terça-feira, 17 de setembro de 2019

Refúgio

Jorge Finatto
 
photo: jfinatto
 
 
Tudo tão frágil na vida
o mundo inteiro cabe num abraço

 
Medos povoam a insônia
a chuva lá fora é a infância
com seus tesouros submersos
no navio sem leme nem capitão
do tempo

 
Melhor me refugiar no teu corpo
fingir que tudo está tranquilo
arranjado e bom
como no útero

 
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 Poema do livro O Fazedor de Auroras. Instituto Estadual do Livro, Porto Alegre, 1990.

sexta-feira, 13 de setembro de 2019

Navegador de barco de papel

Jorge Finatto
 
capa do livro

 Por razões de produção, o lançamento não ocorrerá mais em 24 de outubro, ficou para novembro em data a ser confirmada na semana que vem. Aguardemos. 03/10/2019
 
No dia 24 de outubro próximo, às 19h, na Escola Superior da Magistratura, em Porto Alegre, vou lançar o livro de crônicas Navegador de barco de papel. Convido amigos e visitantes do blog a embarcar comigo na nave. Vamos dar uma volta pelo Guaíba e pela Via Láctea a bordo do barquinho. Afinal, imaginar não custa nada, e sonhar é um dever.
 

quinta-feira, 12 de setembro de 2019

Um respiro

Jorge Finatto
photo: jfinatto
Eu quero falar das azaleias que florescem pelas ruas da cidade preparando a primavera que não tarda. Um respiro num momento difícil.
Para quem como eu deplora a vulgaridade, a grossura e a visão autoritária, este é um tempo mau. Vivi o suficiente para saber que não existem salvadores da pátria. Que, por pior que seja, a democracia ainda é o menos ruim dos regimes políticos (parafraseando Winston Churchill). E que misturar política com religião não é bom sinal.
A tentativa de impor os próprios valores sobre os demais deve ser vista com preocupação. Tenho receio dos que se arvoram em donos da verdade verdadeira. Dos que falam sem parar, não escutam e não dialogam com quem pensa diferente. Esse comportamento desconhece a alteridade. Percebo o país à beira de um possível retrocesso, que esperamos não aconteça.
Mas as azaleias estão aí. Mostrando que há vida acima das vãs e perigosas vaidades do poder. Que a nossa esperança não se intimide diante da intolerância e da estupidez. A primavera vencerá a treva.

sábado, 7 de setembro de 2019

Tudo Azul

Jorge Finatto
 
Revista Azul.
 

Na REVISTA AZUL do mês de setembro, da Azul Linhas Aéreas, foi publicada uma foto que fiz da Catedral de Montevideo em julho passado.
 
O voo da Azul entre Porto Alegre e a capital do Uruguai é muito bom. As aeronaves são novas. O atendimento a bordo e nos aeroportos é educado e eficiente. Percebe-se o preparo e o empenho dos tripulantes em seu mister. Equipamento e serviço nas alturas.
 
No voo de retorno a Porto Alegre, pela primeira vez viajei com uma mulher no comando do avião. E foi um voo exemplar. Li que a Azul é a empresa com maior número de mulheres pilotos. Tudo azul, enfim.
 

quinta-feira, 5 de setembro de 2019

O cantor da primavera

Jorge Finatto

Sabiá-laranjeira. photo: Dario Sanches. Wikipédia

UMA ALEGRIA era tudo o que eu queria por esses dias. O mundo em geral, e o Brasil em particular, andam muito tristes. Pois ela enfim chegou. Os sabiás voltaram a habitar a minha rua.
 
É uma alegria humilde, numa pequena rua. Mas enche o coração. Os sabiás voltaram a cantar, coisa que não acontecia há muito tempo. No meio de tanto barulho, gritos, discussões no trânsito, nos ambientes de trabalho, nos apartamentos, ouvir o sabiá é um pouco acercar-se do nirvana.
 
O sabiá é o cantor da primavera. Eu andava saudoso da bela música desse querido artista. A minha rua - singela ruazinha - sabe bem acolher os pássaros em suas árvores e vãos de telhado.
 
O ar está irrespirável no planeta. Pela queima de combustíveis e das florestas. Pelos profundos conflitos. Ninguém se entende e há poderosos fazendo o possível para confundir e piorar as coisas. O contingente humano em estado de sofrimento e precariedade é inumerável.
 
Ouvir o sabiá, nesta antiutopia, alivia a alma. Sinto uma felicidade que nem sei explicar. Uma dádiva. A vida perto do amanhecer.
 

sábado, 31 de agosto de 2019

"Meu pai, dá-me os teus velhos sapatos"

Jorge Finatto
 
araucária. Canela. photo jfinatto
 

Meu pai, dá-me os teus velhos sapatos. Tão lindo esse verso de Vinicius de Moraes.* O grande poeta brasileiro de quem, na adolescência, eu sabia quase todas as letras de música de cor, tanto me fascinavam sua lira e seu balanço. Isso sem falar dos poemas publicados em livros.
 
Não guardo os velhos sapatos de meu pai, nem dos avôs.  Se os tivesse, carregariam terras da Itália nas solas gastas, e muito espanto, muitas perdas, muita angústia entre mundos tão diferentes. E muita gratidão pela vita nuova no sul do Brasil ao lado de outros expatriados como eles, inclusive aquele um trisavô (ou trisavó) cujos pais vieram como escravos da África. 
 
Mas eis que hoje é sábado, último dia de agosto. Faz frio e chove em Canela. Estou no escritório folheando livros nas estantes. A neblina estende suas sedas brancas além das janelas.
 
No quintal a araucária vertical. Aqui na montanha se vê longe. Não fiquei com os velhos sapatos ancestrais, e gostaria. Mas trago tudo dentro de mim misturado. E sou como o pinheiro. Tenho espinhos, mas dou frutos.
 
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*Jardim Noturno. Poemas Inéditos. Vinicius de Moraes. Poema "Meu pai, dá-me os teus velhos sapatos", p. 30. Companhia das Letras, 1993. São Paulo.

quarta-feira, 28 de agosto de 2019

Livro do papagaio pensador. Capítulo I. Das perplexidades

Jorge Finatto

photo: jfinatto

 
I. UM HOMEM que não controla a própria língua pode governar um reino?
 
II. SER HONESTO, aberto ao diálogo e ter capacidade de autocrítica, hoje, no Brasil, é ser revolucionário.