Jorge Adelar Finatto
Aos 54 anos, o escritor se despede "para tentar reunir os estilhaços" em que se despedaçou com o passar do tempo, na tentativa de "ver se ainda é possível recompor com eles alguma unidade". Longe dos livros - "sobretudo dos melhores" - e também das cartas, jornais, revistas, televisões, dos amigos e da própria família, Suassuna tentará livrar-se dos "sonhos, quimeras e visões às vezes até utópicas da vida e do real", que o atormentam há algum tempo. (Folha de São Paulo, 16.8.1981)
Abro o jornal de manhã
com aquela notícia: Ariano Suassuna
calou-se pro mundo
o silêncio enche os corações
lota os teatros
embrenha-se entre as anotações
invade as estantes
felino
enovela-se a um canto da sala
gotejando sangue pelos ouvidos
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Poema do livro Claridade, Prefeitura Municipal de Porto Alegre, Editora Movimento, Porto Alegre, 1983.