quinta-feira, 31 de outubro de 2019

Drummond, vida que não se apaga

Jorge Finatto
 
Drummond. foto: Stefan Rosenbauer. O Globo, 17/12/2016

E se os olhos reaprendessem a chorar seria um segundo dilúvio.
Carlos Drummond de Andrade no poema O Sobrevivente.
 
Hoje completam-se 117 anos do nascimento do poeta Carlos Drummond de Andrade (31/10/1902). Ele foi um bem na floresta escura da minha/nossa vida. Um ser que espalhou claridade no mundo em forma de poesia. Republico esta postagem de 31 de outubro de 2017 em homenagem ao aniversário do bardo. 
 
"O JOVEM LEITOR afeiçoou-se ao poeta. Compartilhou com ele, mais do que palavras, a viva vida que elas expressavam. E como diziam coisas as palavras do bardo itabirano!
 
Havia entre poeta e leitor uma secreta cumplicidade. Um andar juntos pelo mundo. Uma troca de confidências, alegrias, queixas, protestos, malquereres, desertos, amores, esperanças. O invisível amigo percorria com o jovem os duros caminhos do mundo. Caminhos de pedra.
 
Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) será sempre o lúcido, o lírico, o amoroso, justo enlace razão-emoção, construtor de versos indeléveis na língua universal da poesia. Enquanto houver livros e leitores, Carlos Drummond será sinônimo de altíssima poesia e claro pensamento.

Ele traduziu o ser-no-mundo, às vezes cambaio, às vezes indescritivelmente só, mas sempre solidário em sua humana caminhada.
 
O poeta não se esquivava e respondia as cartas que lhe chegavam todos os dias. Generoso, sabia colocar-se, não acima, mas ao lado do leitor que o procurava ávido por um contato, mínimo que fosse. Respondia com incomum e delicada atenção as missivas.

Quando escrevia na resposta o nome do jovem missivista, manuscrito com tinta azul na folha branca, retirava-o do anonimato, reconhecia-lhe existência, tratava-o como um semelhante. Sábio e sensível ao outro, ele sabia que o poema só existe quando desvelado aos olhos do cúmplice leitor. As duas cartas que dele recebi são, para mim, verdadeiras relíquias literárias e sentimentais emolduradas na parede do escritório.
 
Drummond fez um imenso bem à minha alma, aos meus jovens dias e aos dias que vieram depois. Neste 31 de outubro, em que se comemora seu aniversário (vida estendida no testamento da poesia), renovo a emoção de abraçá-lo com o coração. Afeto que o tempo não apaga."

"No mar estava escrita uma cidade". verso do poeta na escultura da
Av. Atlântica, Rio de Janeiro. photo: jfinatto

quarta-feira, 30 de outubro de 2019

Cálido

Jorge Finatto
 
photo: jfinatto
 
Preciso escrever
o poema
que vai salvar
esse dia

o poema cálido
para atravessar
o tempo difícil
que ainda tenho
pela frente

o poema que vai
expulsar
a vontade
de morrer
que chega
aos poucos
como um felino
_____________ 

Do livro Memorial da vida breve, Jorge Finatto, Editora Nova Prova, Porto Alegre, 2007. 

domingo, 27 de outubro de 2019

Parece que nunca mais

Jorge Finatto
 
photo: jfinatto. Claraboia, Museu Iberê Camargo, Porto Alegre.
 
Sei lá, o MUNDO está de cabeça pra baixo. Mas fiquemos tranquilos (?), não começou agora, nem ontem. Vem assim desde o início. Às vezes acho que o ser humano é um projeto que não deu certo. Mas aí fico triste, desanimo, tenho pena de Deus e tenho medo de sua ira por pensar dessa forma. Mas parece que o mal está feito, que as pessoas nunca conseguirão ser bondosas, amando-se umas às outras como era pra ser (ou, pelo menos, não se destruindo feito feras). Parece que nunca mais conseguiremos sair à rua e nos encontrar sem receio de ser mortos por bandidos ou por algum sniper emboscado. É uma pena especialmente nessa época em que as AÇUCENAS enchem o bairro com seu aroma incrível. Enquanto isso nos escondemos atrás da janela. Olhamos o tempo passar, ouvindo os tiros.
 

sexta-feira, 25 de outubro de 2019

Um barco pra sonhar e pensar

 

 
Trecho da crônica Quinquilharias San Telmo.
 

terça-feira, 22 de outubro de 2019

Domingo com garça

Jorge Finatto
 
fotos: jfinatto. local: Grêmio Náutico União
 
Na TARDE de domingo, caminhando pelo bairro, encontrei uma garça no parque. Branca como nuvem, cerca de 80 cm de altura. Pisava na água que escorria da fonte. Deve ter voado 6 km  para vir do Guaíba até ali.
 
O Guaíba ainda é um viveiro de peixes e aves apesar dos despejos diários de esgoto não tratado em suas águas. Porto Alegre trata em torno de 50% de seus resíduos, o restante vai in natura para o rio.

E do rio vem a água que bebemos, cozinhamos, nos banhamos... Incrível que numa época de tanta tecnologia avançada ainda não conseguimos resolver este problema.
 
Mas ali estava a garça. Com passos elegantes pra lá e pra cá. Alçava breves voos no entorno, olhava o lugar. Uma bela visão. Convenhamos que, para uma tarde qualquer de domingo, não é pouca coisa.
 
 

sexta-feira, 18 de outubro de 2019

Dar-se à luz

Jorge Finatto


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Foto de Clara Finatto

segunda-feira, 14 de outubro de 2019

Aprendiz de Sísifo

Jorge Finatto

photo: jfinatto


Tropecei nas minhas certezas
caí de cara no chão.
A coisa mais certa nessa vida
é a força da gravidade.
 

segunda-feira, 7 de outubro de 2019

Carlos Lyra e Wanda Sá

Jorge Finatto

Foto divulgação: Carlos Lyra e Wanda Sá
 
Assisti à apresentação do compositor e cantor Carlos Lyra e da violonista e cantora Wanda Sá no Theatro São Pedro, em Porto Alegre, na quarta passada (02/10). Ele com 86 anos, ela com 75. Lyra está na origem da Bossa Nova, nos anos 60, autor de clássicos como Se é tarde me perdoa, Maria ninguém, Quem quiser encontrar o amor e Coisa mais linda, entre tantos. Wanda Sá participou do movimento ao lado de grandes nomes.
 
Chamou a atenção a faixa etária da assistência, na maioria pessoas idosas. Fiquei na dúvida: será que os jovens não se interessam por Bossa Nova? Outra: existe clima para o lirismo, a suavidade e a beleza da Bossa Nova na realidade brasileira atual?
 
Pode ser que a explicação esteja, também, em parte, no preço dos ingressos, média de cento e oitenta reais a plateia (bastante salgado nesses tempos).
 
Enfim, um momento inesquecível de reencontro com a música brasileira. Ver Carlos Lyra em plena atividade, com seu talento e seu charme, é encorajador, o mesmo podendo ser dito de Wanda. Que continuem seus shows pelo país para que os jovens saibam que o Brasil já foi mais feliz a ponto de produzir músicas como as da Bossa Nova.
 

sábado, 5 de outubro de 2019

Lançamento do livro de crônicas

Jorge  Finatto
 
Cartaz de divulgação: Emily M. Borges, Ajuris.
 
No dia 28 de novembro próximo, às 19h, na Escola Superior da Magistratura, em Porto Alegre, vou lançar o livro de crônicas Navegador de barco de papel.
 
Convido todos a embarcar comigo nesta viagem. Vamos dar uma volta pelo Guaíba e pela Via Láctea a bordo do barquinho.
 
Afinal, imaginar não custa nada, e sonhar é um dever.