oliver (Pere Quart).
 
Ando agora atrás de livros de Salvador Espriu em espanhol. Um poeta rigoroso no viver e no escrever, que não usa falsos enfeites de poeta, e que tem tanto a dizer e disse. Grande, generoso, humilde. Um caso sério - mais um - de poesia e humanismo da velha Espanha.

Pois eu morro
sem nenhuma ciência,
rico somente em passos
de perdido andarilho.

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domingo, 15 de dezembro de 2013

O silêncio de Van Gogh

Jorge Adelar Finatto
 
 
Ladeira que desemboca no campo onde Van Gogh pintou
o Trigal com Corvos, em Auvers-sur-Oise, e onde teria se suicidado.
photo: jfinatto
 

Não sei e provavelmente ninguém nunca saberá o que se passou na cabeça e no espírito de Vincent Van Gogh (1853-1890) enquanto subia,  vagarosamente, o íngreme caminho que termina no campo onde pintou, poucos dias antes, o Trigal com Corvos, na parte alta de Auvers-sur-Oise, pequena cidade perto de Paris onde viveu os últimos dias. Naquela caminhada vivia seus derradeiros momentos neste mundo. Ainda hoje aquele lugar é um território de silêncio e mistério.
 
Era então um homem no vigor dos seus 37 anos, na plenitude de sua arte. Havia, é certo, as crises intermitentes da doença que o atormentava (até hoje não se sabe se esquizofrenia, epilepsia, melancolia mórbida, etc.). Hoje há médicos que acreditam que o pintor sofresse de bipolaridade. Quem sabe?

O fato é que Vincent sobe a ladeira e a morte o espera no alto da colina.
 
Que louco amor ou pura desilusão carrega no peito magro? Que cores o acompanham agora pelo caminho? Em que instante retirará do bolso do casaco o pequeno revólver e o segurará entre os dedos trêmulos? Quem, minutos após, terá apertado o gatilho em meio do campo de trigo, disparando a bala que o ferirá mortalmente?


Último quarto de Van Gogh. Last bedroom of Van Gogh. Auberge Ravoux.
photo: j.finatto

Escada que leva ao quarto de Van Gogh. photo: j.finatto


Em 21 de maio de 1890, mudou-se para Auvers-sur-Oise, que tinha tradição em acolher pintores, muitos deles atraídos pelo médico Paul Ferdinand Gachet (que tem consultório em Paris e uma casa em Auvers). Hospeda-se no Auberge Ravoux*, onde é bem recebido pelo proprietário e sua família (hoje funciona no local a Maison de Van Gogh, que merece uma visita).

Gachet é pintor amador e amigo de artistas plásticos. Aceita tratar Van Gogh, que veio para a cidade após um período de internação voluntária em hospital nas cercanias de Saint-Rémy-de-Provence.

Igreja de Auvers. photo: j.finatto


photo: j.finatto


Em Auvers Van Gogh experimenta um dos melhores períodos de sua breve existência. As coisas vão bem até o dia em que, sem razão aparente, desfere um tiro contra o abdômen, no campo, em 27 de julho de 1890. Morre dois dias depois, em 29 de julho, a uma e meia da manhã, tendo ao lado da cama, no quartinho do sótão do Auberge Ravoux, perplexo e devastado, o irmão Theo. 

Eu tenho dúvida quanto à versão do suicídio, embora os informes nesse sentido. Concordo com os que acham que alguém pode ter atirado no pintor.

O que aconteceu realmente quando chegou ao campo? Quem o esperava? Haveria uma disputa pelo amor de uma mulher que teria resultado numa briga e ele levou a pior? Teria havido uma discussão com jovens da cidade com quem se encontrou uma ou outra vez, e alguém disparou um tiro? Quem sabe? Talvez só os corvos.

De qualquer forma, ele não fez qualquer revelação acerca das circunstâncias do tiro antes de morrer. A verdade morreu com ele. Não parece plausível que tenha se matado justamente num período de intensa felicidade e de profunda integração na vida e na arte, tendo produzido cerca de 70 quadros no curto tempo em que ali esteve.

photo: j.finatto

Prefeitura de Auvers. photo: j.finatto

Edifício da Prefeitura, Auvers. photo: j.finatto

 
A absurda calma de Vincent, ferido e fumando seu cachimbo, deitado na desconfortável cama de metal do quarto que nem janela tinha, viria do fato de antever na morte a libertação do sofrimento que o acompanhou pela vida toda?

"Fracassou" em quase tudo. Não teve um trabalho que lhe assegurasse o sustento, não encontrou uma companheira, não constituiu uma família, não teve amizades duradouras, não foi amado nem amou como esperava. Sempre dependeu do irmão mais novo, Theo, comerciante de quadros em Paris que lhe garantiu a subsistência. Van Gogh personificou aquilo que hoje se denomina, de forma crua, asquerosa e grosseira, um perdedor.


photo: j.finatto. Túmulos de Vincent e Theo

Quem fracassou e perdeu o quê? Vincent libertou as cores e legou à humanidade uma das obras mais impressionantes que um artista já construiu. Com que régua se mede este perdedor? Quem é vencedor neste teatro do absurdo que é viver?


photo: j.finatto
 

 
Sofreu a indiferença dos contemporâneos, a falta de reconhecimento. Não fez quadros para agradar, não foi o queridinho da imprensa e dos críticos. Vendeu pouquíssimas obras em vida, fala-se em um quadro apenas (O vinhedo vermelho), talvez dois, talvez três. Mas sabia o que estava fazendo com suas mãos, viu o que ninguém mais conseguia ver.


photo: j,finatto
 


O "perdedor" foi o único que não se beneficiou da extraordinária obra que entregou ao mundo. Somos herdeiros da maravilha e nada fizemos por merecê-la. Que pelo menos haja, de nossa parte, em homenagem ao artista, um esforço para valorizar e respeitar os que andam pela vida sem eira nem beira, os solitários, os abandonados, os invisíveis, vários deles vivendo ao nosso lado. Como Van Gogh eles podem guardar tesouros.


Trigal com Corvos. Van Gogh
 
O que moveu Van Gogh nos últimos momentos de vida nós nunca saberemos. Mas temos motivos para acreditar que sua arte nasceu de um profundo sentimento de angústia e revolta diante da realidade, misturado à sua dificuldade de comunicar-se. Alimentava um incompreendido amor pela vida e pelas pessoas.
 
Vincent e Theo repousam no chão, entre heras, um ao lado do outro, no pequeno cemitério junto ao campo de trigo em Auvers.
 
Amarelo, silêncio.
 
 
photo: j.finatto
 
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*Maison de Van Gogh:
O último quarto de Van Gogh:
 

sábado, 14 de dezembro de 2013

A rua antiga me atravessa

Jorge Adelar Finatto
 

photo: j.finatto.Colonia del Sacramento, Uruguai


A vida se esconde na rua antiga.
A saudade mora aqui desde muito antes do mundo ser inventado.
Os passos dos seus habitantes se ouvem na longínqua estrela.
Quem nos vê, quem nos vale nesse labirinto?
A vida inteira no postigo.
Tantas coisas eu sonho.
Tantas coisas eu sinto.
As pedras da rua antiga são diamantes cravados no oblívio.
O tempo escorre nessas janelas feito lágrima.
Ninguém vê essa cicatriz aberta na face do planeta.
Calado observador do fim do mundo.
A rua antiga me atravessa.


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Texto atualizado, publicado em 28/05/11.
 

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Domingo nas praias do Guaíba

Jorge Adelar Finatto 
 
Praia da Pedreira, Parque Estadual de Itapuã, sul de Porto Alegre.
Fonte: Wikipédia. Autor: Paulo RS Menezes
 

A função dos domingos de verão era pegar o bonde, ir até o centro da cidade e dali tomar um ônibus até uma das praias da zona sul de Porto Alegre. Era assim nos anos 1960.  As águas do Guaíba tinham a superfície pintada de azul e eram boas para banho.
 
Lembro que saíamos cedo de casa para aproveitar o dia. A galinha com farofa era o almoço que ia acondicionado na pequena panela dentro da sacola. Algumas bananas e fatias de pão com chimia eram reservadas para o lanche do meio da tarde. Junto iam duas garrafas de suco feito com pó artificial misturado com água (não havia dinheiro para refrigerantes).
 
Levávamos também uma bola de plástico, duas bóias (que inflávamos assoprando no bico), toalhas e a esteira para estender na areia.
 
A jovem mãe e os três filhos, todos com menos de 10 anos. Não havia pai. Cada um de nós carregava uma sacola. O trajeto de bonde até o centro era tranqüilo. Depois caminhávamos duas ou três quadras até chegar ao ponto de ônibus. E esperávamos de pé, sob o sol, numa fila grande, até que algum deles chegasse.

Parecia que todas as famílias pobres da cidade tinham a mesma idéia de ir à praia no domingo.
 
Quando enfim chegava o ônibus (que uns chamavam de navio negreiro), a fila andava. Claro que a maioria das pessoas ia de pé, apertada no corredor. Os assentos eram destinados aos poucos sortudos que entravam primeiro.

A viagem até as praias era animada, durava cerca de 50 minutos. As pessoas falavam alto, contavam causos, faziam piada, crianças corriam entre as pernas dos adultos. Afinal, era domingo, a alegria fazia parte do passeio e ajudava no desconforto.
 
Até que a porta se abria e descíamos na nossa praia, o Guarujá (havia várias outras). Corríamos para a beira do rio, para ver e respirar as águas. Em seguida, esticávamos a esteira, arrumávamos as sacolas ao lado, trocávamos de roupa num dos precários vestiários. Depois era correr e se jogar no Guaíba.
 
Aproveitávamos até as 5 da tarde. Depois era hora de arrumar as tralhas, ir para a fila do ônibus outra vez e fazer o caminho de volta. A gente vinha com a pele avermelhada, a areia grudada no corpo, as caras de cansaço e sono.
 
A aventura dominical terminava com um banho sonolento embaixo do fraco chuveiro elétrico. Antes de adormecer, a lembrança dos últimos reflexos do sol sobre as águas, o toque cálido da água, a visão dos barcos dos pescadores.

Até que algum navio passava ao fundo da aquarela e levava nossos sonhos com ele. 
 

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Hay vida antes de la muerte?

Jorge Adelar Finatto
 
 
photo: j.finatto
  
 
Em Montevidéu, os grafites, em geral, têm espírito. As inscrições, desenhos e pinturas em muros e fachadas das ruas montevideanas não perdoam a superficialidade. Uma vez lidas, não deixam o caminhante em paz.
 
Pressentindo que seria um absurdo virar simplesmente as costas e seguir em frente, resolvi fotografar e trazer comigo a inquietante frase. Na ocasião, eu andava caminhando nas cercanias do Teatro Solis.

Hay vida antes de la muerte?

A pergunta me acompanha desde então, veio com a bagagem de volta para a Passo dos Ausentes.
 
Não bastassem as perplexidades e angústias de sempre, acrescentei mais esta ao meu baú de assombros.

Afinal, haverá mesmo vida antes da morte ou seremos apenas tristes fantoches com a boca colorida de pano rasgado e olhos opacos, às voltas com o sofrimento, a indiferença, o desamparo, a solidão?

O que sei é que há dias em que me sinto muito vivo. Parece que a morte ainda não foi inventada. Em outros, contudo, viver não vale um caco de vaso quebrado.

Hay vida antes de la muerte?
 
Sí, pero...
 
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Texto atualizado, publicado antes em 14 de junho, 2011.

domingo, 8 de dezembro de 2013

Memória do vento

Jorge Adelar Finatto 


photo: j.finatto


Não posso
fechar a porta
às histórias
que o vento traz

o mundo esquecido
a vida pequena
seres e coisas
que têm em mim
a eternidade
possível


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Do livro Memorial da vida breve, Jorge Finatto. Editora Nova Prova, Porto Alegre, 2007.