quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

Enchendo o saco de Deus

 Jorge Finatto

photo: jfinatto


AS BARBARIDADES que o ser humano faz todos os dias. Seremos nós um ato falho da criação? Fico pensando nessas coisas que me perseguem desde os tempos do Dilúvio.

Está escrito em Gênesis 6: 5-8: "Por conseguinte, Jeová viu que a maldade do homem era abundante na terra e que toda inclinação dos pensamentos do seu coração era só má, todo o tempo. E Jeová deplorou ter feito os homens na terra e sentiu-se magoado no coração."

"De modo que Jeová disse: "Vou obliterar da superfície do solo os homens que criei, desde o homem até o animal doméstico, até o animal movente e até  a criatura voadora dos céus, porque deveras deploro tê-los feito." Mas Noé achou favor aos olhos de Jeová."

O Dilúvio veio, choveu durante quarenta dias e quarenta noites, destruiu tudo, salvo Noé, sua família e os animais que levou junto na famosa arca. A vida recomeçou.

A solidão e a tristeza de Deus me comovem. Não se sentirá Ele muito sozinho, sem ter com quem conversar, em tempos de tanta maldade e incompreensão como agora? Terá o Criador alguém com quem desabafar nas horas difíceis?
 
Refiro-me àqueles dias em que Ele olha para a Terra e assiste ao deplorável espetáculo que continua sendo apresentado por homens e mulheres. Como se sente um Pai ao ver os filhos nos descaminhos da perversidade, do puro egoísmo, sem falar na solene indiferença ao sofrimento dos outros? Deve ser muito doloroso.

Espero que Deus perdoe a minha intromissão em seus assuntos de foro íntimo. Ainda mais partindo da milionésima parte de um grão de areia como eu.

O pensamento é o parque de diversões de filósofos, poetas e outros seres inúteis. Essa gente que passa os dias obstinada em encher o saco de Deus como se o Criador não tivesse mais o que fazer.

Eu aqui nessa puta solidão a querer falar da solidão do Todo Poderoso. Tem gente que não se enxerga.