Mostrando postagens com marcador Carlos Drummond de Andrade. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Carlos Drummond de Andrade. Mostrar todas as postagens

domingo, 4 de fevereiro de 2018

O mundo de Chaplin

Jorge Finatto
 
estátua de Chaplin na beira do Lago Léman, Vevey, Suíça. photo: jfinatto
 

A VISITA AO MUSEU CHAPLIN, na cidade de Vevey, situada no Cantão de Vaud, Suíça, nos põe em contato com informações preciosas sobre a vida e a obra do grande artista e diretor de cinema. No meu caso, não vim visitar Charles Chaplin (1889-1977), mas sim encontrar Carlitos (Charlot), meu e nosso amigo, como diz Drummond no belo poema Canto ao homem do povo Charlie Chaplin (livro A Rosa do Povo). A emoção faz parte do encontro.
 
O museu encontra-se na propriedade onde Chaplin viveu com a família nos últimos 25 anos de vida após ser expulso dos Estados Unidos por suposta adesão ao comunismo, uma burrice sem tamanho da Comissão criada pelo Senador americano Joseph McCarthy.
 
escultura representando cena de filme. photo: jfinatto
 
 
idem. photo: jfinatto
 
Chaplin  depôs perante a tal comissão e negou o envolvimento, mas não foi ouvido. Como se um homem da dimensão dele precisasse atestado ideológico depois de ter produzido a obra que produziu, um legado artístico ao nível, na minha visão, do que fizeram Dante e Leonardo da Vinci.
 
Voltemos ao museu. A visita começa com uma projeção de dez minutos sobre a vida e a produção do artista. Nascido em Londres teve infância sofrida e pobre e lutou muito para se firmar no cinema nos Estados Unidos.
 
peças inesquecíveis. photo: jfinatto
 
a cega de Luzes da Cidade. photo: jfinatto
 
Depois passa-se aos estúdios, amplas salas onde se entra em contato com os filmes e esculturas de personagens e dados sobre histórias e atores. Cenas são projetadas. Ali mostra-se muito do universo chapliniano, apresentando alguns artistas que receberam sua influência, como Michael Jackson (os passos de moon walk teriam sido inspirados por Carlitos) e os criadores de O Gordo e o Magro.
 
Nesse percurso há exposição de objetos do personagem Carlitos, como o chapéu, as botas, a bengalinha. É tudo muito bem organizado. O atendimento do pessoal do museu é ótimo, começando pela entrada, onde fica também a lojinha.
 
asas do filme O Garoto. photo: jfinatto
 
a mansão familiar. photo: jfinatto
 
Depois pode-se visitar a mansão onde Chaplin e a família viveram nesses 25 anos. É uma senhora casa. Ali estão o escritório dele, cartas, fotos e manuscritos em exposição. Os diversos ambientes da mansão proporcionam uma visão da intimidade familiar.
 
Carlitos. Se um dia quiserem dar uma ideia do ser humano a seres de outro planeta, enviem-lhes filmes de Carlitos. Seria muito oportuno. Ali estamos retratados com realismo, humor, afeição. A tragédia e a grandeza. O sofrimento e a esperança, as tristezas da vida, as dores que nos impomos uns aos outros, e sobretudo a alegria de existir.
 
O vagabundo pobretão, com maneiras refinadas e a dignidade de um cavaleiro andante, misturado e perdido num mundo de humilhações aos mais pobres e carentes, sem perder jamais a ternura e o amor humano.
figurino de O Grande Ditador. photo: jfinatto
 
amizade com Einstein. photo: jfinatto
 
__________ 
 
Chaplin's World:
 

sábado, 8 de julho de 2017

Rio de Janeiro em prosa e verso

Jorge Finatto
 
photo: jfinatto

A interessantíssima história da segunda terra natal de todos os brasileiros e de todo estrangeiro de coração aberto à graça da vida (...)*
                           (frase da orelha do livro)

UMA DELÍCIA DE LIVRO. Trata-se de Rio de Janeiro em prosa e verso, antologia de 200 autores organizada por Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade, lançada no distante 1965. O assunto é a cidade maravilhosa em suas mil faces, visões, cores, histórias, alegrias e dramas. Uma relíquia de edição.
 
Contei, para sua aquisição, com os bons préstimos da Livraria Erico Verissimo, de Porto Alegre, à qual nunca havia antes recorrido. Trata-se de livro usado.
 
A variedade de autores e enfoques é preciosa, tornando o volume único em seu valor documental e literário. O sabor fica por conta das excelentes iguarias oferecidas em forma de crônicas, poemas, artigos, lendas, relatos de costumes, histórias das ruas, paisagens, plantas, carnavais, livrarias e tudo mais.

Escritores e poetas ilustres, como os dois organizadores, estão presentes nas 584 páginas, além de jornalistas, historiadores, ensaístas, viajantes, missionários, artistas. Não faltam belas imagens em forma de desenhos, fotografias, mapas e outras ilustrações.

photo: Manuel Bandeira

O poeta e diplomata francês Paul Claudel faz uma bela síntese do ambiente natural do Rio de Janeiro:

O Rio é a única cidade que ainda não conseguiu enxotar a natureza. (pág. 562)
 
Com Lúcio Rangel ficamos sabendo que em 1917 surgiu o primeiro samba, o famoso Pelo telefone,

nascido na casa da Tia Ciata, na Praça Onze, onde se reuniam os melhores compositores populares da época. (pág. 243)

De autoria de um certo Ernesto dos Santos, o Donga, integrante do grupo de compositores Oito Batutas, a letra diz coisas como:
 
Pelo telefone
Chefe de Polícia
Mandou me avisar
Que na Carioca
Tem uma roleta
Para se jogar. (pág. 243)
 
O escritor austríaco Stefan Zweig, um dos grandes do século XX em todo o mundo, assim escreve:

A beleza dessa cidade, dessa paisagem, com efeito, quase não se pode reproduzir nem pela palavra, nem pela fotografia, porque é demasiado variada, demasiado heterogênea e inesgotável; um pintor que quisesse representar o Rio em toda a sua plenitude, e com todos os seus milhares de cores e cenas, não teria tempo para concluir a sua obra numa vida inteira. (pág. 559)

Tem Alvaro Moreyra falando da Melindrosa, genial criação de J. Carlos, e da obra do artista:
 
O ente que olhar, daqui a cem anos, as obras-primas de J. Carlos poderá viver a vida que andamos vivendo... (1922) (pág. 529)
 
photo: Carlos Drummond de Andrade
 
Graciliano Ramos nos diz a respeito da Livraria José Olympio, ícone de uma época e ponto de encontro de escritores e intelectuais:

A Livraria José Olympio daria um romance. Entre aquelas paredes, que para bem dizer não são paredes, porque os livros cobrem tudo, um observador curioso, um desses que vão lá todos os dias, poderia arranjar assunto para um bom romance, que o editor impingiria ao público facilmente numa edição grande, porque estaria fazendo propaganda do seu negócio. (pág. 443)

Machado de Assis, Gilberto Freyre, Olavo Bilac, Vinicius de Moraes, José de Alencar, José Lins do Rego, Astrogildo Pereira, Jean Baptiste Debret, Coelho Neto, João do Rio (Paulo Barreto), Júlia Lopes de Almeida, Eneida, Mário de Andrade, Antônio Maria, José Carlos Oliveira, Elsie Lessa, Lúcio Costa, Di Cavalcanti, Olegário Mariano, Paulo Armando, Jorge de Lima, Mário Pederneiras e miles e miles de outros autores com seu caleidoscópio de observações sobre a cidade amada.
 
Está aí um livro cuja reedição, a bem da cultura brasileira, está a clamar aos céus e aos editores de boa vontade da Terra de Vera Cruz.
 
__________ 

*Rio de Janeiro em Prosa e Verso. Organizado por Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1965, 584p., ilustrado. Vol. V da Coleção Rio 4 Séculos.
O créditos das fotos serão registrados tão logo conhecidos os autores.