quinta-feira, 11 de setembro de 2014

O segredo dos pássaros

Jorge Adelar Finatto

photo: j.finatto, 10.9.2014
 
Se outra vida houvesse além dessa (e se eu acreditasse em reencarnação), na próxima existência eu queria ser pássaro.
 
Os pássaros voam e cantam. Têm cores vivas, pinturas incríveis espalhadas pelo corpo. Como se não bastasse, fazem lindos e cálidos ninhos para morar. Habitam nas árvores, sótãos, telhados, muros, rochedos. Não têm senhorio a sugar-lhes o sono e o sangue.
 
Vivem o instante que cantam e não têm consciência do tempo que passa. Não têm, por isso, os pássaros, a dolorosa e trágica perspectiva de quem navega na canoa em direção ao precipício.

Os antigos navegadores sempre tiveram razão: no fim do mundo tem um abismo imenso e intransponível para o qual correm todas as águas...
 
Agora passam duas gralhas azuis voando diante da minha janela, no horizonte das montanhas e pinheiros.

Na árvore em frente (um jovem pinheiro-bravo), a pequena saíra (todas as cores) enfeita a tarde e afasta a visão do perau.
 
O voo-canto dos pássaros enche o vazio. Com tão pouco se constrói a leveza.
 
Só sei que essa presença amiga alimenta o meu coração. Por um momento, esqueço as dores da vida. Bem-hajam!