Jorge Adelar Finatto
Como ele nunca tivera pai para amar, sempre lhe pareceu que a coisa mais em falta no mundo não é dinheiro nem qualquer outro bem material, mas um abraço de pai.
Quando menino, era difícil explicar aquela ausência para os outros. Na rua e na escola, as pessoas botavam olho, cara de admiração. Não ter pai era mesmo que não ter um braço ou uma perna.
A sombra da esfinge o perseguia no Dia dos Pais, aniversários, natais, páscoas, reuniões na escola, fins de semana, noites e dias sem fim. A falta projetou-se nos sonhos e pesadelos do menino.
O tempo passou.
Um dia ele descobriu que outras casas também não tinham a figura misteriosa. Só que muita gente escondia isso. Estranho: escondiam um ser que não existia. Ocultavam o mito. E alguns possuíam apenas uma deprimente imagem de homem no sofá da sala.
Um dia ele descobriu que outras casas também não tinham a figura misteriosa. Só que muita gente escondia isso. Estranho: escondiam um ser que não existia. Ocultavam o mito. E alguns possuíam apenas uma deprimente imagem de homem no sofá da sala.
Os sem-pai já não eram exceção. Talvez fossem maioria.
Ficou nele a idéia de que as mulheres, e não os homens, fazem o moinho do mundo girar.
Na verdade, isso não era um consolo, mas a consciência de uma espécie de mutilação. Sempre falta um pedaço.
A humanidade é toda seqüelada, ele pensa, enquanto caminha com o filho pela mão na praça do bairro, domingo à tarde.
É que pra ele, agora, todo dia é Dia dos Pais.
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Texto revisto, publicado anteriormente em 16 de maio, 2013.