Jorge Adelar Finatto
Mercado de San Telmo, Buenos Aires, photos: jfinatto |
Se algum dia uma grande catástrofe se abater sobre o planeta, será possível aos sobreviventes reconstruí-lo a partir das quinquilharias da Feira de Antigüidades de San Telmo, em Buenos Aires. Um passeio pelo bairro de San Telmo, aos domingos, nos permite encontrar, na Plaza Dorrego e pelas ruas do entorno, objetos de todos os tipos e épocas. A feira existe desde 1970 neste lugar boêmio e convivente.
Mas nem só de velhos objetos vive o bairro. Além dos expositores, que povoam a praça, as calçadas e o Mercado de San Telmo, existem artistas que fazem apresentações aqui e ali. Shows com dançarinos de tango, violonistas, cantores, marionetes, tudo isso e mais o que não tem fim se encontra em San Telmo. E, como não podia deixar de ser, há livros usados também, muitos livros.
No domingo em que lá estive, desabou uma chuva tremenda de tarde, fui para dentro do mercado. Só que, meia-hora antes, o pessoal da rua já cobria as mercadorias com plásticos. Eles sabem interpretar as nuvens portenhas.
No domingo em que lá estive, desabou uma chuva tremenda de tarde, fui para dentro do mercado. Só que, meia-hora antes, o pessoal da rua já cobria as mercadorias com plásticos. Eles sabem interpretar as nuvens portenhas.
photo: jfinatto |
A Feira de San Telmo lembra, de algum modo, o meu escritório em Paso de Los Ausentes. Um pequeno território extraviado de San Telmo. Velha máquina fotográfica que não funciona há muitos anos, caleidoscópios, lunetas, quadros, telescópio, remo, espada, boleadeira, balaios, vidros, pedras, retratos, bijus, souvenirs, etc., etc. Um estranho lugar onde eu sou o quinquilheiro.
A vida é feita de quinquilharias materiais e afetivas. Cada objeto guardado possui uma alma. Cada sentimento é um diamante. Todos reunidos formam esse museu particular que vamos construindo. E todos nós, dia mais, dia menos, nos transformamos também numa quinquilharia.
Sem nostalgia de vidas passadas (vivemos muitas vidas antes dessa de agora), vamos levando o barco (afinal, San Telmo é o padroeiro dos navegadores).
Quinquilharias vivas é o que somos. Mas, ao jeito de cada um, participamos da vida da tribo, assobiando e decifrando o tango que nos tocou dançar. Se erramos o passo ou o verso, acertamos os próximos.
photo: jfinatto |
A vida é feita de quinquilharias materiais e afetivas. Cada objeto guardado possui uma alma. Cada sentimento é um diamante. Todos reunidos formam esse museu particular que vamos construindo. E todos nós, dia mais, dia menos, nos transformamos também numa quinquilharia.
Sem nostalgia de vidas passadas (vivemos muitas vidas antes dessa de agora), vamos levando o barco (afinal, San Telmo é o padroeiro dos navegadores).
Quinquilharias vivas é o que somos. Mas, ao jeito de cada um, participamos da vida da tribo, assobiando e decifrando o tango que nos tocou dançar. Se erramos o passo ou o verso, acertamos os próximos.
photo: jfinatto |