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sábado, 29 de março de 2014

Alegrias do meu quintal

Jorge Adelar Finatto
 
photo: j.finatto
 
Tenho alguns pinheiros no quintal de casa, em Passo dos Ausentes. Existem muitos outros no entorno. É o pinheiro brasileiro, que também atende pelo nome científico de araucaria angustifolia.

O pinheiro é uma bela árvore nativa com largas copas côncavas ou convexas, que dá o pinhão como fruto.

Um dos pinheiros aqui de casa é ainda adolescente e acaba de me proporcionar duas alegrias. (O espetáculo da photo acima é do pôr-do-sol sobre as montanhas e pinheiros diante da janela do escritório.)
 
photo: pinheiro adolescente, 28.03.2014. j.finatto

A primeira alegria foi descobrir, enquanto caminhava entre as plantas, na tarde de ontem, escondida nos altos galhos verde-escuros, uma linda pinha.

Do tamanho de uma bola de futebol, ela brilhava generosa e esférica. Fiquei contente como quem descobrisse algo precioso. E de fato é. Pra mim pinheiros, pinhas e pinhões são coisas preciosas.
 
A descoberta desta pinha animou o meu dia. Mas havia a segunda alegria.
 
A segunda alegria foi a descoberta de uma outra pinha, maior ainda que a da primeira alegria, num galho mais alto. Depois de ficar um tempo admirando, resolvi fotografar uma das alegrias e dividi-la com  os leitores do blog.

photo: pinha, 28.3.2014, j.finatto

O destino da pinha, ao atingir a maturidade, é despegar-se do galho e vir ao chão, quebrando-se e espalhando os pinhões sob a umbela do pinheiro.

Os pinhões depois de recolhidos vão para a chapa do fogão a lenha, onde são assados sem pressa, como convém numa casa de montanha regida por relógios de sol.

Uma vez cozidos, é hora de descascá-los e colocá-los num prato com uma pitada de sal. Está pronta uma singela e gostosa iguaria para os dias de outono e inverno.

Se bem me lembro, o tempo dos pinhões é lá pela metade de abril. Enquanto isso, fico admirando as pinhas lá em cima, no aconchego silencioso da umbela.
 

terça-feira, 26 de junho de 2012

A casa do seu Wolf

Jorge Adelar Finatto


photo: j.finatto. Araucária e azul. Passo dos Ausentes.


A casa do seu Wolf era uma construção alemã em estilo bávaro, localizada na rua Lucas de Oliveira, no bairro Petrópolis, em Porto Alegre. Às vezes passo por ali, pois é o caminho que faço a pé para a banca de jornal, quando estou na cidade. Sempre fico feliz de ver que a velha casa continua no mesmo lugar. 

Uma majestosa araucaria angustifolia (pinheiro brasileiro) existe ainda  no pátio em frente. Ao lado, algumas árvores resistem, como abacateiros que, nessa época de início de inverno, exibem rechonchudos abacates. O terreno da casa é íngreme, eleva-se para os fundos numa inclinação acentuada, mede cerca de 25 metros de frente por mais ou menos 100 de comprimento.

Quando tinha nove, dez anos, morei na rua Dona Eugênia, perto do seu Wolf. Havia poucos edifícios. Nas casas simples, algumas de madeira, viviam famílias de origem alemã, negra, portuguesa, uruguaia, judia, italiana e outras, numa diversidade humana típica do nosso país.

Éramos meninos e meninas pobres e remediados, formávamos uma comunidade fraterna. Brincávamos juntos quase todos os dias. Em festas como São João e carnaval,  os adultos participavam. Eram comemorações feitas na rua, especialmente na Lucas.

De vez em quando, no forte verão, o seu Wolf e a mulher dele nos convidavam pra tomar banho na piscina que tinham entre pés de mamão, laranjeiras, uvas e canteiros de verduras. E lá passamos muitas tardes alegres da infância.

Colho essa recordação toda vez que caminho naquela rua.

Sei que a vida de uma araucária pode durar bem mais de 200 anos. Parece muito. No entanto, certas lembranças vivem pela eternidade dentro de nós.

O que o coração diz é que a casa do seu Wolf, há muito tempo, já não é mais apenas a casa do seu Wolf. Um pedaço da nossa infância está lá, à sombra do vetusto pinheiro.