Jorge Adelar Finatto
Este é o penúltimo texto da série dos 10 mais lidos em 2014. No domingo, será publicado o mais lido do ano.
O TEMPO é um mistério que não se deixa desvelar. Desde que o primeiro homem e a primeira mulher foram expulsos do paraíso, onde tinham vida eterna, a passagem do tempo passou a ocupar o núcleo das atenções, perdendo apenas para a luta pela sobrevivência.
Entender o tempo e procurar dominá-lo, para quem é mortal, é uma obsessão.
Segundo o dicionário Aurélio, o tempo é a sucessão dos anos, dos dias, das horas, etc., que envolve, para o homem, a noção de presente, passado e futuro.
A natureza do tempo, contudo, está longe de ser domesticada. Tem sido tema número um de estudos e imaginação para filósofos, cientistas, poetas, artistas e livres-pensadores em geral. Apesar disso, ninguém conseguiu até hoje estabelecer um conceito plausível.
Não há resposta para esta questão tão cotidiana quanto insondável: o que é o tempo?
Não há resposta para esta questão tão cotidiana quanto insondável: o que é o tempo?
A idéia de que o tempo flui continuamente em direção ao futuro (fluxo do tempo) e de que o presente é a única coisa real é o princípio melhor assimilado pela maioria das pessoas. Para os físicos, porém, o tempo simplesmente não flui, ele apenas é. Há filósofos que afirmam que o fluir do tempo se baseia numa falsa concepção.¹ Albert Einstein assim se expressou: O passado, o presente e o futuro são apenas ilusões, mesmo que teimosas.²
Uma corrente entende que o tempo existe de forma estendida, isto é, passado, presente e futuro coexistem simultaneamente, como uma paisagem em que o conjuto de objetos visuais se apresenta ao mesmo tempo aos olhos do observador.
É o que chamam de teoria do bloco de tempo (block time). Esta noção está ligada à escola filosófica conhecida como eternalismo, a qual considera que o universo é dotado de quatro dimensões. De tal forma, passado, presente e futuro seriam igualmente reais. Toda a eternidade está estendida num bloco quadridimensional composto de tempo e três dimensões espaciais. ³
É como caminhar na bruma tratar desse assunto. Como andar sobre a corda estendida entre dois edifícios, feito um funâmbulo.
O tempo, penso eu na minha vã filosofia, é bem diferente na vida de uma estrela, se comparado ao tempo de uma borboleta. Para a borboleta, a migalha de um segundo faz diferença em sua breve existência (entre duas semanas e um mês, em média). Ao passo que um ano dos nossos, na vida da estrela Vega, por exemplo, nada significa (ela, que é uma estrela nova, tem cerca de 455 milhões de anos e muitos, muitos mais pela frente...).
O tempo, penso eu na minha vã filosofia, é bem diferente na vida de uma estrela, se comparado ao tempo de uma borboleta. Para a borboleta, a migalha de um segundo faz diferença em sua breve existência (entre duas semanas e um mês, em média). Ao passo que um ano dos nossos, na vida da estrela Vega, por exemplo, nada significa (ela, que é uma estrela nova, tem cerca de 455 milhões de anos e muitos, muitos mais pela frente...).
O tempo que interessa para nós, patéticos mortais, é o que tem a ver com a vida humana. Daí a acolhida, entre nós, da noção de fluxo do tempo.
Tempo urgente, tempo transitório, tempo finito, tempo que escapa entre os dedos. Será talvez impossível chegarmos a uma visão absoluta do tempo diante da nossa condição. Não temos distanciamento crítico, somos prisioneiros do efêmero. Em outras palavras, somos parte do enigma.
Uma vez cheguei a considerar o tempo como inexistente, na esteira do pensamento de uma parcela dos físicos. Seria uma criação humana feita para medir a duração de fatos, acontecimentos, anos de vida, horas de descanso, períodos de trabalho, estudo, medição sem a qual a vida seria caótica nos padrões da nossa civilização. Por isso inventamos relógios de pulso, de parede, de sol, atômicos, clepsidras, ampulhetas, etc.
Tempo urgente, tempo transitório, tempo finito, tempo que escapa entre os dedos. Será talvez impossível chegarmos a uma visão absoluta do tempo diante da nossa condição. Não temos distanciamento crítico, somos prisioneiros do efêmero. Em outras palavras, somos parte do enigma.
Uma vez cheguei a considerar o tempo como inexistente, na esteira do pensamento de uma parcela dos físicos. Seria uma criação humana feita para medir a duração de fatos, acontecimentos, anos de vida, horas de descanso, períodos de trabalho, estudo, medição sem a qual a vida seria caótica nos padrões da nossa civilização. Por isso inventamos relógios de pulso, de parede, de sol, atômicos, clepsidras, ampulhetas, etc.
O que haveria, nessa visão singela, é uma contínua modificação da matéria. No caso dos seres vivos, estas alterações aconteceriam desde a concepção até a morte. O tempo não existiria como uma realidade autônoma, mas relativa. A idéia de fluxo de tempo perderia o sentido com a eliminação da morte, por exemplo. Mas não passei dessas abstrações de fundo de quintal.
Nessa viagem ao redor do tempo, creio que os poetas se aproximam melhor do imbróglio do que os cientistas e filósofos.
O tempo é uma viagem, o voo de um pássaro, o movimento do rio, a asa da borboleta acariciando o ar, o risco de uma estrela cadente, o pulsar de um vaga-lume. O resto é estranhamento, dúvida, perplexidade.
O mistério continua.
Vai saber por que eu tirei o domingo pra pensar no tempo, em vez de sair por aí aspirando os aromas inaugurais da primavera nos Campos de Cima do Esquecimento. Pois é o que vou fazer agora, enquanto ainda há dia lá fora.
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¹-²-³ Biblioteca Scientific American Brasil, vol. 3. Enigmas do Espaço-Tempo. Ediouro Duetto Editorial Ltda., São Paulo, 2013. O fluxo misterioso. Artigo de Paul Davies, págs. 9 e 10.
Texto publicado em 7 de setembro, 2014.
Photo de relógio reproduzida da internet. O crédito da imagem será dado tão logo conhecida a autoria.
Photo de relógio reproduzida da internet. O crédito da imagem será dado tão logo conhecida a autoria.