quinta-feira, 5 de setembro de 2019

O cantor da primavera

Jorge Finatto

Sabiá-laranjeira. photo: Dario Sanches. Wikipédia

UMA ALEGRIA era tudo o que eu queria por esses dias. O mundo em geral, e o Brasil em particular, andam muito tristes. Pois ela enfim chegou. Os sabiás voltaram a habitar a minha rua.
 
É uma alegria humilde, numa pequena rua. Mas enche o coração. Os sabiás voltaram a cantar, coisa que não acontecia há muito tempo. No meio de tanto barulho, gritos, discussões no trânsito, nos ambientes de trabalho, nos apartamentos, ouvir o sabiá é um pouco acercar-se do nirvana.
 
O sabiá é o cantor da primavera. Eu andava saudoso da bela música desse querido artista. A minha rua - singela ruazinha - sabe bem acolher os pássaros em suas árvores e vãos de telhado.
 
O ar está irrespirável no planeta. Pela queima de combustíveis e das florestas. Pelos profundos conflitos. Ninguém se entende e há poderosos fazendo o possível para confundir e piorar as coisas. O contingente humano em estado de sofrimento e precariedade é inumerável.
 
Ouvir o sabiá, nesta antiutopia, alivia a alma. Sinto uma felicidade que nem sei explicar. Uma dádiva. A vida perto do amanhecer.