Jorge Adelar Finatto
photo: j.finatto. Veneza, Itália |
A vida é um teatro de saltimbancos sem tempo para ensaiar. Nós somos os atores improvisados no oblíquo palco da existência. Vivemos o frágil instante imersos em acontecimentos sobre os quais não temos nenhum controle, ninguém tem.
Não existe papel fácil nessa tragicomédia. Todos os gestos, todas as falas são inaugurais, irrepetíveis, e não vêm precedidos de qualquer espécie de roteiro previamente organizado.
Viver não acontece num cenário ideal. Não recebemos script ao nascer. Construímos o personagem na medida em que vivemos a história.
Esta construção se dá através dos valores que recebemos, em casa e no mundo, e da crítica que fazemos em relação a esses mesmos valores. O pensamento crítico não dissociado do sentimento humano é o que pode nos valer na difícil composição.
O essencial é saber se temos capacidade de nos colocar no lugar do outro, de ouvi-lo, de nos comover com suas circunstâncias. E nunca aceitar a violência física, moral, intelectual ou de qualquer tipo como forma de legitimação e exercício de poder.
Raramente nosso desempenho sai como gostaríamos. Há sempre espaço para algo melhor, mais refinado, mais feliz talvez. No fundo queríamos um cenário mais luminoso e humano, um enredo menos sofrido, mais poesia e menos prosa.
Vivemos ao relento o sonho dos saltimbancos.
A peça teatral nunca se completa, não existe o grand finale. As histórias são cruas, comuns, às vezes com alguma luz, sempre tão diferentes, tão iguais.
A peça teatral nunca se completa, não existe o grand finale. As histórias são cruas, comuns, às vezes com alguma luz, sempre tão diferentes, tão iguais.
Somos personagens em carne viva sobre o palco vazio, sozinhos diante do imponderável. Vivemos ao vivo, apresentação única. E não podemos rasgar a fantasia.