quinta-feira, 2 de agosto de 2018

In guerra per amore

Jorge Finatto

 

NA TRADIÇÃO do bom cinema italiano, Em guerra por amor, dirigido por Pierfrancesco Diliberto (Pif), é uma feliz revelação. Mistura de comédia e drama, a história se passa durante a Segunda Guerra Mundial, em 1943. Arturo (interpretado pelo próprio diretor Pif) quer se casar com Flora (ambos imigrantes italianos em Nova Yorq), mas ela está prometida, contra sua vontade, a Carmelo, um mafioso.

A maneira de Arturo conseguir seu objetivo é buscar a autorização do pai de Flora. Mas ele vive num vilarejo da Sicília ocupado por nazistas e soldados de Mussolini. O único jeito que encontra é alistar-se no exército americano para ser mandado para lutar na Itália.

O filme tem passagens que levam o espectador às gargalhadas. O humor de qualidade convive com a dura história real. Na invasão do sul da Itália, os militares americanos acabam delegando poderes de administração a membros da máfia, em troca de uma facilitação da ocupação. Isto reforça a presença e a atuação da máfia naquele país.

Algumas cenas são antológicas como aquela em que Arturo é içado do navio montado em um burro e vai para o vilarejo levado por um helicóptero... O personagem Saro (interpretado por Sergio Vespertino), um cego conduzido por um amigo com dificuldades físicas, tem a missão de identificar a proximidade de ataques aéreos auscultando o céu à beira mar... Quando percebe que eles acontecerão, saem em correria e avisam a população para ir ao abrigo.

O elenco é de primeira qualidade. O enredo poderia ser melhor amarrado em alguns pontos, como no que diz respeito ao menino que perdeu o pai na guerra e vive com a mãe e o avô em situação de penúria (como toda população naquela altura). Por outro lado, há momentos de realismo, dignos dos grandes filmes italianos. Como aquele que focaliza a decepção do avô do menino com Mussolini (para ele um santo), jogando sua estátua de madeira pela janela. Ou aquelas imagens em que aparecem os corpos de soldados e civis mortos, mostrando a falta de sentido da barbárie. A trilha sonora de Santi Pulvirenti é excelente.

O diretor dedica a obra a Ettore Scola. A homenagem revela um compromisso com o melhor da cinematografia italiana e é um bom augúrio em relação ao trabalho do jovem ator e diretor. O filme merece ser visto e curtido.

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Trailer do filme no Youtube:
https://www.youtube.com/watch?v=ydJY-01ko3o