domingo, 3 de agosto de 2014

Elegia 1975

Jorge Adelar Finatto

photo: j.finatto
 

O vento não traz
notícias de longe

todos foram dormir
depois do vinho
 
só nós permanecemos
incomunicáveis
debaixo das estrelas

e do frio

um que outro fantasma passa
fugitivo na calçada
não perguntamos pela vida
passada ou futura


habitamos cada momento
com olhos de prisioneiros violentados

escutamos o silêncio que vem do rio


a fome imensa de liberdade
que nos anima e nos faz fortes
na tempestade que nos enlaça
nos joga contra a parede

nosso rosto parece

ao de toda gente
mas trazemos

segredos inviolados
noites de lobos feridos

olhamos a cidade morta
nenhum anjo nos acalanta

estamos vivos
e nunca doeu tanto


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Do livro Claridade, coedição Prefeitura Municipal de Porto Alegre e Editora Movimento, 1983.