Imagino o que os habitantes da Arca de Noé devem ter sentido quando as águas do Dilúvio baixaram e puderam olhar o azul do céu outra vez. Hoje, depois de muitos dias de pandemia, chuva, frio, ventania, ciclone bomba, enchentes, mortos e desabrigados, e sem poder ver uma nesga de céu claro, o dia amanheceu azulzinho. Abri a janela do escritório e respirei aquele azul.
Como tinha sede do Sol, desci a escada Santos Dumont e fui para o nosso jardim. Um pouco maltratadas com o mau tempo, as rosas estavam lá ainda. E as camélias, as magnólias, as azaleias, as flores de mel, as éricas também. Fiquei ali com elas, apanhando sol.
Depois fui recolher galhos e gravetos que caíram com a tempestade, para acender o fogão a lenha. Cada movimento com calma, como se o mundo estivesse começando agora. E fosse preciso viver essas primeiras horas com a delicadeza e o espanto de uma borboleta.