Jorge Adelar Finatto
"Sei que algum dia os brasileiros vão descobrir melhor Cley." Julio Cortázar
Volto ao livro Papéis Inesperados, de Julio Cortázar, sobre o qual escrevi semana passada. Um texto me chama a atenção, aquele em que Cortázar fala a respeito de seu amigo Cley Gama de Carvalho, que ele apresenta como jornalista e dramaturgo brasileiro. Impressiona o afeto, e também o respeito, que havia entre eles. Conheceram-se em Paris quando Cley fez uma entrevista com o escritor argentino.
Não eram amigos de se ver todo dia, mas de vez em quando, a intervalos de dois anos, em geral. Quando Cortázar lhe perguntava, pessoalmente ou através de carta, como estava, a resposta era sempre a mesma: tudo bem.
Mas o escritor pressentia que as coisas não iam bem com o amigo, pelo contrário. Eram os anos dos governos de força neste lado do mundo e Cley teve sérios problemas com a ditadura militar no Brasil. Cortázar não sabia detalhes do que acontecia, pois Cley não era de lamentar-se e evitava o assunto. Mas sentia que a realidade, a cada dia, pressionava mais e mais o brasileiro.
Não eram amigos de se ver todo dia, mas de vez em quando, a intervalos de dois anos, em geral. Quando Cortázar lhe perguntava, pessoalmente ou através de carta, como estava, a resposta era sempre a mesma: tudo bem.
Mas o escritor pressentia que as coisas não iam bem com o amigo, pelo contrário. Eram os anos dos governos de força neste lado do mundo e Cley teve sérios problemas com a ditadura militar no Brasil. Cortázar não sabia detalhes do que acontecia, pois Cley não era de lamentar-se e evitava o assunto. Mas sentia que a realidade, a cada dia, pressionava mais e mais o brasileiro.
É um texto cálido sobre o amigo que se suicidou no Brasil, no final de 1976 ou inícios de 1977, não há precisão. O companheiro que enviava garrafas de cachaça, pelo correio, para Cortázar enfrentar o inverno.
O argentino refere-se, também, à peça de teatro que Cley escreveu, intitulada Cromossomos (Como somos), e que considera "magnífica", "cuja representação no Brasil não havia servido exatamente para facilitar a vida e a tranquilidade de Cley". Esse elogio, vindo do criador de Histórias de Cronópios e de Famas, tem que ser bem apreciado.
O argentino refere-se, também, à peça de teatro que Cley escreveu, intitulada Cromossomos (Como somos), e que considera "magnífica", "cuja representação no Brasil não havia servido exatamente para facilitar a vida e a tranquilidade de Cley". Esse elogio, vindo do criador de Histórias de Cronópios e de Famas, tem que ser bem apreciado.
Nunca ouvira falar antes de Cley Gama de Carvalho até ler este texto. Tentei encontrar alguma informação sobre ele, algum trabalho de sua autoria, mas muito pouco consegui até agora. Vou continuar atento. Afinal, pelo que diz Cortázar (poderia haver melhor testemunha?), foi uma pessoa muito especial e um autor importante:
"algum dia os paulistas, todos os brasileiros, saberão melhor quem foi Cley Gama de Carvalho, como passou por seu tempo com uma dignidade de grande urso livre, com um sorriso calado de ironia sem maldade".
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Papéis Inesperados, Julio Cortázar. Para uma imagem de Cley, pp. 367/372. Editora Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 2010.
Foto: Julio Cortázar. Fonte: www.juliocortazar.com.ar Nota do blog: o crédito será dado ao autor da foto tão logo tenhamos a informação.
Leia também Urso solitário, do artista plástico Mario Gruber sobre Cley:
http://www.memorial.org.br/acervo/obras-de-arte/homenagem-a-clay-gama-de-carvalho/urso-solitario/
Foto: Julio Cortázar. Fonte: www.juliocortazar.com.ar Nota do blog: o crédito será dado ao autor da foto tão logo tenhamos a informação.
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http://www.memorial.org.br/acervo/obras-de-arte/homenagem-a-clay-gama-de-carvalho/urso-solitario/