domingo, 27 de novembro de 2022

A dança misteriosa

 Jorge Finatto


photos: jfinatto


A paleta de cores é infinita. Não há limite para as formas e expressões. É difícil imaginar que não haja uma inteligência por trás de cada traço, cada tom, cada som.

A beleza é uma construção de razão e sentimento. O Criador não é um jogador de dados, como salientou Einstein. E segue a dança misteriosa do universo numa flor de hortênsia...

segunda-feira, 21 de novembro de 2022

Ávido

 Jorge Finatto


photo jfinatto


Tanta beleza, tanto perfume, tão breve manhã. 

Colhamos o instante com coração ávido.

quinta-feira, 10 de novembro de 2022

O chafariz e eu

 Jorge Finatto

Teatro Nacional São Carlos e o chafariz.
Wikipédia. Autor: Thomas


ERA UMA TARDE de inverno em Lisboa. Saí do hotel Dom Pedro, no bairro Amoreiras, e me dirigi a pé à Livraria e Editora Cotovia, no Bairro Alto, para me inteirar dos lançamentos. Enquanto examinava a estante, um gato preto apareceu e se pôs sobre os livros em minha frente. Na verdade, uma gata bonita, cujo nome era Maravilhas. Até aí, maravilha.

Conversei com Maravilhas como sempre faço com gatos. Escolhi os livros e parti, agora em direção ao café A Brasileira (aquele freqüentado por Fernando Pessoa), no Chiado. Depois do pastel de nata e do café, rumei para a Livraria Bertrand, a mais antiga do mundo, na Rua Garrett, outra perdição.

Em seguida, caminhei até o Largo do Teatro Nacional São Carlos, um lugar bonito onde está situado o edifício no qual nasceu Fernando Pessoa. Me vali do celular (telemóvel) pra fazer algumas fotos. Havia um ruidoso grupo de italianos por ali (eu acabara de chegar de uma temporada na Itália). Até que decidi atravessar o largo e entrar no teatro.

Dei um passo em frente e... mergulhei no chafariz (a água pelas bordas). Mergulhei com capote, mochila, chapéu, manta, sacola, com tudo. Vim à tona ensopado, com tocos de cigarro enfiados nos óculos, e pedaços de papel pelo casaco.

Fiz um grande esforço pra sair. Torci pra que ninguém viesse me ajudar, queria evitar mais constrangimento. De fato, ninguém veio. Quando, enfim, consegui sair do chafariz, uma gargalhada geral ecoou na praça. Os malditos italianos não me pouparam. Um gaiato entre eles gritou que era tentativa de suicídio.

Fiz de conta que não era comigo. Saí andando meio de banda, meio tonto, gelado, molhadíssimo, pingando, com a mão e o ombro direitos machucados, sem entender o que tinha acontecido.

No fundo não havia mistério. Óculos com lentes de fundo de garrafa, visão mais ou menos (menos, menos), pensamento caçando borboletas. Fui ao fundo.

Mas, afinal, quem inventou de colocar aquele chafariz encavado no chão ali, na minha frente? E quem teve a infeliz ideia de trazer aqueles maledettos justo naquela hora?

Livros molhados, telefone molhado, passaporte molhado, ânimo e alma molhados, roupas, tudo molhado. Isso aconteceu em fevereiro de 2018.

Restou o consolo: pelo menos fiz rir a malta maledetta com a minha commedia dell'arte.

Baixa o pano.