O vento não traz
notícias de longe
todos foram dormir
depois do vinho
só nós permanecemos
incomunicáveis
debaixo das estrelas
e do frio
um que outro fantasma passa
fugitivo na calçada
não perguntamos pela vida
passada ou futura
habitamos cada momento
com olhos de prisioneiros violentados
escutamos o silêncio que vem do rio
a fome imensa de liberdade
que nos anima e nos faz fortes
na tempestade que nos enlaça
nos joga contra a parede
nosso rosto parece
ao de toda gente
mas trazemos
segredos inviolados
noites de lobos feridos
olhamos a cidade morta
nenhum anjo nos acalanta
estamos vivos
e nunca doeu tanto
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Do livro Claridade, coedição Prefeitura Municipal de Porto Alegre e Editora Movimento, 1983.