Jorge Adelar Finatto
Melancólica e linda canção. A que nunca teve namorado.
Estava no avião, indo para Buenos Aires, quando ouvi o belo disco Tango, do violonista e guitarrista argentino Luis Salinas. Música instrumental de alta qualidade, oferecida pelo serviço de entretenimento do barco voador.
Nunca tinha ouvido falar em Salinas. Fiquei impressionado com seu talento e com a inspirada seleção de repertório desse disco de 2007.
La que nunca tuvo novio. A melodia nostálgica, suave e doce deste tango de 1930 me levou a encontrar a mulher que nunca teve namorado, que triste!
E a vi horas sem fim na janela, olhando a calle desierta, onde algum moço passava de vez em quando, e ela então sonhava. Mas o moço apenas passava diante de sua janela, todos os moços passavam e se iam para outras moças em outras janelas.
Nunca tinha ouvido falar em Salinas. Fiquei impressionado com seu talento e com a inspirada seleção de repertório desse disco de 2007.
La que nunca tuvo novio. A melodia nostálgica, suave e doce deste tango de 1930 me levou a encontrar a mulher que nunca teve namorado, que triste!
E a vi horas sem fim na janela, olhando a calle desierta, onde algum moço passava de vez em quando, e ela então sonhava. Mas o moço apenas passava diante de sua janela, todos os moços passavam e se iam para outras moças em outras janelas.
Ela morava com a mãe, cuidava da casa e dos sobrinhos. Numa calle com casas coloridas e flores humildes nas janelas, num bairro distante.
Uma ruazinha perdida em Buenos Aires, um lugar escondido de Deus, um ermo esquecido ao sul do planeta. Igual a tantos no mundo. Lá ela morava.
Aos sábados, la que nunca tuvo novio se enfeitava com um vestido florido que ela mesma fizera e se ia pelas ruas do barrio com a sombrinha lilás doendo sob o sol. Olhava as vitrines, conversava na praça com as vizinhas, tomava refresco do vendedor ambulante.
Depois voltava sozinha pra casa por ruas estreitas. Assim passaram-se os anos. As amigas de infância se casaram, depois as filhas delas. A vida passou. E as vizinhas diziam: la que nunca tuvo novio. Pobrecita!
Essas coisas eu vi enquanto ouvia o dedilhado sensível e introspectivo do violão de Luis Salinas. Caminhei pela calle triste da mulher que nunca teve namorado.