A casa do seu Wolf era uma construção alemã em estilo bávaro, localizada na rua Lucas de Oliveira, no bairro Petrópolis, em Porto Alegre. Às vezes passo por ali, pois é o caminho que faço a pé para a banca de jornal, quando estou na cidade. Sempre fico feliz de ver que a velha casa continua no mesmo lugar.
Uma majestosa araucaria angustifolia (pinheiro brasileiro) existe ainda no pátio em frente. Ao lado, algumas árvores resistem, como abacateiros que, nessa época de início de inverno, exibem rechonchudos abacates. O terreno da casa é íngreme, eleva-se para os fundos numa inclinação acentuada, mede cerca de 25 metros de frente por mais ou menos 100 de comprimento.
Quando tinha nove, dez anos, morei na rua Dona Eugênia, perto do seu Wolf. Havia poucos edifícios. Nas casas simples, algumas de madeira, viviam famílias de origem alemã, negra, portuguesa, uruguaia, judia, italiana e outras, numa diversidade humana típica do nosso país.
Éramos meninos e meninas pobres e remediados, formávamos uma comunidade fraterna. Brincávamos juntos quase todos os dias. Em festas como São João e carnaval, os adultos participavam. Eram comemorações feitas na rua, especialmente na Lucas.
De vez em quando, no forte verão, o seu Wolf e a mulher dele nos convidavam pra tomar banho na piscina que tinham entre pés de mamão, laranjeiras, uvas e canteiros de verduras. E lá passamos muitas tardes alegres da infância.
De vez em quando, no forte verão, o seu Wolf e a mulher dele nos convidavam pra tomar banho na piscina que tinham entre pés de mamão, laranjeiras, uvas e canteiros de verduras. E lá passamos muitas tardes alegres da infância.
Colho essa recordação toda vez que caminho naquela rua.
Sei que a vida de uma araucária pode durar bem mais de 200 anos. Parece muito. No entanto, certas lembranças vivem pela eternidade dentro de nós.
O que o coração diz é que a casa do seu Wolf, há muito tempo, já não é mais apenas a casa do seu Wolf. Um pedaço da nossa infância está lá, à sombra do vetusto pinheiro.