terça-feira, 6 de outubro de 2020

Beija-flor no galho pensador

 Jorge Finatto

photo: Clara Finatto. Canela/RS

Na tarde de neblina e frio desta instável primavera, o beija-flor cisma.

Pensando na vidinha, no galho pensador, ele faz uma pausa. Que ninguém é de ferro. 

Fica um tempo, dá uma saída e depois volta. Não se incomoda que o observem da janela. Tampouco que abelhudos lhe façam fotos. Há um pote com líquido de néctar no galho ao lado que muito o agrada. E não só a ele: tem irmãos ou amigos que vêm ali toda hora todos os dias. 

No que estará pensando? 

Há de ter lá os seus compromissos o beija-flor, uma casa pra voltar, filhos pra criar, contas a pagar, preocupações de quem vive neste mundo de Deus.

Mas, nesse momento, ele precisa ficar sozinho e em silêncio. Precisa disso pra saber quem ele é. 

Porque, às vezes, na dura faina da sobrevivência, a gente esquece quem é.