Jorge Finatto
segunda-feira, 12 de junho de 2023
domingo, 28 de maio de 2023
Olhar sobre o Guaíba
Jorge Finatto
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photo: jfinatto |
O primeiro amigo que fiz quando cheguei em Porto Alegre aos seis anos foi o Guaíba. Não conhecia ninguém e acabara de me tornar órfão. Com a morte na alma, esperava o bonde passar e atravessava a rua Washington Luís.
Havia uma pracinha nas proximidades da Casa de Correção (velho presídio depois demolido). Na beira do rio, famílias estendiam toalhas e esteiras na areia e aproveitavam as tardes de verão. Era bonito ver.
Eu sentava por ali e ficava olhando o Guaíba com seus barcos, peixes, ilhas e aves. Uma grande descoberta para quem vinha da Serra.
De vez em quando um navio de grande porte entrava ou saía do porto deixando ao passar um sonoro e grave apito.
Nas nossas conversas o rio me acolheu e me deu consolo. Me ensinou que a vida segue sempre em frente como as águas e que tudo vale a pena.
Na fotografia, em primeiro plano, um galho com biguás reunidos. No fundo, à esquerda, a Ilha das Pedras Brancas, um lugar lindo que transformaram em prisão para presos políticos durante a ditadura militar (1964/1985). Depois, mais ao sul, a saída para a Lagoa dos Patos e o Oceano Atlântico.
quinta-feira, 25 de maio de 2023
domingo, 21 de maio de 2023
quarta-feira, 17 de maio de 2023
Outonos
Jorge Finatto
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A mais bela das estações, para o rude mortal que escreve estas linhas, é o outono. De boa vontade embrulharia o verão e o mandaria direto para o inverno.
Mas é no outono que eu renasço.
Outono significa transformação, as mudanças tão necessárias para a vida revigorar seu curso. É a concentração das seivas, reunião de forças, introspecção, preparo e passagem para um outro tempo.
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photo: jf
domingo, 7 de maio de 2023
Café da tarde
Jorge Finatto
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photo: jfinatto |
sexta-feira, 14 de abril de 2023
La que nunca tuvo novio
Jorge Finatto
a Nena com amor
A nostálgica e suave melodia deste tango de 1930 (de Augustín Bardi e Enrique Cadícamo) me levou a encontrar a mulher que nunca teve namorado, que triste!
E a vi horas sem fim na janela do bairro pobre, olhando a rua vazia, onde algum moço passava de vez em quando, e ela então sonhava. Mas o moço apenas passava diante de sua janela, todos os moços passavam e se iam para outras ruas, outras moças.
Ela morava com a mãe, cuidava da casa e dos sobrinhos. Na calle com casas coloridas e flores humildes nas janelas, num bairro distante.
Uma ruazinha perdida no continente, um lugar escondido de Deus, um ermo esquecido ao sul do planeta. Igual a tantos no mundo. Lá ela morava.
Aos sábados, la que nunca tuvo novio se enfeitava com um vestido florido que ela mesma fizera e se ia pelas ruas do barrio com a sombrinha amarela doendo sob o sol.
Olhava as poucas vitrines, conversava na praça com as vizinhas, tomava refresco do vendedor ambulante. Comia algodão doce sentada no banco. Esperava...
Depois voltava sozinha pra casa por ruas estreitas. Assim passaram-se os anos. As amigas de infância se casaram, depois as filhas delas. A vida passou. Ninguém nunca entrou na sua vida. E as vizinhas diziam: la que nunca tuvo novio. Pobrecita!
Essas coisas eu vi e senti enquanto ouvia o tango no bandoneón de Rodolfo Mederos. Caminhei pela calle triste da pobre moça que nunca teve namorado. E chorei por ela.
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photo: Colonia del Sacramento, Uruguay, j.finatto.
Texto revisto, publicado antes em 25 maio 2015.