segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Quintana e a Feira do Livro de Porto Alegre

Carlos Alberto de Souza
 
Mario Quintana. photo: Daniel de Andrade Simões*
 
 
Mario Quintana foi, por muitos anos, um frequentador assíduo da Feira do Livro.
 
Não faltavam razões para ele se esgueirar por entre as bancas que ano a ano foram se multiplicando e rompendo os limites da Praça da Alfândega.
 
Quintana era escritor, além de tradutor e crítico cuja opinião era abundantemente demandada por novos autores; portanto, a feira era um habitat natural para ele.
 
Quintana era poeta, e os poetas gostam de praças.
 
Quintana morava no Centro (habitou o Majestic, o Presidente, o Royal e o Porto Alegre Residence) e a proximidade desses hotéis com a feira também facilitava a ida reiterada do velho pedestre e fumante a cada edição do maior evento livreiro do Estado.
 
Quintana trabalhava no Centro, no Correio do Povo, contíguo à praça da feira, e os serviços que prestava à Editora/Revista do Globo deviam levá-lo ao quartel-general da empresa, na Rua da Praia, onde ficava a histórica livraria de mesmo nome.
 
Quintana era solteiro, não tinha família, pelo menos um núcleo familiar sólido - vale lembrar a dedicada presença da sobrinha Helena no fim da vida do tio querido. Ir à feira, onde teve a esperá-lo uma bela Bruna Lombardi, também era uma forma de fugir da solidão do quarto de hotel. Na praça e em outros lugares públicos, o poeta era admirado, festejado, abordado, acolhido, reconhecido. A rua sempre foi para ele uma espécie de antítese da Academia Brasileira de Letras.
 
Enfim, não faltavam razões para Quintana ir à feira. E, uma delas, convém não esquecer, a condição de leitor, de consumidor de livros, de remexedor de baús.
 
Jamais Mario Quintana foi à Feira do Livro, penso eu, “porque ele nos últimos anos era um velhinho folclórico...”, como disse, com rara infelicidade, o patrono da atual edição da feira, Luís Augusto Fischer, em entrevista a Zero Hora (caderno Cultura, pág. Central, 12/10/2013). Nessa, o dono da coluna Pesqueiro da própria ZH se enredou na linha do pensamento e das palavras e fez feio.
 
O bom professor tem a chance de se redimir homenageando Quintana no seu discurso de abertura da feira. Afinal, foi com a presença constante e pertinente de figuras como o poeta que a feira se fez e é o que é.
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Carlos Alberto de Souza é jornalista em Porto Alegre.
smcsouza@uol.com.br