Jorge Finatto
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O jovem leitor afeiçoou-se ao poeta. Compartilhou com ele, mais do que palavras, a viva vida que elas expressam. E como diziam coisas as palavras do bardo itabirano!
Havia entre poeta e leitor uma secreta cumplicidade. Um andar juntos pelo mundo. Uma troca de confidências, alegrias, queixas, protestos, malquereres, desertos, amores e esperanças. O invisível amigo percorria com o moço os duros caminhos da vida.
Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) será sempre o lúcido, o lírico, justo enlace razão-emoção, construtor de versos indeléveis na língua universal da poesia. Enquanto houver livros e leitores, Drummond será sinônimo de altíssima poesia e claro pensamento.
O ser-no-mundo, às vezes cambaio, às vezes indescritivelmente só, mas sempre comprometido com a vida em sua humana jornada.
O poeta não se esquivava e respondia as cartas que lhe chegavam todos os dias. Generoso, sabia colocar-se, não acima, mas ao lado do leitor que o procurava ávido por um contato, mínimo que fosse. Respondia com incomum e delicada atenção.
Quando escreveu, na resposta, o nome do missivista interiorano, manuscrito com tinta azul na folha branca (que o tempo esmaeceu), retirou-o do anonimato, reconheceu-lhe a existência, tratou-o como um semelhante.
Quando escreveu, na resposta, o nome do missivista interiorano, manuscrito com tinta azul na folha branca (que o tempo esmaeceu), retirou-o do anonimato, reconheceu-lhe a existência, tratou-o como um semelhante.
Sensível ao outro, ele sabia que o poema só existe quando desvelado aos olhos do cúmplice leitor. A carta que dele recebi é, para mim, verdadeira relíquia literária e sentimental guardada no cofre do coração.
Drummond fez um imenso bem à minha alma, aos meus dias de juventude e aos dias que vieram depois. Neste 31 de outubro, em que se comemoram seus 118 anos de vida (vida estendida no numeroso testamento da palavra), renovo a emoção de abraçá-lo com amor de leitor. Afeto que o tempo não apaga.