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sábado, 13 de junho de 2020

São estranhos esses dias

Jorge Finatto

photo: jfinatto. Canela


São estranhos esses dias 
de portas fechadas 
janelas pensativas

A peste corre feroz 
à solta no burgo. 
Um cenário da Idade Média

Os dias dentro de casa
trancados pra fugir do bicho ruim
passam à velocidade da luz
e são ao mesmo tempo 
longos e intermináveis

Lá pelas tantas 
tudo parece um dia só 
quando se vê 
foi-se uma semana, um mês, três meses

Os sabiás andam calados
as aves de mau agouro 
ocupam o palco 

Eu ando mesmo 
com uma bruta saudade 
de um pouco de leveza  
em meio à barbárie desses dias  
 __________

Trechos de Saudade de Vera Cruz, 17 de maio, 2020.

segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Meu sabiá

Jorge Finatto
 
photo: jfinatto

 
SÃO CINCO HORAS da manhã. Está chovendo. Escuto os pingos batendo no telhado. Estive até agora fazendo coisas, bicho da madrugada, lavei a louça da noite, depois li, fiz café, li, ouvi rádio, li, caminhei no escritório, li. Chove.
 
Sábado, 24 de novembro, 2018. Passo dos Ausentes. Vagamente iluminada pelos lampiões de luz nas esquinas mergulhados na neblina. O sabiá canta no quintal. Não sei como se defende da chuva, se é que o faz. É o meu sabiá.
 
De dia encontro-o no pátio andando com passo miúdo. É um sabiá comum e discreto. Escolheu viver no meu quintal que tem xaxins, roseiras, orquídeas, pinheiros, jasmins, flores de mel e mais.
 
Acho que ele fez ninho numa árvore perto da velha carroça no jardim. Ou talvez no desvão do sótão. É um inquilino querido. Inquilino, não. Habitante da casa e do quintal como eu. 
 
Provisórios, circunstanciais. Mas cantamos.
 

domingo, 8 de novembro de 2015

O concerto do sabiá-laranjeira

Jorge Adelar Finatto

sabiá-laranjeira. foto de Dario Sanches, São Paulo, 2006
fonte: Wikipédia
 
O mundo está povoado de barulhos. Principalmente o mundo das cidades grandes. A incômoda orquestra de automóveis, caminhões, motos, britadeiras, máquinas, etc., é fonte de constante mal-estar. Viver no interior é uma maneira de fugir disso e de outros demônios, como estresse, poluição, violência.
 
Nas cidades pequenas vive-se melhor. Que o digam os sabiás-laranjeira. Quando vou a Porto Alegre, ouço vizinhos reclamando que os sabiás estão acordando e cantando muito cedo na nossa rua e arredores.

De fato, a cantoria inicia por volta das 2h30min. No começo se ouve o canto solitário de um, depois se junta outro e outro e mais outro, até que se forma um coro de muitas vozes em direção ao amanhecer. É bonito.
 
Um pesquisador, num programa de televisão, disse que, nas pequenas cidades, eles começam a cantar só lá pelas seis da manhã. Segundo afirmou, o canto do sabiá é uma forma de atrair a fêmea. Devido ao barulho das cidades grandes, eles se veem obrigados a cantar no inicio da madrugada, único jeito de ser ouvidos pelas companheiras.

Portanto, antes de reclamar dos pássaros, devemos fazer o mea-culpa. Nós conseguimos desregular até o horário do canto dos sabiás com nossos barulhos. E ainda reclamamos.