segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Queremos a eternidade perdida de volta

Jorge Adelar Finatto
 

photo: j.finatto
 
 
Eu tinha muitas coisas para te escrever, contudo, não quero estar escrevendo com tinta e pena. Espero, porém, ver-te logo, e havemos de falar face a face. (A Terceira de João, 13, 14)
 
A nossa passagem pela vida não se eterniza senão através da palavra escrita. Afinal, é a arte, por enquanto, a única eternidade de que dispomos.

A obra do escritor e do artista é essa tentativa de resposta à imensa interrogação que nos envolve.

Estamos soltos e sozinhos no cosmos a bordo do pequeno planeta azul. E não temos nada além da promessa de Deus para nos resgatar e livrar do buraco negro do esquecimento.

Queremos a eternidade perdida de volta.
 
A palavra anda à procura de transcendência, de algo vivo e duradouro, alguma coisa que não se perca, que nos livre do peso das horas e do vórtice da transitoriedade.

Escrever é uma maneira de afirmar que a morte não terá a última palavra.

O texto olha os seres, suas histórias e sentimentos. 

Para isso foram criadas as palavras, para essa eternidade de papel e tinta, para essa busca do encontro.
  
Levantar todos os dias, folhear um livro, olhar a cara no espelho, sair de casa, ir à vida, é um ato de enorme coragem.
 
Qualquer texto, poema, romance, conto, diário, anotação no guardanapo, no caderno ou na tela do computador, tenta salvar o instante que passa.

Escrevemos e lemos enquanto não se realiza a promessa.