Jorge Adelar Finatto
Agora que a literatura morreu, escrever e ler são atos póstumos, libertos da concorrência e da busca frenética pelos holofotes. Pelo que dizem os arautos do apocalipse, a essa altura somos todos, escritores e leitores, uns pobres moribundos à beira do crematório literário.
Mas não convém perder a esperança. Poupemos o último suspiro.
Alguns observadores, menos funestos, afirmam que os livros estão perdendo a face humana. É verdade. A estética e a ética da publicidade, em estreita harmonia com o deus mercado, tomaram conta do mundo dos livros (e de outros mundos), antes um território de culto à beleza e ao espírito.
Alguns observadores, menos funestos, afirmam que os livros estão perdendo a face humana. É verdade. A estética e a ética da publicidade, em estreita harmonia com o deus mercado, tomaram conta do mundo dos livros (e de outros mundos), antes um território de culto à beleza e ao espírito.
Podemos estar vivendo o crepúsculo da era de Gutenberg. O livro como objeto de arte e de cultura tem um futuro incerto pela frente. Menos pelo surgimento de novos meios de leitura, como o livro eletrônico, e muito mais pela perda de valor intrínseco do que se publica.
Há um estrangulamento de sentido na literatura (o que
não vende não tem significado nesse universo - ou é digno de pena).
A literatura passa por um tempo de anemia como todo o resto.
Excesso de autores e de obras, pouca inventividade, rasa originalidade (incluindo cópia de textos alheios na cara dura sem menção das fontes) são alguns dos componentes deste quadro.
A banalização da palavra, o surgimento de
escritores com pouca ou nenhuma leitura, a onipresença da linguagem padronizada à maneira fast-food levam ao previsível esgotamento de um certo tipo de literatura.
A palavra não morre. O que morre é a literatura frívola, insípida e mercantil, que pouco ou nada oferece.
Nem tudo está perdido. Há escritores dignos deste nome para além dos fogos de artifício, da lista dos
mais vendidos, dos modismos, do marketing pessoal, do texto embromador que se
escreve com óculos escuros e de olho no dinheiro e na fama.
A boa literatura é um território luminoso, um lugar que não diminui o ser humano.
O importante, penso eu, é não parar de procurar a alegria
que só os livros podem nos dar.
Os clássicos estão sempre aí e é possível identificar, entre os novos, autores que têm algo a dizer. Não desistir da condição de leitor é uma luta que ainda vale o esforço.
Os clássicos estão sempre aí e é possível identificar, entre os novos, autores que têm algo a dizer. Não desistir da condição de leitor é uma luta que ainda vale o esforço.
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foto de livros antigos. fonte: freepik.com