Confesso que sou um leitor tosco, desses que buscam sentido nas coisas que leem. Não apenas gosto de ler como de reler livros, e a cada nova leitura descubro coisas que antes não vi. O tempo é raro diamante. Não pode ser desperdiçado. Lutamos para escolher, entre milhares, o livro que irá nos fazer mais felizes, mais saciados na busca de beleza e conhecimento, recompensando-nos pelo esforço da leitura.
Li entrevista de uma escritora em que ela afirma que não acredita que a literatura possa ter uma função, nem que possa ser uma possibilidade de reflexão, de alteridade. Diz também que literatura é literatura, não tem função nenhuma e não se pode esperar isso dela.
Não tenho pretensão de atribuir "funções" à literatura. Mas não posso disso extrair seu oposto, que é negar a ela qualquer função. Como leitor, busco nos livros prazer, encanto, conhecimento, uma espécie de felicidade que só a leitura pode trazer e que não encontro em outras coisas.
Esse prazer e essa felicidade estão diretamente relacionados à possibilidade de construção de sentidos que a leitura oferece. O escritor escreve determinada coisa e o leitor estabelece suas relações, faz descobertas, extrai e constrói significados. A obra literária só ganha vida nos olhos do leitor e ele próprio torna-se criador no ato de ler.
Desde que acordamos de manhã até o segundo antes de dormir, passamos o tempo procurando sentidos. Isso é assim porque temos uma consciência e não podemos apagá-la. Do outro lado, está o inconsciente, um oceano de sentidos ocultos, intuições, memórias pessoais e ancestrais que fazem parte do nosso ser.
Ninguém lê uma página ou uma linha sequer sem essa tentativa de encontrar significados. E se lemos é porque estamos em busca de alguma coisa, algo nos falta, estamos em construção.
O assunto é longo e comporta várias interpretações. O que eu acho é que escrever e botar um livro no mundo é assunto de muita responsabilidade. Por isso custo a entender o que foi dito na entrevista. Talvez não tenha ainda alcance suficiente para compreender.
Contudo, no dia em que chegar à conclusão de que a literatura não tem função nenhuma, que não serve para refletir, nem para ver o mundo e o outro numa perspectiva diferente, no dia, em suma, em que entender que literatura é literatura, e ficar só nisso, aí então será a hora de parar e fechar o estabelecimento.
Contudo, no dia em que chegar à conclusão de que a literatura não tem função nenhuma, que não serve para refletir, nem para ver o mundo e o outro numa perspectiva diferente, no dia, em suma, em que entender que literatura é literatura, e ficar só nisso, aí então será a hora de parar e fechar o estabelecimento.
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Foto: J. Finatto. Ipê amarelo.