Jorge Finatto
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EU SEMPRE TIVE um encanto pelos bondes (elétricos em Portugal). Na minha infância e adolescência havia muitos em Porto Alegre, servindo diversos bairros. Eu viajava sempre neles. Era um transporte bem pensado, em baixa e média velocidades, acho que não alcançava 50 km/h. Tinha muito a ver com casas nas ruas, árvores e tempo para viver.
Depois acabaram com os bondes. Assim como acabaram com os trens no Brasil, algo inacreditável num país imenso. Resultado: hoje morrem milhares nas estradas superlotadas de automóveis e caminhões, em mau estado de conservação. O transporte de cargas é caro, encarecendo tudo. Decisões erradas como essa levaram o país a este estado lamentável.
Mas eu queria dizer que estou matando a saudade dos bondes em Zurique. E já matei um bocado da saudade dos trens em viagens internas pela Suíça e para a França. O trem francês não é tão bom. Os trens e bondes suíços são incomparáveis em limpeza, conforto, silêncio e pontualidade. Os serviços funcionam, não são complicados. E nos bondes não vi fiscais examinando se o sujeito comprou ou não a passagem. Nos trens a fiscalização é mais presente, mas não sufocante como em outros países.
Há uma consciência social muito forte. As pessoas sabem que devem cumprir a lei e o fazem porque acreditam nisso. Todo mundo ganha. Não é como no Brasil onde a lei é para os outros. E todos perdem. Um dia, espero, nos livraremos dessa praga.
A cor dos bondes é azul cobalto e branco. Como no céu. Uma delícia.