terça-feira, 16 de outubro de 2012

Por quem choras, Maria Filipa?

Jorge Adelar Finatto 

photo: j.finatto. Amsterdam

 
Choravas à beira do canal na tarde de domingo.

Me olhaste com os olhos mais tristes do mundo. Passageiro efêmero no barco, numa cidade distante e povoada de labirintos, eu nada podia fazer.

Eu estava de passagem entre um cais e outro, um quarto e outro, um deserto e outro.
 
Devia talvez ter me jogado nas águas turvas daquela tarde de domingo em Amsterdam. Nada era mais importante do que ir ao teu encontro.

Devia ter passado o resto do dia contigo, em silêncio, ali naquele banco, sem nada dizer (palavras só atrapalham).

photo: j.finatto. Amsterdam
 
Quem mastigou teu coração, pisou em cima e depois jogou no fundo das águas?

Por quem choras, Maria Filipa?
 
A cara de anjo, o capuz azul da solidão, os olhos mais tristes acompanhando o barco que passava, me olhavas.

Da minha solidão eu te acenei.
 
Foi tudo que fiz dentro do barco inútil. Mas por um instante tuas lágrimas secaram e teu olhar seguiu a embarcação. Depois tua cabeça caiu sobre o colo outra vez, onde tuas mãos pálidas repousavam.

photo: j.finatto. Amsterdam

O barco sumiu sob as pontes. 
 
Entre dois cais, entre dois nadas.